Um dos grandes mistérios da história dos Mundiais aconteceu em 1998, durante a final entre a anfitriã França – que acabaria por vencer a prova – e o Brasil. Ronaldo, o Fenómeno, chegava ao jogo decisivo com o estatuto de estrela maior da seleção brasileira e do Mundial, com quatro golos apontados nesse torneio.
No entanto, nesse 12 de julho, assim que as equipas iniciais foram divulgadas, começaram as primeiras interrogações: onde estava Ronaldo? O nome do avançado não constava do onze, sem que houvesse qualquer explicação ou indício de problemas físicos.
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Minutos depois, Ronaldo surgiu em campo e uma nova folha foi distribuída com o seu nome, levando a pensar ter-se tratado de um erro dos serviços de media da FIFA. O mistério parecia estar resolvido, no entanto, a apatia do Fenómeno durante os primeiros minutos do jogo – que acabaria por estender-se ao resto da equipa – adensou o mistério sobre o que teria acontecido à estrela ‘canarinha’.
Ronaldo acabaria por jogar os 90 minutos da final, mas não era o mesmo: parecia ausente do jogo, com a cabeça noutro lugar, condição para a qual também não ajudou o choque com o guarda-redes Fabien Barthez. Seria Zidane a brilhar no relvado do Stade de France, apontando dois dos três golos com que a França derrotou o Brasil.
No final do jogo, o selecionador brasileiro à época, Mário Zagallo deixou escapar que Ronaldo se tinha sentido mal de noite e tivera de ir a um hospital fazer uma bateria de exames.
Sabe-se agora que o avançado sofrera uma convulsão horas antes do encontro, por motivos desconhecidos e que os exames não conseguiram confirmar. E que apesar da apreensão da equipa técnica e dos médicos da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ronaldo optou por jogar a final por sua conta e risco, depois de garantir a Zagallo que estava recuperado.
Edmundo, avançado que deveria substituir Ronaldo na final contra a França, recordou o episódio numa entrevista ao canal ESPN, em 2021. "Quando vi Ronaldo a ter convulsões, saí a gritar pelos corredores. Ele estava roxo, com a língua virada... Os médicos chegaram na hora e conseguiram fazê-lo recuperar a consciência", lembrou.
O antigo avançado não esquece as palavras de Leonardo, na altura jogador e atual diretor desportivo do PSG: "Ele falou assim: 'Esse rapaz não está bem, vai morrer no campo'. Eles convenceram-no a fazer alguns exames em Paris e, enquanto isso, Zagallo decidiu que eu jogaria no lugar dele."
"Quando saiu a ficha de jogo, o meu nome estava entre os titulares. Aí chegou Ronaldo, acompanhado de um dos médicos. Ele reuniu-se com Zagallo por alguns minutos e, à saída, o treinador avisou-me que Ronaldo iria começar o encontro", detalhou Edmundo.
Teorias da conspiração e acusações contra a Nike
Várias hipóteses foram consideradas para o que teria provocado as convulsões de Ronaldo, uma vez que a origem do problema nunca foi desvendada. Uma das versões adiantava que o avançado teria tido uma má reação às infiltrações que recebia para suportar as dores originadas por tendinites nos joelhos.
Outras histórias, mais próximas de teorias da conspiração, apontavam para o envenenamento da comida pelos franceses e para um rumor de que a namorada de então, a atriz e apresentadora Susana Werner, já estaria envolvida com o guarda-redes Júlio César – os dois casaram-se em 2002.
Houve também quem dissesse que o avançado teria jogado alegadamente por pressão da Nike, com a qual tinha contrato, um caso que levou o Fenómeno a responder na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do congresso brasileiro. Nada foi provado.
Quatro anos depois da polémica derrota em 1998, Ronaldo liderou o Brasil à conquista do título mundial e a verdade é que nunca mais se repetiu o problema. Recentemente, o ex-futebolista assumiu que o stress terá sido o principal responsável pelo susto.
"A única coisa que eu posso atribuir a uma convulsão no dia da final da Mundial é realmente esse stress, um stress muito alto, em que estava sob muita pressão e sem nenhum tipo de preparação", afirmou ao avançado numa entrevista recente ao programa "Fantástico".
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