A fluência na língua inglesa e a personalidade de Rúben Amorim vão ser cruciais na relação com a imprensa britânica e com os adeptos do Manchester United, afirmou o académico português Mário Borges.

Este docente na London South Bank University, no Reino Unido, é autor de vários artigos científicos sobre a migração no desporto, em particular no futebol, e estuda o respetivo impacto no desempenho e na integração de treinadores.

"Rúben Amorim pode esperar uma análise detalhada e exigente da sua performance. A comunicação social tende a valorizar o sucesso imediato, mas também coloca grande importância na forma como os treinadores comunicam e na sua interação com os adeptos e media", afirmou Borges à Agência Lusa.

O académico acredita que, "se Rúben Amorim for bem sucedido desportivamente e demonstrar uma boa adaptação cultural, poderá ganhar o respeito da comunicação social".

O técnico português vai protagonizar na sexta-feira a sua primeira conferência de imprensa enquanto novo treinador dos 'Red Devils', na antevisão do jogo contra o Ipswich Town FC no domingo.

Até agora, Amorim apenas falou aos meios de comunicação do clube inglês. O anterior contacto a imprensa britânica foi ainda à frente do Sporting, e ficou famosa uma troca de palavras melindrosa com um repórter da estação de televisão Sky Sports após recusar-se a falar em inglês antes do jogo em Lisboa contra ao Manchester City para a Liga dos Campeões.

Passadas duas semanas, a curiosidade e expetativa em redor do treinador de 39 anos é evidente pela extensa cobertura mediática à sua contratação. Mário Borges acredita que Amorim está a beneficiar do facto de ter sido precedido por compatriotas como José Mourinho, Marco Silva ou Nuno Espírito Santo.

"O sucesso passado dos treinadores portugueses na Premier League criou uma perceção positiva inicial, mas o julgamento dependerá, sobretudo, dos resultados, do seu estilo pessoal de liderança, do estilo de jogo e da comunicação", disse à Lusa.

Professor Auxiliar em Treino Desportivo, Borges começou por se formar em Educação Física e Desporto, em particular nas metodologias de treino. Mais tarde especializou-se e realizou um doutoramento dedicado à migração de treinadores, procurando perceber os "desafios sociais e culturais enfrentados por profissionais do desporto em contextos internacionais".

Em 2022, publicou um artigo com António Rosado, da Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, e Rita de Oliveira, da London South Bank University, intitulado "Treinadores estrangeiros vistos através do discurso mediático", após analisar 257 artigos publicados entre 2012 e 2014 em quatro línguas diferentes.

Neste estudo, identificaram que "a forma como os treinadores estrangeiros em diferentes países, incluindo Portugal, são retratados pela comunicação social varia, mas está principalmente ligada à perceção de sucesso ou insucesso dos treinadores".

"Fatores como estereótipos culturais, o domínio da língua do país de acolhimento e as expectativas de desempenho contribuem para moldar essa perceção. Estes resultados sublinham a importância da consciência cultural e da formação em comunicação", vincou Borges.

No Reino Unido, "destaca-se a forte ênfase no domínio da língua inglesa, na capacidade de adaptação cultural e na compatibilidade com o estilo de jogo local", acrescentou.

No Reino Unido desde 2013, Mário Borges é agora diretor do curso de Treino Desportivo da London South Bank University, onde leciona disciplinas relacionadas com treino e análise desportiva.

Amorim, de 39 anos, deixou o comando técnico do Sporting, com o qual conquistou dois campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça, para assumir o comando técnico do Manchester United, 13.º classificado da Liga inglesa, sucedendo a Erik ten Hag. É, depois de José Mourinho (2016-2018), o segundo português a orientar o clube vencedor três vezes da Liga dos Campeões e 20 vezes campeão inglês, a última vez na época 2012/2013.