O futebol está repleto de superstições e em Stamford Bridge parece existir mais uma: diz respeito aos jogadores (muitos deles de renome) que, desde os tempos de José Mourinho, envergam a camisola com o número 9 do Chelsea e que 'teimam' em não singrar no clube. Muitos nem duraram sequer mais do que uma temporada no clube.

O mais recente nome a ter entrado nesta malfadada lista é o de Pierre-Emerick Aubameyang, que recebeu a tal camisola 9 no início da presente época, contratado pelo Chelsea ao Barcelona, mas que leva apenas três golos em 16 jogos pelo clube (só dez dos quais como titular).

Os 'camisola 9' do Chelsea desde 2004

Jimmy Hasselbaink, o último a brilhar com a '9' do Chelsea

Tudo terá começado no início do presente século, em 2004, quando um velho conhecido do futebol português, Jimmy Floyd Hasselbaink, que por cá brilhou com as camisolas de Campomeiorense e Boavista antes de brilhar pelo Chelsea, Jimmy Floyd Hasselbaink, deixo vaga a camisola 9 que envergava para, a custo-zero, rumar ao Middlesbrough.

Nesse mesmo ano, José Mourinho assumia o cargo de treinador principal do clube londrino. E um dos primeiros reforços, contratado por 7,5 milhões de euros ao Chelsea, foi o ponta-de-lança sérvio Mateja Kezman.

Até defesas e médios passaram pela 'maldição'...

Kezman vinha como fama de goleador (marcava e muito no PSV Eindhoven, onde era uma espécie de sucessor de Ruud Van Niestelroy) e as expetativas em se redor eram até maiores do que em relação a Didier Drogba ou Eidur Gudjohnsen. Talvez por isso, foi o sérvio a receber a camisola 9. Mas seriam os outros dois a singrar, enquanto Kezman durou apenas uma temporada em Stamford Bridge, marcando apenas quatro golos em 24 jogos na Premier Leage antes de ser 'despachado' para o Atlético de Madrid.

Na temporada seguinte foi Hernan Crespo a herdar a camisola 9. O argentino até marcou 13 golos em 2005/06, mas também saiu no final dessa época. E, curiosamente, o dono seguinte do número 9 do Chelsea foi outro jogador que passou por Portugal. Mas estava longe de ser um avançado: Khalid Boulahrouz, defesa neerlandês que anos mais tarde representaria o Sporting. Foi contratado ao Hamburgo em 2006 e assumiu o número da camisola mas tal como Kezman e Crespo partiu logo na época seguinte a vestir a '9' (ao fim de 23 jogos disputados).

Depois de um defesa, um médio: Steve Sidwell. O antigo jogador do Reading faria 25 jogos na temporada de 2007-08, mas sem se conseguir afirmar como titular regular num meio-campo onde pontificavam nomes como Frank Lampard, Michael Essien, Claude Makelele ou Michael Ballack. E, claro está, também Sidwell esteve apenas uma temporada no Chelsea com a camisola 9 vestida, sendo vendido para o Aston Villa.

Seguiu-se o avançado argentino Franco Di Santo. Ainda muito jovem, com apenas 19 anos, não conseguiu ser ele a quebrar a maldição: apenas oito jogos na Premier League pelo Chelsea, sem qualquer golo marcado. No final dessa época, de 2008/09, foi emprestado ao Blackburn e depois vendido ao Wigan.

Torres alivia o mal, mas a maldição não passa

Certamente, seria o senhor que se segue a quebrar essa maldição: Fernando Torres. O espanhol, contratado ao Liverpool a troco de mais de 58 milhões de euros, tinha marcado 81 golos em 142 jogos pelo clube de Anfield, e esperava-se que replicasse essa forma em Londres. Mas Torres terminaria a primeira temporada com apenas um golo em 18 jogos.

Ainda assim, foi o primeiro em largos anos a manter a camisola 9 por mais do que uma temporada. Manteve-se no Chelsea três épocas e, apesar de nunca ter conquistado verdadeiramente os adeptos, o registo de golos foi subindo e até ajudou o clube a conquistar a Champions.

Pensou-se que a maldição estaria ultrapassada, mas era puro engano. A seguir veio mais um jogador com ligações a Portugal: Radamel Falcao, que tinha encantado no FC Porto antes de se mudar para o Atlético de Madrid, de onde seguiu para o Chelsea.

Falcao chegou para colmatar a saída de Diego Costa (que, felizmente para o Chelsea, envergara a camisola 19 e não a 9). Só que o colombiano, emprestado pelo Mónaco, já a contas com muitos problemas físicos, marcou apenas um golo em 12 jogos e o Chelsea não exerceu a opção de compra.

Depois, foi Alvaro Morata, que também esteve longe de encantar. O Chelsea quebrou mesmo o seu recorde de transferências para ir buscar o espanhol, qe mostrara veia goleadora no Real Madrid e na Juventus. Só qe cometeu o erro de lhe dar a camisola 9. Morata entro com tudo e marco oito golos nos oito primeiros jogos. Era desta! A maldição estava quebrada. Mas não...a partir daí foi sempre a descer...os golos deixaram de aparecer, os adeptos fartaram-se e Morata perde a titlaridade para Olivier Giroud. Morata até mudou de número na época seginte (passo a vestir da '29'), mas partiu a meio dessa temporada para não mais voltar aos londrinos.

Quem herdou a camisola 9 foi Gonzalo Higuaín. Mais um a chegar com grandes pregaminhos, mas a ficar-se pelos cinco golos em 18 jogos pelo Chelsea. Os blues, naturalmente, esperavam mais do avançado argentino, então com 31 anos, que chegou por empréstimo da Juventus, e não avançaram para a compra definitiva.

Depois de tantas contratações falhadas para envergarem a '9', a aposta recaiu na prata da casa. Tammy Abraham, formado no clube londrino, vinha de uma boa temporada de empréstimo ao Aston Villa. E até marcou a um bom ritmo: 18 golos em 47 jogos em 2019/20, 12 golos em 32 jogos em 2020/21. Mas não chegou para convencer Thomas Tuchel, que aceitou vendê-lo à Roma de Mourinho.

E eis que surge então, esta época, Aubameyang, para relembrar que a maldição ainda continua: 18 jogos e apenas três golos...