Fechado o capítulo (negro) do Benfica na Europa, uma pergunta impõe-se: como teria sido a campanha dos ‘encarnados’ na Champions com Krovinovic? O croata, recorde-se, não foi inscrito na prova, mas sabendo da influência que o jogador exerce na condução e construção ofensiva da equipa, que, convém não esquecer, saiu da UEFA com apenas um golo marcado, é algo que dá que pensar.
A formação de Rui Vitória continua a não apresentar uma qualidade exibicional de encher o olho, mas há melhorias, melhorias essas que advieram não só da implementação do 4x3x3, mas principalmente da reabilitação do ex-jogador do Rio Ave, que falhou as primeiras jornadas do campeonato devido a lesão.
Basta olhar para a jogada do primeiro golo do Benfica: ataque do Estoril, corte de Luisão, a bola chega a Krovinovic, que dá início a uma autêntica ‘cavalgada’ que só parou quando encontrou Cervi desmarcado nas costas da defesa ‘canarinha. O argentino entregou a Salvio (excelente exibição do extremo), que estava ao segundo poste, e ainda beneficiou de um pequeno desvio, para depois encostar para o fundo da baliza de Moreira. Rápido e mortal.
Os tetracampeões chegavam à vantagem logo aos 13 minutos e o segredo estava na velocidade de jogadores como o croata, a deitar por terra toda a estratégia de um Estoril ousado na forma como se apresentou na Luz, bastante subido no campo e a jogar de forma aberta – Ivo Vieira tinha dito que não ia jogar com ‘autocarros’ e cumpriu – mas que acabaria vítima desse mesmo arrojo. Apesar de tudo, honra seja feita aos homens estorilistas, últimos classificados no campeonato, que ainda conseguiriam fazer tremer a defesa ‘encarnada’, mas já lá vamos.
O Benfica já sabia qual era o ponto fraco deste Estoril e cinco minutos depois, num lance muito semelhante ao do 1-0, voltou a fazer uso dele para chegar ao segundo da noite: nova jogada de contra-ataque, com Krovinovic a isolar Salvio na direita, e o argentino a cruzar para o coração da área, onde Jonas desviou para o interior da baliza. O 16.º golo do brasileiro para o campeonato, 12.º seguido na Luz, chegou a ter contornos de ‘suspense’, depois de João Pinheiro ter recorrido ao videoárbitro para verificar a posição do argentino, logo de seguida validada.
Uma dor de cabeça chamada Evangelista
Os ‘encarnados’ venciam por 2-0 ao fim de quase 20 minutos de jogo, mas qualquer sensação de controlo que a equipa de Rui Vitória pudesse transmitir era pura ilusão. O Estoril não desistiu de atacar e a culpa disso, em grande parte, deve-se a Lucas Evangelista. Porque para falar de Krovinovic, é obrigatório falar igualmente do médio brasileiro, responsável pelas melhores oportunidades dos ‘canarinhos’. O cruzamento para o golo de Kléber, já em cima do intervalo, deu o mote para um segundo tempo mais perigoso por parte dos visitantes, que, independentemente do resultado final, já podiam celebrar o fim de uma travessia no deserto de 765 dias.
Mas o Estoril ainda tinha mais para dar e logo no recomeço da partida, André Claro encontrou Lucas Evangelista sem qualquer marcação, com o jogador a rematar em zona central para uma grande defesa de Bruno Varela, também ele importante no triunfo da formação benfiquista – Svilar terá de fazer das tripas coração se quiser recuperar a titularidade na baliza ‘encarnada’.
Nesta altura, parecia estar mais perto o 2-2 que o 3-1, mas como isto das aparências nunca é de fiar, Krovinovic (59’), que para além de veloz também é inteligente, decidiu simular o remate à entrada da área, para depois dar a Cervi mais à esquerda. Com a defesa estorilista ‘aos papéis’, o argentino cruzou rasteiro para o croata, que já estava na área, pronto para desviar para o terceiro. No final do encontro, Rui Vitória elogiou a intensidade com que o médio do Benfica joga e projetou-lhe um “futuro risonho”. Neste momento, é o Benfica quem ‘sorri’ com Krovinovic.
Videoárbitro, uma vez mais
O Benfica voltava a sossegar com nova vantagem de dois golos sobre o adversário, mas a verdade é que o Estoril continuava vivo, e um jejum de 765 dias não se mata só com um golo. Ao minuto 67, Kléber voltaria a reduzir, aproveitando um corte defeituoso de Grimaldo e uma defesa incompleta de Varela. Desta vez, com uma diferença. João Pinheiro voltou a recorrer ao videoárbitro, que indicou que o desvio do brasileiro teria sido feito com o braço. Golo, portanto, invalidado.
Até ao apito final ainda houve uma tentativa aqui e acolá de incomodar os guarda-redes das duas equipas, mas o Benfica acabaria mesmo por segurar o 3-1, graças a um arranque promissor, estando agora com os mesmos pontos que o FC Porto, que só joga este domingo – o Sporting não perdeu terreno no Bessa e está isolado na liderança. Quanto ao Estoril, que já leva 11 jogos seguidos sem vencer para o campeonato, sai da Luz sem ‘autocarros’ e de peito erguido.
Têm a palavra os treinadores
Rui Vitória, treinador do Benfica: "Foi um jogo muito bem disputado, contra uma equipa que tem qualidade, que demonstrou que está a querer sair do lugar em que está. Fomos uma equipa que a períodos teve qualidade, sabíamos o que tínhamos de fazer, sabíamos que era preciso mudar o chip. Fizemos três golos, podíamos ter feito mais, mas é necessário realçar que o Estoril tem jovens com qualidade, que saem muito bem para o ataque e até isso soubemos controlar bem. Foi uma vitória inteiramente justa."
Ivo Vieira, treinador do Estoril: "Tivemos um comportamento aceitável para bom, frente a uma boa equipa, que jogava no seu estádio e perante o seu público. As derrotas normalmente não dão confiança a equipa nenhuma, mas os jogadores tiveram um bom comportamento. Tinha-lhes dito que tínhamos de ter bola, tínhamos de atacar, tínhamos de criar oportunidades de golo e fizemos isso tudo, a partir daí a equipa ganha confiança, claro."
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