A alegria e boa disposição inundaram o Centro Desportivo e Cultural da Biquinha, onde os vizinhos fizeram fila para levar alguns dos 2.000 pães que o triunfo "arsenalista" garantiu aos moradores, após promessa materializada por José Oliveira, padeiro, presidente do clube do bairro matosinhense e sobrinho do treinador Domingos Paciência.

"A ideia surgiu quando vi o Jorge Jesus contra o Nacional a fazer o gesto dos quatro dedos. Lembrei-me que na semana seguinte podia fazer-lhe os cinco dedos. Infelizmente não posso, não jogo. Então surgiu a ideia de oferecer 1.000 pães por cada golo que o Braga marcasse ao Benfica. Falei com o meu patrão, que aceitou logo", disse o "pipoca".

À hora marcada, os fregueses apareceram munidos de sacas plásticas para, com humor, garantir os seus "20 pãezinhos, 18 frescos e dois secos", todos muito agradecidos ao Sporting de Braga e a quem teve a ideia.

"O Braga havia era de dar 5-0 para serem 5.000 pães. Dois mil não chega, pois há muita pobreza no bairro. Levo 20 para as minhas vizinhas. Felizmente eu não preciso. Eles (benfiquistas) tinham a mania que iam dar sete ou oito, como aos pequenos. Saiu-lhes o tiro pela culatra e levaram 2-0", atirou Jorge Monteiro.

Maria Fernanda não esqueceu a saquinha, mas nem sabia bem a que se devia tão gentil oferta, preocupando-se apenas em garantir que não liga à política.
"Não sou de partido nenhum", vincou, momentos antes de saber da história e aí dar repetidos "vivas" ao Sporting de Braga.

A senhora Antónia, directora do Centro Desportivo e Cultural da Biquinha, assegurava a democraticidade da oferta: "Se não fosse o Braga a ganhar, não levavam pãozinho. Mas os benfiquistas também têm direito".

José Oliveira garante mesmo que foram vários os benquistas a aderir à iniciativa e levar pão para casa, lembrando que "há muita gente necessitada" no bairro e que "as pessoas da Biquinha merecem tudo".

"Há pão para toda a gente. O pão seco é para o Jesus", gracejava, enquanto se multiplicava a atender a todos os pedidos.
Domingos Paciência, treinador do Sporting de Braga, ficou a saber da iniciativa do sobrinho, classificando-o como "louco" por avançar com um projecto destes.

"Ele disse que eu era maluco em estar a oferecer 1.000 pães. Se calhar pensou que ia dar uma goleada ao Benfica e que eu ia ter muito trabalho. Já estava a contar com 5.000 pães, por isso isto não é prejuízo nenhum", afirmou.

O promotor preferia ter "mais trabalho com uns 5-0" e, mais a sério, considerou que os bracarenses têm revelado uma "grande equipa": "Sou portista, mas tenho o meu tio em Braga e tenho muito orgulho nele, pelo que gostava que fosse campeão".

"Abre-se a meio e meto o 'seco', que é do Benfica, dentro do do Braga e a sandes está feita", resumiu Alberto Possante, salgueirista reformado, envergando, "orgulhoso", o cachecol do Biquinha.

Se o Sporting de Braga se mantiver na liderança na altura do Natal, José Oliveira promete avançar com nova iniciativa, cujo teor preferiu não revelar.