Dois opositores inéditos procuram contrariar este sábado e domingo o favoritismo de Pinto da Costa ao 15.º mandato presidencial consecutivo no FC Porto, compondo as eleições mais concorridas do líder da I Liga de futebol em 38 anos.
Para tomarem posse como o 34.º presidente dos ‘dragões’ rumo ao quadriénio 2020-2024, Nuno Lobo (lista B) e José Fernando Rio (C) terão de superar o histórico estatuto de Jorge Nuno Pinto da Costa (A), o mais antigo e titulado dirigente do futebol mundial no ativo, que chegou ao poder em 17 de abril de 1982, com 95% dos votos.
Os 60 títulos no futebol e mais umas largas centenas nas modalidades ajudaram a virar o FC Porto do avesso nas últimas quatro décadas, mas caíram a pique a partir do tricampeonato na época 2012/13, ao ponto de os ‘azuis e brancos’ terem conquistado apenas uma I Liga e duas Supertaças nos últimos 20 cetros nacionais possíveis.
Pinto da Costa, de 82 anos, renovou o mandato em abril de 2016, registando 79% das preferências de 2.403 associados e 504 votos nulos sem concorrência nas urnas, que fixaram o triunfo eleitoral mais magro no século XXI, depois da imposição do regime de 'fair-play' financeiro pela UEFA, em função das sucessivas contas negativas do clube.
Envolvido na luta pela reconquista da Liga e da Taça de Portugal com o rival Benfica, após a pausa motivada pela pandemia de covid-19, o líder portista formalizou em 27 de maio uma recandidatura focada na remodelação administrativa, desportiva e financeira de uma instituição com prejuízos de 52 milhões de euros no primeiro semestre de 2019/20.
O elenco diretivo mudou quatro dos 13 rostos e inclui os empresários José Américo Amorim e Paulo Mendes, que substituem Eduardo Valente e Emídio Gomes, enquanto o antigo guarda-redes Vítor Baía regressa para assumir a pasta do futebol profissional e o ‘bibota’ e diretor de prospeção Fernando Gomes passará a dirigir as camadas jovens.
Em negociações para a venda do ‘naming’ do Estádio do Dragão, Pinto da Costa prometeu edificar a Cidade do FC Porto e manter modalidades competitivas, sendo acompanhado por Lourenço Pinto (Mesa da Assembleia Geral), Jorge Guimarães (Conselho Fiscal e Disciplinar) e o autarca portuense Rui Moreira (Conselho Superior).
Usufruir da formação para aquilatar o plantel principal, reequilibrar o passivo de 445 milhões de euros e conservar a posição maioritária na SAD são ideais partilhados com Nuno Lobo e José Fernando Rio, apoiantes de um sufrágio alheio à dívida de gratidão dos sócios que permita antecipar a despedida anunciada do presidente ‘azul e branco’.
O jurista, de 52 anos, trabalhou como comentador no Porto Canal e na RTP3 e foi o primeiro a declarar a intenção de entrar na corrida eleitoral, em 01 de março, propondo uma reestruturação da dívida, em cooperação com os vice-presidentes Miguel Magalhães e Nuno Nunes, assente na redução da folha salarial de jogadores e administradores.
Sob o lema “Mudar para Vencer”, José Fernando Rio quer reforçar a representatividade nas instituições desportivas, centralizar direitos televisivos e fortalecer o ecletismo graças à aposta no futsal, à dinamização dos desportos femininos e à reativação do atletismo e do voleibol masculino, amparado por uma nova academia e outro pavilhão.
Apologista de um clube com o mínimo de elementos comuns à SAD e sem trunfos revelados para ajudar a comandar o futebol, o ex-gestor escolheu mais 12 diretores, além de André Navarro de Noronha (Mesa da Assembleia Geral), José da Costa Veloso (Conselho Fiscal e Disciplinar) e Álvaro Teles de Menezes (Conselho Superior).
A inexperiência no futebol e a inversão de rumo preconizada por José Fernando Rio confundem-se com o programa de Nuno Lobo, de 50 anos, que lança o mote “Sim, Somos Porto” para projetar uma academia, tetos salariais na SAD e modalidades autossuficientes, abrangendo andebol e futebol feminino, futsal e voleibol masculino.
Entre as 250 propostas do empresário, o último aspirante a entrar no sufrágio, estão ainda um centro de estágio, a negociação dos direitos de designação das infraestruturas, o crescimento até aos 150 mil sócios pagantes, uma política expansionista de ‘merchandising’ e o fortalecimento de elos com parceiros, adeptos e a própria cidade.
Com passado nas claques do FC Porto, Nuno Lobo deseja assumir a estrutura do futebol e delegar poderes pelos restantes 12 diretores, contando também com Franco Araújo Ramos (Assembleia Geral), António Nunes (Conselho Fiscal) e José Martins Soares (Conselho Superior), até aqui o único adversário de Pinto da Costa, em 1988 e 1991.
Já o movimento autónomo “Por um Porto insubmisso, eclético e triunfante” (lista D) autoexcluiu-se desta invulgar votação e almeja a revitalização do Conselho Superior, sob coordenação de Miguel Brás da Cunha, sugerindo novas modalidades, alterações estatutárias e remunerações dos corpos dirigentes ditadas pelo sucesso desportivo.
Previstas para 18 de abril e adiadas devido ao novo coronavírus, as eleições dos órgãos sociais do FC Porto para o próximo quadriénio repartem-se entre sábado e domingo, das 10:00 às 19:00 horas, para evitar a acumulação de associados no Dragão Arena.
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