O campeonato da I Liga portuguesa de futebol 2020/21, que arranca na sexta-feira, “vai ser um pandemónio” devido à pandemia de covid-19 e a verdade desportiva pode mesmo ficar comprometida, segundo o treinador Augusto Inácio.
Num ‘olhar’ sobre a época que se avizinha, o técnico que em 1999/2000 quebrou um jejum de títulos de 18 anos do Sporting colocou-se “no lugar dos treinadores” que estão à frente das equipas “a sofrer e a congeminar ideias que depois podem não se concretizar” e não teve dúvidas quando questionado se a verdade desportiva pode ser afetada.
“Pode, claro que pode! Porque depende daquilo que é o contágio que uma equipa pode ter em relação a outra e é evidente que aquele que tiver menos problemas desses está em vantagem e poderá tirar dividendos de toda esta situação que não é agradável para ninguém”, vaticinou o antigo lateral do Sporting e do FC Porto.
Nesse sentido, Augusto Inácio explicou que, devido aos efeitos da pandemia, “não há um fio condutor de trabalho que possa garantir automatismos, ritmos, competitividade” às equipas e que “fisicamente, umas podem estar mais debilitadas do que as outras conforme os seus jogadores estiverem com os efeitos da covid-19”.
“Vai ser um campeonato muito esquisito, em que pode haver uma equipa que jogue hoje e daqui a três dias, mas se tiver três ou quatro infetados já não podem jogar. Ou então tem de estar em confinamento, perde condição física”, apontou.
Até por isso, e no que diz respeito à luta pelo título, o treinador de 65 anos, realçou que apesar do orçamento “brutal” do Benfica, que contratou jogadores “a preços nunca praticados em Portugal”, isso “não quer dizer que tenha uma superequipa ou que tenham mais poder em termos de favoritismo”.
“As coisas não são assim, até porque a pandemia pode ter alguma influência. Mas, sinceramente, parece-me que o FC Porto está estável. Não mexeu muito, não contratou muito, também não saiu muita gente. A base está lá, o treinador é o mesmo. São uma equipa uma para a outra. Não se pode dizer que o Benfica só por ter este investimento é mais favorito ou que o FC Porto por ser campeão é mais favorito do que o Benfica. Creio que temos aqui dois competidores sérios para qualquer um deles poder ganhar o campeonato”, analisou.
Sobre o Sporting, Inácio assumiu que “é sempre candidato”, pela sua história, mas tem “menos argumentos que FC Porto e Benfica” porque lhe “faltam os jogadores que desequilibrem a balança quando as coisas podem não estar fáceis para ganhar” um jogo.
“É esse atributo que têm essas grandes equipas, que de um momento para outro tiram um coelho da cartola porque há um jogador que faz uma jogada genial ou provoca faltas que podem dar golo. O Sporting não tem esse jogador genial, desequilibrador, é uma equipa que está à procura de uma identidade própria, já trabalhada desde a época passada, mas que perdeu alguns jogadores importantes”, analisou o técnico.
Sobre as outras equipas da I Liga, o técnico que conta passagens por clubes como Vitória de Guimarães, Marítimo, Beira-Mar e Desportivo das Aves, entre outros, mostrou-se expectante relativamente a Boavista e Vitória de Guimarães, além de “um Sporting de Braga que quer galgar patamares para chegar mais perto dos ‘grandes’”.
“Embora o presidente [do Sporting de Braga] diga que já está a equivaler-se ao Sporting, tem de provar isso. Tem argumentos para se intrometer e complicar a vida aos ‘grandes’. E este campeonato, cada jogo que houver, vai ser uma luta para ganhar os três pontos”, concluiu.
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