A paragem da I Liga portuguesa de futebol por quase três meses devido à pandemia de covid-19 pode favorecer o Benfica na luta com o FC Porto pelo título de campeão, defendeu o treinador Augusto Inácio.
A suspensão da prova deixou o FC Porto na liderança, com 60 pontos, e o Benfica em segundo lugar, com 59, numa fase em que os ‘dragões’ tinham acabado de consumar a ultrapassagem aos ‘encarnados’, após recuperarem sete pontos de desvantagem.
Por isso, o antigo internacional português, de 65 anos, assegurou, em entrevista à Lusa, que as fases distintas que os dois rivais viviam podem agora ter sido anuladas.
“A paragem foi mais benéfica para o Benfica do que para o FC Porto. O futebol é o momento: o momento em que uma equipa está melhor do que outra, em que está psicologicamente mais forte e embalada numa série de resultados positivos, galvanizando jogadores e adeptos. Claramente, o Benfica é o mais beneficiado e recupera jogadores importantes”, afirmou.
Para Augusto Inácio, a interrupção da I Liga poderá ter tido igualmente um papel potencialmente positivo para o Sporting, na medida em que trouxe o tempo que escasseava ao técnico Rúben Amorim para trabalhar e implementar as suas ideias, depois de ter cumprido somente um jogo à frente dos ‘leões’ [vitória sobre o Desportivo das Aves, por 2-0]. E isso pode ter impacto na corrida com o Sporting de Braga pelo terceiro lugar.
“Os treinadores precisam de tempo para treinarem e para conhecerem melhor os jogadores. E os jogadores também precisam de tempo para conhecerem melhor as ideias do treinador, ainda por cima num sistema ao qual os jogadores não estão habituados, o que requer tempo e rotinas. É evidente que, com a paragem, teve de se fazer uma pré-época, mas para as ideias do jogo houve tempo para trabalhar isso e o Sporting foi beneficiado pela paragem”, sublinhou.
Contudo, o experiente treinador, que já passou por mais de uma dezena de clubes portugueses, considerou que o campeonato não devia ser retomado.
Inácio alegou dúvidas sobre o impacto que um eventual caso positivo de um jogador possa ter no rumo da prova, além de criticar a dualidade das autoridades, ao aprovarem a conclusão da I Liga e rejeitarem o mesmo para o segundo escalão.
“Acho que o campeonato não se devia ter reatado, porque se aparecer algum jogador que acuse positivo, o que é que vai acontecer? O lado económico prevaleceu mais do que a saúde dos jogadores. Se a vertente económica não estivesse bem presente, o campeonato não se reatava. Tanto assim é que não deixaram jogar a II Liga, isso foi uma decisão errada. Se foi em nome da saúde pública, porque é que não o foi também na I Liga?”, observou, respondendo de imediato à própria questão: “É por causa dos milhões da NOS e da Altice”.
Por outro lado, Augusto Inácio destacou os receios com a saúde dos futebolistas. Confessando, como antigo jogador, que “teria muito medo” se fosse ele a ter de regressar aos relvados nestas condições, concluindo que “não iria tranquilo para um jogo de futebol”, uma vez que só um caso positivo poderá instalar o “pânico” sobre a competição.
A I Liga vai ser reatada sob fortes restrições e sem público nos estádios na quarta-feira, com o encontro entre Portimonense e Gil Vicente, naquele que vai ser o primeiro dos 90 jogos das últimas 10 jornadas, até 26 de julho.
Além do principal escalão, também a final da Taça de Portugal, entre Benfica e FC Porto, integra o plano de desconfinamento face à pandemia de covid-19, ainda em data e local a designar.
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