Luís Filipe Vieira foi reeleito, esta quinta-feira, presidente do Benfica depois do anuncio do presidente da Mesa da Assembleia Geral do Clube, Virgílio Duque Vieira.
Recorde de votos
Às 00:32 tinham votado 37.619 sócios, número que supera largamente o recorde de 2012, quando 22.676 eleitores escolheram Luís Filipe Vieira em detrimento do juiz Rui Rangel, uma preferência de 83,02 por cento dos votos.
Ao longo do dia foram muitos os associados a marcarem presença no Estádio da Luz, onde decorre a votação no Pavilhão nº 2, com tempos de espera entre duas a três horas, mas também em 24 casas do clube pelo país.
Segundo o Benfica, a faixa etária entre os 35 e 44 anos foi a que teve mais votantes, seguida do grupo de mais de 65 anos.
Os candidatos (e as ideias)
Na história do clube é apenas a sétima vez que concorrem três listas à liderança, e apenas não existe o recorde de quatro porque a candidatura da lista C, encabeçada por Luís Miguel David, e proposta por Bruno Costa Carvalho, se retirou. A alteração dos estatutos do Benfica, que passaram a exigir 25 anos consecutivos de sócio efetivo para concorrer à presidência do clube, levaram a que Bruno Costa Carvalho, que tem menos anos de associado, cedesse inicialmente o lugar de cabeça de lista a Luís Miguel David.
Entretanto, a decisão da desistência foi anunciada num comunicado publicado pelo próprio Bruno Costa Carvalho na sua página oficial no Facebook.
Com esta desistência, a escolha dos benfiquistas ficou entre a lista A de Luís Filipe Vieira, de 71 anos, o presidente em exercício e a pessoa com mais tempo na liderança do Benfica, há 17 anos, desde 2003, e os antigos vice-presidentes Noronha Lopes e Rui Gomes da Silva.
João Noronha Lopes, de 54 anos, gestor, iniciou a sua participação ativa no clube ainda em 2000, quando fez parte de um movimento que impulsionou a chegada de Manuel Vilarinho à liderança, então numa fase crítica na vida do emblema lisboeta e derrotando Vale e Azevedo.
O gestor admite o crescimento do clube, mas lamenta vários episódios controversos, como a Oferta Pública de Aquisição (OPA) ilegal sobre as ações da SAD ou a reprovação do orçamento para 2020/21, pugnando pelo fim de ciclo com a ajuda de um diretor desportivo, que tutele o futebol e fomente parcerias internacionais.
As 87 medidas do desígnio “A Glória é agora” visam também a realização de auditorias externas ao clube e à SAD, uma gestão transparente e sólida no plano financeiro, a limitação estatutária de três mandatos presidenciais, o reforço do papel dos associados, o investimento em infraestruturas tecnológicas e a oferta de novos serviços digitais.
Garantindo ter recusado um convite de Luís Filipe Vieira, Noronha Lopes, gestor e antigo ‘vice’ de Manuel Vilarinho, escolheu José Theotónio para o Conselho Fiscal e recebeu o apoio do movimento ‘Servir o Benfica’, liderado por Francisco Benítez, que abdicou da corrida presidencial para se candidatar à Mesa da Assembleia Geral.
O candidato da lista B foi ‘vice’ de Vilarinho, e Rui Gomes da Silva (lista D), advogado e antigo ministro, de 62 anos, ex-hoquista do clube, foi ‘vice’ de Luís Filipe Vieira entre 2009 e 2016, mas do qual se tornou crítico.
Na companhia de António Lourenço (Mesa da Assembleia Geral) e João Antunes (Conselho Fiscal), o programa “O Benfica é nosso” quer um diretor-geral para o futebol e direitos televisivos centralizados, afasta a venda da maioria do capital da SAD, equaciona o regresso do ciclismo e pretende um clube autónomo na relação com os empresários.
O palmarés de Vieira
Empenhado na revitalização do Benfica, após contrariedades desportivas e financeiras sentidas em plena viragem do milénio, o dirigente lisboeta esteve envolvido na edificação do novo Estádio da Luz e do Centro de estágios do Seixal e na conquista de sete campeonatos, três Taças de Portugal, sete Taças da Liga e cinco Supertaças Cândido Oliveira.
Os ‘encarnados’ registaram ainda duas finais perdidas da Liga Europa e a melhor década das modalidades, arrecadaram quase 480 milhões de euros na venda de talentos da formação e acumulam sete anos consecutivos de lucros, embora tenham enfraquecido os desempenhos na Liga dos Campeões e falhado o ‘pentacampeonato’ diante do FC Porto.
Na esfera judicial, os sete processos implicados desde 2015 mancham a reputação do Benfica, que viu Luís Filipe Vieira ser constituído arguido em julho por crimes de fraude fiscal no caso Saco Azul, dois meses antes da acusação de oferta indevida de vantagem na operação Lex, enquanto sugeria estar a abraçar a recandidatura ao último mandato.
O elenco diretivo mudou três dos nove rostos e inclui como vice-presidente Rui Costa, ex-futebolista, atual administrador da SAD e pretenso herdeiro ao trono ‘encarnado’, além da aposta inédita em Rui Pereira, advogado e ex-ministro da Administração Interna (Mesa da Assembleia Geral), e o retorno de Fernando Fonseca Santos (Conselho Fiscal).
Sob o lema “Uma história com futuro”, Luís Filipe Vieira, de 71 anos, mostrou ‘trunfos’ eleitorais no verão, quando consumou o regresso do treinador Jorge Jesus à Luz, enquadrado por um investimento sem precedentes no futebol luso, de 98,5 milhões de euros, contrapondo a contenção universal no mercado devido à pandemia de covid-19.
O empresário teve de reformular a comissão de honra de apoio à recandidatura, na qual constavam deputados e autarcas no ativo, com o primeiro-ministro António Costa à cabeça, e nunca enfrentou tantos oponentes como agora, sendo criticado pela falta de debates, apesar das metas comuns em reconquistar o campeonato e a glória europeia.
Comentários