No universo encarnado poucos eram os que esperavam facilidades em Moreira de Cónegos. Para além de não atravessarem a melhor fase da época, as águias sabiam que pela frente teriam a terceira melhor defesa do campeonato. Melhor só mesmo os encarnados e os azuis e brancos. O registo surpreendente estende-se aos seis jogos consecutivos sem perder (agora sete), três jogos consecutivos a vencer e apenas três derrotas esta época na I Liga e frente a FC Porto, Sporting e SC Braga.
Para defrontar o 5º classificado do campeonato, Roger Schmidt entendeu que repetir o onze dos últimos dois jogos seria a melhor estratégia. Sabe-se agora, não foi. O ascendente na fase inicial do jogo tendeu para a equipa minhota, que cedo mostrou o que queria do jogo: condicionar a saída do jogo do Benfica, que se mostrou algo surpreendido com tamanha genica da equipa de Rui Borges, campeã da II Liga na temporada passada.
Ora atacas tu, ora ataco eu
Após um início de jogo nervoso, algo atabalhoado, a primeira grande ocasião de perigo surgiu logo aos 6 minutos. Após uma perda de bola em zona proibida de Florentino, um remate cruzado venenoso de Madson a pedir o desvio de André Luis, que não chegou a tempo por muito pouco.
O lance precedeu um conjunto de várias ações perigosas para os homens da casa, que aos 12 minutos estiveram muito perto do golo, naquela que viria a ser a ocasião mais flagrante de toda a partida para os dois conjuntos: o cruzamento de Franco chegou a Madson, que rematou contra Otamendi. A bola acabou por sobrar para a recarga do avançado brasileiro, que acertou em cheio no ferro após um remate potentíssimo.
Cheirava a golo em Moreira de Cónegos e encolhia-se o Benfica perante o arranque corajoso e audaz do desinibido Moreirense.
Num autêntico 'ping pong' entre as áreas, respondiam as águias pela direita por intermédio de Aursnes. O norueguês descobriu Rafa, que rematou contra a barreira defensiva do Moreirense. Na sequência do canto, Otamendi estendeu o golo a Florentino, mas o médio não fez melhor do que cabecear ao lado. Tentava equilibrar o jogo o campeão nacional e, de facto, aos poucos começou a incomodar verdadeiramente o guarda-redes Kewin Silva.
O jogo estava ligado à corrente com vários ataques sucessivos nas duas balizas (13 investidas, ao todo) e o golo, por volta dos 15 minutos do jogo, podia cair para qualquer lado, apesar do ligeiro ascendente minhoto com mais critério no último terço.
Apesar disso, num curto espaço de tempo, o Benfica ia respondendo com maior perigo e Di Maria, por duas vezes, esteve perto de abrir o marcador. As águias alcançavam aos poucos o equilíbrio na partida e a promessa de uma noite de bom futebol no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas era cada vez mais real.
Ao 27 minutos, já depois de um período de maior acalmia, golo anulado ao Moreirense por fora-de-jogo. André Luís pegou muito bem na bola, mas o avançado estava em posição irregular por 98cm.
Até ao final, o ritmo alucinante foi serenando e ao intervalo, apesar do enorme leque de oportunidades, as balizas permaneciam invioladas.
Haja coragem para tirar João Neves ao intervalo
Ao intervalo, Roger Schmidt, tantas vez acusado de mexer tardiamente, mexeu cedo. Cedo e em dose dupla. João Neves e Florentino abandonaram o meio-campo das águias para a entrada de Kokçu e Chiquinho, este último de regresso a uma casa onde já tinha sido muito feliz. Poder-se-á imaginar que o técnico alemão queria mais robustez no meio-campo e maior verticalidade na construção de jogo, uma teoria em nada despiciente apesar de, no final, pouco ou nada ter contribuído para melhorar a produtividade ofensiva do jogo das águias.
E tudo porque na frente se mantinha Casper Tengstedt, novamente titular, que pouco ou nada fez. Por outras palavras, a segunda parte trouxe um Benfica mais acutilante a meio-campo, com maior capacidade de progredir no terreno, mas na hora 'h' o avançado nórdico encolhia-se perante a bem organizada e solidária defesa minhota. Schmidt percebeu-o, lançou Arthur Cabral para o lugar do dinamarquês, mas sem resultados práticos.
Ao contrário da primeira parte, o Moreirense poucas vezes conseguiu sair em transição para incomodar Trubin. O jogo acontecia quase sempre no meio-campo da equipa de Guimarães, que apesar de tudo controlava as intenções dos encarnados. Exceção feita ao minuto 72: golo de João Mário muito festejado, mas o médio estava 31 cm adiantado e o lance foi invalidado pelo VAR. Nas bancadas, os adeptos da casa festejavam como se de um golo se tratasse.
Apercebendo-se do perigo a aproximar-se, Rui Borges refrescava a equipa: primeiro com uma dupla alteração e dez minutos com a entrada de três jogadores, tentando também proteger-se de uma expulsão tendo em conta os quatro amarelados de risco no corredor central (defesas e médios).
Gonçalo Guedes e João Victor também foram chamados por Schmidt, que uma vez mais deixou Peter Musa no banco. O croata, inicialmente apontado como sucessor óbvio de Gonçalo Ramos, viu o defesa central entrar para fazer um golo, missão que por norma cabe a um avançado, de raiz, tal como ele. Não foi o mesmo entendimento do técnico benfiquista, que preferiu apostar no jogador brasileiro apesar dos 190cm do ponta de lança ex-Boavista.
Uma aposta que se revelou falhada, já que até ao final o 'placard' não se alterou.
Com este resultado, o Benfica deixa dois pontos em Moreira de Cónegos e regressa a Lisboa com vários pontos de interrogação, cujas respostas terão que ser dadas rapidamente e com sucesso. No caminho, levam uma certeza: é preciso fazer mais e melhor caso pretendam revalidar o título de campeão nacional.
Os encarnados voltam a jogar na sexta-feira, em casa, frente ao Farense. Antes disso, esta segunda-feira, estarão atentos ao jogo do Sporting diante do Gil Vicente, um encontro que pode retirar aos encarnados a liderança da I Liga.
Nota final: Roger Schmidt não compareceu na conferência de imprensa, tendo só prestado declarações na zona de entrevistas rápidas.
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