António Salvador enviou uma nota às redações para esclarecer que não tem qualquer ligação com a academia Bsports, em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão. A Academia está a ser investigada por alegado tráfico de seres humanos. O caso já levou à demissão do presidente da mesa da Assembleia Geral da Liga, Mário Costa, um dos arguidos no processo.
A TVI emitiu na noite de segunda-feira uma reportagem de investigação onde alegou que havia ligações de António Salvador, presidente do Braga, a Mário Costa, agora ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga na sequência do envolvimento na Academia BSports.
De acordo com a reportagem, António Salvador e Mário Costa terão criado uma empresa de gestão de jogadores 10 meses antes de nascer a BSports e que o líder dos arsenalistas terá sugerido o nome de Costa para a Assembleia-geral da Liga, em 2016. Já na reportagem, António Salvador tinha garantido que náo tem nem nunca teve "qualquer relação ou interesse relacionado com a BSports".
Comunicado de António Salvador
"1. Ao final da tarde do passado domingo, fui contactado pela TVI, que me endereçou um conjunto de questões respeitante à minha relação com o Dr. Mário Costa. De boa fé, prestei e suportei todas as informações que me foram solicitadas e das quais resulta claro que não existe o mínimo envolvimento da minha parte na Academia BSports ou na sua atividade, seja a título individual ou através de qualquer empresa por mim detida, gerida ou participada, direta ou indiretamente.
Omitindo grande parte dos esclarecimentos que transmiti e que são taxativos quanto a este facto, a TVI optou por lançar um anátema que - conforme se evidencia na reportagem emitida - não consegue demonstrar nem sustentar nos dados que apresenta, enveredando por uma narrativa de meras insinuações que entendo como caluniosa e, como tal, lesiva da minha reputação e idoneidade, impondo-se desde já a devida reposição da verdade e do meu bom nome.
2. Enquanto Presidente do SC Braga há 20 anos, sempre tive a clara noção de que é absolutamente incompatível manter qualquer outro tipo de interesse na área do futebol e do desporto para além da representação da instituição que sucessivamente me tem eleito e confiado a sua gestão. Acresce que o SC Braga tem pugnado, ao longo de toda a sua história e com grande empenho da minha parte nestas últimas duas décadas, pela valorização das condições proporcionadas às centenas de crianças e jovens que nos confiam a sua formação desportiva, social e humana.
O SC Braga tem orgulho em afirmar-se como um exemplo, quer pelas práticas que promove e pelos valores que transmite, como pelas condições e recursos que disponibiliza, pelo que me é particularmente intolerável qualquer associação a métodos que são o completo oposto do que defendo e pratico ao serviço e em prol do SC Braga há mais de 20 anos.
António Salvador"
Na segunda-feira, 12 de junho, o SEF, no Âmbito de uma investigação por alegado tráfico de seres humanos, deu cumprimento a cinco mandados de busca judiciais, uma das quais na academia de futebol Bsoprts, em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão. Nesta academia, foram identificados 114 jovens jogadores, oriundos da América do Sul, África e Ásia e que estarão todos em situação irregular no país.
Dois dias depois, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) anunciou que foram constituídos arguidos dois cidadãos portugueses e cinco sociedades.
Foram sinalizadas 47 vítimas de tráfico de pessoas, das quais 36 menores e nove jovens adultos. Dois dos menores foram entregues a familiares e um outro ao seu representante legal. Todos os restantes foram colocados “sob proteção do Estado português”. No total, foram identificados 85 estrangeiros, entre adultos e menores.
As buscas estenderam-se ainda à casa do presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Mário Costa, responsável por aquela academia. Mário Costa renunciou na quarta-feira ao cargo na Liga.
Nas buscas, o SEF apreendeu documentos, nomeadamente passaportes e cartões de residência, que não estavam na posse dos seus titulares, os menores em causa. Foram constituídos arguidos dois cidadãos portugueses (Mário Costa e o seu pai) e cinco sociedades.
Em nota publicada na sua página, a Procuradoria-Geral Regional do Porto refere que os menores foram retirados da academia “por se encontrarem em situação de perigo”.
Segundo a RTP, os jovens atletas eram recrutados na América do Sul, África e Ásia e vinham para Portugal com uma promessa de contrato, válido por 11 meses, e seriam impedidos de sair caso os pais quisessem interromper a sua formação ou não tivessem coberto o pagamento previsto.
As famílias pagariam entre 500 e 1.800 euros por mês para a formação, treino e alojamento dos jovens atletas.
Os atletas seriam acolhidos em condições precárias, passando fome e frio.
O Jornal de Notícias dá conta de relatos de alguns atletas que se terão queixado de ficarem trancados com cadeados, à noite, sem acesso à casa de banho.
Os jovens estariam a viver amontoados em camaratas, só sairiam acompanhados de funcionários da academia e o seu acesso ao exterior era limitado.
Além disso, há ainda relatos de retenção da documentação dos atletas, incluindo o passaporte e de casos em que os menores seriam impedidos de ir à escola, sendo o ensino ministrado por professores da academia ou através de aulas online.
A Lusa tentou, por várias formas, contactar a Bsports, mas ainda sem sucesso.
Na sua página oficial de Linkedin, a academia descreve-se como "um projeto desportivo, educativo, revolucionário em Portugal que permitirá a pessoas de todo o mundo, com a mesma paixão pelo futebol, viver a experiência da sua vida, potenciando ao máximo o seu crescimento pessoal e desportivo."
"A missão deste projeto assenta na captação e formação de novos talentos para o futebol. Ambicionamos ser uma referência internacional ao nível do futebol jovem, projetando futuros talentos e melhorando a oferta futebolística", acrescenta.
A academia intitula-se ainda como "o maior projeto de formação do mundo" e diz ser uma "entidade de formação certificada” pela Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.
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