O empresário norte-americano John Textor, que chegou a acordo com José António dos Santos para comprar 25% do capital social da Benfica SAD, é um pioneiro de tecnologias holográficas e efeitos especiais “fanático por futebol”.
Foi assim que o The Athletic o descreveu quando Textor se revelou interessado em comprar o clube inglês Crystal Palace no início do verão, antes de serem conhecidos os seus contactos com José António dos Santos, conhecido como “rei dos frangos”, a propósito da SAD do Benfica.
John Textor tem um historial ligado ao futebol, o que é particularmente relevante tendo em conta que este é um desporto menor no seu país, Estados Unidos da América, onde o futebol feminino é mais popular do que o masculino.
Este interesse materializou-se em negócios como a fuboTV, um serviço de ‘streaming’ televisivo com foco o desporto da qual foi CEO [presidente executivo] e é agora sócio maioritário.
O serviço é conhecido entre os amantes de futebol europeu e sul-americano e tem um pacote de televisão portuguesa, Portuguese Plus, que custa 14,99 dólares (12,66 euros) por mês e oferece precisamente a Benfica TV, além da RTP Internacional, RTP3, RTP Açores e GolTV Spanish.
No entanto, foi na tecnologia e no cinema que Textor, licenciado em economia pela Wesleyan University do Connecticut, fez carreira e fortuna. Depois de múltiplos projetos inovadores, em 2006 comprou a empresa sediada em Los Angeles, Digital Domain, que criara os efeitos especiais do filme de James Cameron “Titanic”, um marco nas artes visuais da altura que lhe rendeu o Óscar de Melhores Efeitos Especiais.
A empresa produziu inúmeras inovações, que permitiram criar filmes como “O Estranho Caso de Benjamin Button” – pelo qual recebeu outro Óscar – e no total trabalhou em mais de uma centena de grandes filmes, desde “Armageddon” e “Fight Club” a “Deadpool” e “Os Vingadores: Endgame”.
A reputação de Textor levou um abalo, todavia, quando em 2012 a Digital Domain entrou com um pedido de proteção contra credores, depois de ser acusada por fundos de falhar com obrigações. A reestruturação financeira deu origem a múltiplos processos de fraude, incluindo contra Textor, mas o Supremo Tribunal de Nova Iorque decidiu em favor do milionário.
Por essa altura, já Textor estava envolvido noutra onda de inovações tecnológicas, ligadas à holografia. É hoje considerado um pioneiro dos hologramas porque fundou a Pulse Evolution Corporation (PLFX), da qual é sócio maioritário, e que desenvolveu formatos hiper-realistas de humanos digitais – não só hologramas mas em realidade virtual, realidade aumentada e inteligência artificial.
As suas criações fizeram furor quando um holograma do ‘rapper’ Tupac Shakur, assassinado em Los Angeles em 1996, apareceu na edição 2012 do lendário festival de música do Coachella Valley. Dois anos depois, a empresa criou uma performance holográfica de Michael Jackson para os prémios Billboard 2014.
Um testemunho da influência de John Textor na indústria do cinema foi uma peça publicada pela revista Forbes em 2016, caracterizando-o como “Guru da Realidade Virtual em Hollywood”.
Mais recentemente, Textor aprofundou a sua ligação a tecnologias de inteligência artificial criando a EvolutionAI Corporation, uma empresa que desenvolve animação humana para tornar mais fácil a interação dos consumidores com plataformas de IA.
Outras empresas na qual esteve envolvido são a VirtualBank, a Art Technology Group, a Image Metrics, a Faceware e a Jester Digital Corporation, entre outras.
O seu alcance mediático é longo e, com um historial de fascínio pelo futebol, um dos pontos que John Textor escreveu no texto endereçado aos benfiquistas a 12 de julho referia o potencial de expandir o acesso mediático do clube. A tecnologia de streaming e a presença da Benfica TV no pacote fuboTV podem ser pontos de partida para essa expansão, tal como referiu o advogado de Luís Filipe Vieira, Manuel Magalhães e Silva, em entrevista à TVI.
A Benfica SAD comunicou na terça-feira à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que José António dos Santos celebrou um acordo para vender a John Textor 25% do capital social da SAD.
José António dos Santos “outorgou com John C. Textor, dois acordos para venda de um total de 5.750.000 ações ordinárias, escriturais e nominativas, representativas de 25 % do capital social da Benfica SAD, condicionado ao pagamento” até 15 de setembro “do preço total acordado”, tendo sido adiantada a quantia de um milhão de euros, pode ler-se no comunicado.
O anúncio surgiu depois da detenção para primeiro interrogatório judicial de José António dos Santos, Luís Filipe Vieira (que suspendeu funções na presidência do Benfica), Tiago Vieira e Bruno Macedo, numa investigação que envolve negócios e financiamentos superiores a 100 milhões de euros, com prejuízos para o Estado, SAD do Benfica e Novo Banco.
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