André Villas-Boas deu uma entrevista ao jornalista Hugo Gilberto, da RTP, onde abordou as suas ideias para a presidência do FC Porto. O candidato que concorre com Jorge Nuno Pinto da Costa, o atual presidente, e com Nuno Lobo à presidência dos azuis e brancos, falou de quase tudo o que diz respeito ao universo portista.
Disse que será um presidente não remunerado, porquê? "Porque acho que estou e estamos para servir o FC Porto, dentro desta candidatura também há uma série de pessoas, destas que eu escolhi, que fazem um esforço financeiro para vir para o FC Porto, sofrendo cortes na sua remuneração e aceitando servir o FC Porto. Eu acho que o presidente, neste caso, tem de ser o reflexo máximo deste esforço, mudar também o paradigma. Ele também já é presente no caso de um dos nossos rivais, onde há um presidente também não remunerado, e eu penso que é assim que deve ser também no futuro. Portanto, tenho muito orgulho em representar esta mudança, nós teremos cortes acentuados no ponto de vista da remuneração, tem sido um dos pontos de escândalo relacionados com a administração do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, onde sensivelmente em 12 anos estamos a falar de 27 milhões de euros em remuneração, e a administração tem de servir como exemplo."
Disse que não era impossível o fundo Quadrantis, ligado a João Koehler, da candidatura de Pinto da Costa, vir a ser dono do FC Porto "Sim, o que nos alertou foi sobretudo um prospeto que estava presente no site do fundo Quadrantis, onde estavam a ser dados como colaterais receitas do FC Porto, portanto o fundo Quadrantis queria levantar 250, 300 milhões de euros, e no seu prospeto dava indicadores claros e nítidos de receitas do FC Porto. Curiosamente esse prospeto mudou muito recentemente, onde apareciam logos da UEFA, do Fundo Saudita, ou seja, a transferência do Otávio para a Arábia Saudita, onde apareciam o logo dos operadores e onde aparecia o logo da Super Bock, e aqui estamos a falar da antecipação de receitas do contrato da Super Bock, que foi feita com a Connect Capital, também precisamente detida pelo fundo Quadrantis, ou em parte pelo fundo Quadrantis. Portanto, quando nós vimos a presença destas colaterais, destas receitas colaterais relacionadas com o FC Porto, ficou claro que este financiamento e este levantamento de capital que pretendia a candidatura do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, na ordem dos 250 milhões a 300 milhões, pudesse ter a ver com este fundo levantar este capital. Isto ficou ainda mais claro e presente quando nesse fundo fazem parte não só João Koehler, como também a José Fernando Figueiredo, que mais tarde viria a ser apresentado como CFO do FC Porto. Nós continuamos a ver muitos sinais presentes da influência deste fundo, não só também com a presença de Pedro Rosas recentemente no camarote de Pedro Pinho no jogo de FC Porto-V. Guimarães, portanto tudo roda à volta sempre das mesmas pessoas.
Teme votos de alguns sócios em Pinto da Costa por gratidão? "Temer não temo, o que eu quero é que os sócios decidam racionalmente também, emocionalmente também, porque faz parte do que é o nosso ADN, do que é visceral. Há que ter uma consciência racional do futuro do FC Porto. Esta candidatura, nesta caminhada, tornou-se realmente muito forte, e estas serão, muito provavelmente, das eleições mais votadas da história do clube. Isto não só é um sinal de vitalidade, mas é também um sinal que tudo o que surgir, tudo o que for ditado como vencedor destas eleições, será uma vontade quase unânime por parte dos sócios. Acho que isso é muito importante e muito saudável. Portanto, que haja transparência, que haja escolha, que toquem as emoções, que toquem também as razões, e que o presidente eleito seja o que vai lutar pelo bem comum do FC Porto e que seja o presidente de todos os associados do FC Porto. É o que eu mais desejo."
Diz que tem de ser agora o momento de mudança. Qual é a pressa? "Não tem a ver com pressa, tem a ver também com a preparação que eu fiz para me apresentar ao ato eleitoral de 2024. Sempre perspectivei uma carreira curta de treinador. Estou intimamente e emocionalmente vinculado ao FC Porto, como sócio e adepto, e nestes dois últimos anos dediquei-me a preparar esta candidatura de uma forma criteriosa e rigorosa."
Disse que Pinto da Costa não tem condições de ser presidente mais quatro anos: "O FC Porto encontra-se num momento decisivo da sua estabilidade e sustentabilidade. Nós, nos últimos 12 anos, acumulamos 250 milhões de euros de passivo, significa que anualmente adicionamos prejuízo às nossas contas. Os modelos de governação do FC Porto têm de ser imediatamente refeitos, reformatados e obedecer a gestão rigorosa e cuidada, a disciplina orçamental. Se o presidente continuasse, e tendo em conta também as pessoas com as quais está a rodear-se, poderíamos continuar facilmente para a ruína financeira. Acho que nós já não vamos lá com retoques de maquilhagem das equipas e desculpabilizando-se com a saída de outros administradores que colocaram o FC Porto nesta situação que está atualmente. Acho que todos os líderes devem assumir as responsabilidades, tanto nos sucessos como nas derrotas. Eu, pelo menos, orientei sempre a minha carreira dessa forma, enquanto treinador, e acho que qualquer líder de organização também deve ser assim. E as responsabilidades contam também do ponto de vista financeiro, de sustentabilidade, de crescimento do clube, e é isso que nós não temos visto nestes últimos anos. Temos visto o FC Porto a perder capacidade competitiva, temos visto também um FC Porto que não se adaptou infraestruturalmente como se adaptaram os seus rivais, temos o FC Porto em déficit relativamente às modalidades femininas, nas suas diferentes categorias e vertentes, e tudo isso é um reflexo de uma gestão que estagnou no tempo. Daí que eu acho que o momento seja absolutamente agora".
O que representam os incidentes na AG e a Operação Pretoriano nestas eleições? "Um marco histórico negro na história do clube. Em primeiro lugar, houve um sinal de grande vitalidade, ou seja, um grande movimento por parte dos associados de volta a uma Assembleia Geral que tem que ser valorizada. Este é o pré-evento, essa mobilização geral dos associados. Os incidentes que ocorrem a seguir são graves, são de intimidação, de agressões. De tentar impedir as pessoas de expressarem livremente a sua opinião. E é um dia para jamais esquecer e para jamais se repetir também."
Se Villas-Boas for eleito, o que vai mudar na relação com as claques? "O FC Porto tem que ter, naturalmente, claqyes. Os grupos de organizações de adeptos representam também aquele tipo de associado, adepto e simpatizante, que gosta de viver os jogos de forma diferente, apoiando a sua equipa e cantando a favor do FC Porto. Este é um modo de estar que é respeitável e que é comum entre vários clubes europeus. O que não pode haver é desigualdades em termos de direitos e infelizmente… Entre os sócios e entre o público em geral também. Ou seja, no acesso à bilhética tem que haver igualdade e equidade, seja para adeptos e simpatizantes do FC Porto, seja para sócios do FC Porto. Eu acho que é esta falta de equidade que não existia e que levou também a muita frustração sentida por parte de alguns adeptos e por parte de alguns associados."
Tem algum receio quando sai à rua? "Não. Houve incidentes que nós sofremos diretamente na pele e o meu zelador principalmente. Não foi o único evento que tem vindo a acontecer nesta caminhada, tentamos sempre encarar a vida de forma normal, agora são incidentes que nos marcam, a mim e à minha família evidentemente foi-nos atribuída proteção, sentimos-nos totalmente seguros, mas são eventos que não trazem boa memória."
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