E vão 11 subidas de divisão para Vítor Oliveira. O técnico, que já é um caso de estudo no futebol português, confirmou o estatuto de 'rei' das subidas na II Liga no passado sábado, após a vitória do Paços de Ferreira diante do Académico de Viseu, por 2-1, na 30.ª jornada, quando ainda faltam quatro para o fim da prova.
O experiente treinador, de 65 anos já tinha levado os pacenses à primeira divisão em 1990/91 e este ano voltou a ser aposta para devolver o clube ao convívio dos 'grandes', um ano após a despromoção, sendo que ainda pode juntar o título de campeão nacional do segundo escalão.
"É uma sensação de grande alegria e de satisfação pelo dever cumprido, por devolver o Paços a um lugar de onde nunca devia de ter saído. O segundo sentimento está na diferença temporal entre a primeira subida e esta, são 29 anos, é fantástico e deixa-me muito feliz. A terceira vem desta massa de adeptos, que sempre esteve connosco desde a primeira hora”, afirmou o técnico, no final do triunfo sobre o Académico de Viseu.
Com Vítor Oliveira no comando, o Paços cedo assumiu a liderança da II Liga e os números confirmam a sua superioridade nas 30 jornadas já realizadas: é líder isolado, com 64 pontos, mais quatro do que o segundo classificado, o Famalicão, que também está em zona de subida, e é a equipa com mais vitórias (20), menos derrotas (em igualdade com o Famalicão), e menos golos sofridos (19).
Depois de ter levado os 'castores' ao principal escalão, na temporada 1990/91, seguiram-se outras três subidas na década de 90, todas de forma consecutiva: Académica (1996/97), União de Leiria (1997/98) e Belenenses (1998/99). Na viragem do século, o técnico subiu o Leixões (2006/07), antes de mais cinco promoções consecutivas - Arouca (2012/13), Moreirense (2013/14), União da Madeira (2014/15), Desportivo de Chaves (2015/16) e Portimonense (2016/17). Em 2017, o jornal espanhol 'El País' apelidou-o mesmo de "elevador automático".
Um registo ímpar, mas que não surpreende quem conhece o treinador, que em 2017 foi apelidado de "elevador automático" pelo jornal espanhol 'El País'. "Não me surpreende a mim nem a ninguém. Onde quer que ele vá, toda a gente sabe que é sempre um candidato à subida, todos sabem do valor dele e ele também procura incutir esse espírito vencedor nas equipas que treina", diz Pires, experiente avançado que foi orientado por Vítor Oliveira no Moreirense (2013/14) e, mais recentemente, no Portimonense (2016/17 e 2017/18).
Para além da "cultura de vitória" inerente ao treinador, Pires destaca a "inteligência" e a capacidade de "liderança" de Vítor Oliveira. "É uma pessoa muito inteligente, que conhece o futebol como poucos. Tem a mais-valia de conseguir focar-se apenas na equipa dele, sem se preocupar com os outros. Procura sempre tirar o máximo partido dos seus jogadores. E é um líder nato", analisa o atual jogador do Penafiel.
Nélson Lenho trabalhou com Vítor Oliveira no Chaves, equipa que subiu à I Liga pelas mãos do técnico, natural de Matosinhos, em 2015/16. A ligação ao técnico, contudo, já vem de trás.
"O Vítor Oliveira foi a pessoa que deu o aval para que eu pudesse ir para a Primeira Liga há muitos anos e desde essa altura que tinha uma admiração muito grande por ele. Felizmente tive a sorte de ser treinado por ele [no Chaves]. Procurava guardar tudo o que ele ensinava, todas as histórias, porque é realmente uma pessoa com uma sabedoria imensa no futebol", conta ao SAPO Desporto o defesa esquerdo, agora ao serviço do Académico de Viseu.
Nélson Lenho, que não alinhou na partida de sábado, que confirmou a subida do Paços de Ferreira à I Liga, explica ainda o que distingue Vítor Oliveira dos demais treinadores. “Ele não tem segredos para os jogadores, é uma pessoa muito frontal e isso faz com que os jogadores acabem por ter muito respeito por ele. Durante a época em que ele esteve no Chaves procurou sempre manter a equipa com os pés no chão, porque não é um treinador de euforias. Acredito que devia haver mais pessoas como ele", refere o jogador, que acredita que os êxitos do técnico "falam por si".
"Aqueles que percebem menos de futebol acham que é fácil fazer o que ele faz, porque o Vítor Oliveira entra sempre em projetos que à partida são bons, mas a verdade é que a maioria dos treinadores que entram nestes projetos de subida não conseguiram um terço do êxito que ele tem", diz.
À exceção do Paços de Ferreira e do Portimonense, Vítor Oliveira não acompanhou nenhum dos clubes anteriormente referidos na subida. Na divisão maior, contabiliza 15 presenças, a última das quais no Portimonense, na temporada passada, e, antes dessa, no Moreirense, em 2004/05, quando não terminou a época, sendo substituído por Jorge Jesus, a três rondas do final da prova.
De resto, foi sempre na II Divisão que Vítor Oliveira se sentiu como peixe na água, daí apenas assinar contratos de um ano. "A próxima época é uma dúvida para mim, também não sei. Já recebi algumas propostas, mas a todos disse que não falaria antes de a situação do Paços estar resolvida. Gosto de estar onde estou e sempre defendi que treinar na Primeira Liga é melhor do que treinar na Segunda Liga. Depende da perspetiva e das opções, mas nos últimos anos habituei-me a ganhar mais vezes”, admitiu o treinador, não abrindo muito o jogo sobre o clube que orientará em 2019/20.
Tanto Pires como Nélson Lenho não arriscam conjeturar o futuro do técnico, mas ambos não têm dúvidas que o 'rei' das subidas merecia voos mais altos no futebol português.
"Não sei se a ambição dele passa por aí, mas gostava de o ver treinar um grande. E merecia essa oportunidade, pelo trabalho que desenvolveu durante estes anos", defende Pires. "Neste momento creio que já é difícil, também pela idade do 'mister', mas seria um prémio mais do que justo", corrobora, por sua vez, Nélson Lenho.
Comentários