A Liga Italiana foi apanhada de surpresa com os gestos antissemíticos por parte dos adeptos da Lazio que, antes do arranque do encontro entre Lazio e Roma, colocaram imagens de Anne Frank e do holocausto nazi em camisolas da Roma na zona reservada a adeptos da formação ‘giallorossi. A 'sombra' do nazismo voltou a pairar  sobre o futebol italiano e as manifestações de vergonha por parte dos transalpinos não se fez tardar.

Entre minutos de silêncio, manifestações da Federação Italiana de Futebol e de várias personalidades da modalidade no país, Itália corou de vergonha e recordou uma passado onde o antissemitismo fez parte das bancadas dos estádios de futebol.

O gesto dos apoiantes ‘lazialle’ chocou toda a Itália. A Lazio, em resposta à ação dos adeptos no dérbi romano, colocou os seus jogadores a entraram em campo com uma camisola com a cara da jovem cuja história sobre a vida de uma família de judeus durante a ocupação Nazi na Europa comoveu milhares de pessoas através do seu diário. Na homenagem em jeito de pedido de desculpas, os adeptos voltaram a mostrar comportamentos antissemíticos.

Perante a sentida homenagem dos atletas, os adeptos da Lazio voltaram a mostrar comportamento antissemíticos ao entoarem um cântico durante as homenagens instauradas pela Federação Italiana. “Eu não me importo” foi a resposta vinda das bancadas.

Os exemplos de antissemitismo de adeptos da Lazio não é de agora e contam com episódios fascistas no seu passado. Cruzes, cânticos a apelidar jogadores adversários de “macacos” e saudações nazis são páginas negras de um dos clubes mais antigos da Liga Italiana.

O caso mais grave leva-nos até 2005 quando Paolo Di Canio, antigo jogador italiano que passou pela Serie A e pela Liga Inglesa, celebrou um golo com uma saudação nazi perante todos os milhares de pessoas que estavam nas bancadas. Na altura, o jogador defendeu-se afirmando que o seu gesto teve motivação fascista, ideologia defendida pelo antigo jogador, e não motivações racistas.

Festejos de Di Canio
Festejos de Di Canio Festejos de Di Canio

Casos como este deram, em Itália, uma ideia de que os adeptos da Lazio seriam fascistas embora apenas uma pequena percentagem fosse, realmente, ‘ultras’ ao ponto de ofender e utilizar temas antissemíticos para ofender os rivais.

Fascismo não é uma das bases do clube

Desengane-se quem pensa que a Lazio é um clube com fundamentos fascistas na estrutura. Durante a ascensão de Mussolini como ditador de Itália na década de 1920, o emblema da capital transalpina foi um dos clubes que esteve contra o antigo ditador na sua ideia de ‘fundir’ vários clubes de Roma. Da ‘fusão’ exigida por Mussolini surgiram os grandes rivais da Lazio, AS Roma.

Sebastien Louis, sociólogo especializado em ‘hoolligans’ defende que há sempre alguma presença de ideologias de extrema direita em adeptos de futebol mais fanáticos e que o caso da Lazio é um exemplo disso mesmo. À AFP, o francês diz que há apenas uma pequena percentagem que realmente persegue ideias de extrema direita a nível político.

“Aqui [no seio dos adeptos mais fervorosos] temos grupos de pessoas que estão imersas nestes ‘ninhos’ de ideias de extrema direita no futebol, mas que é apenas superficial. Se olharmos para as pessoas que são ativas politicamente estamos a falar numa minoria”.

Exemplos de antissemitismo em Itália não se cingem apenas à Lazio

A Lazio foi o emblema mais recente cujos adeptos foram ligados a questões antissemíticas, mas a história do futebol em Itália tem várias páginas negras neste sentido.

Na década de 90, o AC Milan era o alvo preferencial para adeptos antissemíticos em Itália. Numa fase onde a formação milanesa tinha o domínio do futebol em Itália, Arrigo Sachi e Fabio Capello entraram para a história num conjunto onde militavam lendas vivas do futebol como Rijkaard, Gullit, Baresi, George Weah e Van Basten.

Em sentido inverso, os adeptos de Roma, Lazio, Sampdoria e Inter de Milão escreviam páginas para a história negativa devido aos comportamentos racistas que surgiam em forma de cartazes e cânticos contra os jogadores.

Mais recentemente, foram os adeptos da Juventus a serem castigados por comportamentos antissemíticos para com jogadores adversários. Em Turim, no Juventus-SPAL, alguns adeptos 'tifosi' viraram as costas ao relvado enquanto eram lidos excertos do Diário de Anne Frank e começaram a cantar o hino de Itália.

Tentar encontrar uma explicação para a proliferação fora do comum deste tipo de comportamentos em Itália em oposição a outros países na Europa não é fácil. Para Sebastien Louis a falta de cultura é um dos fatores, mas não é suficiente para ser utilizado com explicação para algo “idiótico”

“Não há nenhuma razão em especial para acontecerem este tipo de situações. É idiótico e uma falta de cultura, mas para eles é apenas um insulto como qualquer outro. Nota-se uma tendência onde esse tipo de insultos [antissemíticos] surge com mais frequência onde há indícios de extrema direita”.

Os comportamentos fascistas são um dos temas em que a FIFA mais incide e onde tem menor compreensão. A organização que gere o futebol mundial tem ‘mão pesada’ para com os clubes cujos adeptos incidem neste tipo de situações e em Itália não deverá ser diferente.

A Lazio, na sequência da atuação dos adeptos no ‘caso’ da camisola da Roma com imagens de Anne Frank, já prometeu levar, por ano, 200 atletas a Auschwitz, campo de concentração onde os nazis mataram milhares de judeus. Para além dessa medida, o clube italiano já tinha depositado uma coroa de flores na sinagoga de Roma como homenagem.