As claques dos clubes que vão disputar a Taça de Liga de futebol vão boicotar a competição “do início” até “ao fim”, revelou hoje à agência Lusa a presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA).

“Os grupos organizados de adeptos dos oito clubes que estão representados na Taça da Liga comprometem-se a boicotar a competição como forma de protesto, desde o seu início até ao fim, incluindo a ‘final four’ e a final, numa ótica de protesto pela atitude da Liga [Portuguesa de Futebol Profissional] de querer exportar o produto”, afirmou Martha Gens.

Em comunicado, a APDA afirma que “é inequívoco assumir” que a realização da ‘final four’ no estrangeiro “só não acontecerá já nesta temporada porque ninguém mostrou interesse ou acenou com dinheiro suficiente para receber estes jogos no seu território”.

Considera, nesse sentido, que “realizar jogos de uma competição nacional em solo estrangeiro, com a única intenção de encaixar mais uns milhões, é um flagrante desrespeito por todos aqueles que vivem o futebol e os seus clubes de forma apaixonada”.

“Isto é um total desprezo da Liga, que cria uma competição com o objetivo de alimentá-la com os adeptos, que estiveram bons anos a ‘engordá-la’ e a criar o seu sucesso para, depois, exportá-la para o estrangeiro”, criticou Martha Gens, em declarações à Lusa.

O comunicado da APDA é assinado por grupos organizados de adeptos de Nacional (Armada Alvinegra), Sporting (Juventude Leonina, Ultras DUXXI, Torcida Verde e Brigada Ultras Sporting), Moreirense (Green Devils), FC Porto (Colectivo 95 e Super Dragões), Santa Clara (Armada Vermelha), Vitória de Guimarães (White Angels, Insane Guys e Gruppo 1922) e Sporting de Braga (Red Boys e Bracara Legion).

“É um bom sinal que todos estes grupos, que tantas vezes andam nas bocas do mundo, nem sempre pelos melhores motivos, consigam entender que apenas unidos podem conseguir levar a sua posição avante”, elogiou Martha Gens.

Questionada sobre a ausência das claques afetas ao Benfica, a presidente da APDA explicou que “isso não quer dizer que não boicotem” e ‘aproveitou’ para apelar à mesma tomada de posição por todos os adeptos.

“A verdade é que queremos sensibilizar também os demais adeptos, que também pagaram e contribuíram para o crescimento da competição, para fazerem o mesmo. Estamos todos a pagar bilhetes e a ir ao futebol em horários vergonhosos, e tiram-nos a cereja no topo do bolo, que é a possibilidade de assistir aos jogos e apoiar as nossas equipas na fase decisiva”, desabafou a presidente da APDA.

Os quartos de final da Taça da Liga 2024/25 disputam-se na próxima semana, com os encontros Sporting-Nacional (terça-feira), Benfica-Santa Clara (quarta-feira), Sporting de Braga-Vitória de Guimarães e FC Porto-Moreirense (quinta-feira).

O formato da competição passou, nesta época, a incluir apenas os primeiros seis classificados da I Liga e os dois primeiros da II Liga na temporada anterior.

A Liga de clubes tinha anunciado a intenção de realizar a ‘final four’ no estrangeiro para rentabilizar a competição, mas recuou na intenção.

Eis o comunicado das claques

"No dia 5 de maio do ano transato, foi aprovado pela direção da Liga de Clubes o novo formato para a Taça da Liga, que prevê que a competição seja apenas disputada por oito clubes, os seis primeiros da I Liga e os dois primeiros da II Liga da época anterior. Paralelamente, os responsáveis deste organismo anunciaram publicamente a intenção de 'exportar'  final four da competição para solo estrangeiro. Podemos afirmar também que isso só não acontecerá já esta temporada porque ninguém mostrou interesse ou acenou com o dinheiro suficiente para receber estes jogos no seu território.

A direção da Liga, e em particular o seu presidente, demonstram assim que toda a retórica em torno da relevância do papel do adepto no futebol não passa disso mesmo: retórica e marketing bacoco com a finalidade de ludibriar os mais desatentos. Realizar jogos de uma competição nacional em solo estrangeiro, com a única intenção de encaixar mais uns milhões, é um flagrante desrespeito por todos aqueles que vivem o futebol e os seus clubes de forma leal e apaixonada.

Foi perante este cenário dantesco que um conjunto de grupos Ultras afetos a equipas que vão disputar a competição se uniu, colocando divergências e rivalidades de parte, para lutar por uma causa comum, um futebol que respeite aqueles que fazem dele o desporto mais popular e vibrante do mundo, os adeptos!

Esta decisão é demonstrativa que germina entre os Ultras portugueses a consciência de que é hora de unir esforços e cerrar fileiras, para que juntos façamos ouvir a nossa voz, não só contra o novo modelo da Taça da Liga, mas contra todos os ataques à liberdade e à dignidade de que os integrantes deste movimento e dos grupos organizados têm sido alvo.

'O futebol que nos une', a Liga que nos afasta!

Por compromisso de honra, os grupos subscritores deste comunicado, comprometem-se a cumprir o boicote em todos os jogos da competição:

Armada Alvinegra (Nacional), Juve Leo, DUXXI, Torcida Verde, Brigada (Sporting), Green Devils (Moreirense), Colectivo, Super Dragões (FC Porto), Armada Vermelha (Santa Clara), White Angels, Insane Guys, Gruppo 1922 (V. Guimarães), Red Boys, Bracara Legion (Braga), Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA)."