O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) assumiu hoje a “dificuldade” do Comité Olímpico Internacional (COI) em decidir sobre a participação de atletas russos e bielorrussos em Paris2024, alguns dos quais entretanto readmitidos para as competições internacionais.
“Esta orientação transmite a avaliação que fizemos quanto à dificuldade em encontrar uma solução consensualizada entre os comités olímpicos nacionais e as federações desportivas internacionais. A circunstância desta recomendação ser apenas para competições internacionais e deixar para um momento posterior a posição relativamente ao apuramento e participação nos Jogos Olímpicos revela a dificuldade que o COI tem em encontrar uma solução consensualizada entre todos os parceiros olímpicos e desportivos”, justificou José Manuel Constantino, em declarações à Lusa.
O comité executivo do COI recomendou hoje a inclusão, a título individual, de desportistas russos e bielorrussos nas competições globais, sob bandeira neutra, adiando para “momento oportuno” uma decisão sobre a sua presença em Paris2024.
“O COI não tem condições neste momento para definir uma orientação relativamente à participação nos JO e ensaiou uma solução precária, pois fica ao critério das federações desportivas internacionais permitirem a presença de russos e bielorrussos ou acentuar um conjunto de penalizações quanto a alguns atletas destes países”, ilustrou Constantino.
Em conferência de imprensa, o presidente do COI, Thomas Bach, revelou que russos e bielorrussos só podem competir “como neutros ou individuais”, sem permitir a presença de equipas destes países nem de competidores “que ativamente apoiam a guerra” na Ucrânia.
De fora ficam igualmente os desportistas membros das forças armadas e de segurança, numa orientação que mantém igualmente as sanções diretas aos Estados responsáveis pela invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
“É a decisão possível num quadro de elevado grau de complexidade. Não é possível encontrar uma solução consensual. Temos evidências de federações internacionais que aceitam russos e bielorrussos com regime neutral e outras, como a de atletismo, que simplesmente o proíbem”, ilustrou.
A exemplificar a complexidade da questão, José Manuel Constantino recordou que o que está em causa são apenas recomendações, pelo que há a hipótese de, em diversos casos, as mesmas não serem seguidas.
“O COI pode tomar uma decisão em determinada orientação, mas quem organiza os JO são as federações internacionais. Bastará uma não estar alinhada para a orientação do COI não ser atendida. Mesmo em relação à readmissão em competições desportivas internacionais, o que consta são recomendações, não obrigações. O que irá ocorrer, é que algumas vão seguir e outras não. Algumas até já anunciaram que não seguiriam neste sentido. Temos de estar preparados para esta decisão de efeitos muito diversos e distintos no seio do movimento desportivo internacional”, alertou.
De igual modo, salientou o facto de o COI ter “acentuado que não está vinculado aos resultados de qualificação olímpica”, pelo que entende que “tudo é possível”.
“O COI não tem uma solução neste problema, pelo que vai aguardar pelo desenvolvimento da situação”, completou.
O dirigente destacou ainda a preocupação do COI em “evitar a governamentalização” da questão, entendendo que atualmente “há governos a apropriar-se de um conjunto de matérias e decisões da estreita competência das organizações desportivas”.
“O que assistimos nos últimos meses foi uma completa invasão do poder governamental em alguns países e a não observância do princípio da autonomia das organizações desportivas, até com ameaças de boicote”, exemplificou.
O comité executivo, composto por 15 elementos, será quem vai ter a derradeira palavra sobre quem poderá competir nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Paris2024, que vão decorrer na capital de França entre 26 de julho e 11 de agosto (Olímpicos) e de 28 de agosto a 08 de setembro (Paralímpicos).
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