“[O projeto dos Prémios Ciências do Desporto] foi criado [em 2014] com o objetivo de retirar da escuridão as ciências do desporto e, sobretudo, de lhe dar autonomia enquanto objeto científico das áreas em que estava e, em que certa medida, ainda está colonizada, designadamente as ciências da saúde, que é uma área completamente distinta”, recordou José Manuel Constantino.
No seu discurso, o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) notou que a “dificuldade de autonomizar as ciências do desporto como um objeto de estudo independente de outras áreas do conhecimento científico não é nova na história no movimento olímpico”.
“O nosso propósito, o propósito destes prémios é, sobretudo, o de resgatar essa autonomia. Dar-lhe um conhecimento próprio do ponto de vista científico e tratá-la como deve ser tratada. […] Gratos estamos pelo facto de este nosso propósito ter tido ao longo dos anos um tão significativo sucesso”, salientou.
Os Prémios Ciências do Desporto 2022/23, organizados pelo COP com o apoio da Repsol e para os quais foram este ano submetidas 87 candidaturas, distinguiram Susana Póvoas na categoria de “Treino Desportivo”, Cristiana Mercê na de “Psicologia e Pedagogia do Desporto” e Catarina Pereira na de “Medicina do Desporto”.
Por seu lado, o presidente do júri, Tiago Barbosa, lembrou que “as ciências do desporto são investigação aplicada” direcionada aos agentes desportivos.
“É para essas pessoas que temos de trabalhar e temos de lhes permitir que tomem decisões baseadas em evidência ou, pelo menos, informadas em evidência”, declarou, insistindo que “o fenómeno desportivo português tem que estar alavancado em ciência e investigação”.
O representante da Comissão de Ciência e Desenvolvimento do COP propôs que se trabalhe, em Portugal, na “ideia de inovação desportiva e não na produção de conhecimento” e que esta seja aplicada “às pessoas mais importantes: atletas, treinadores, staff, árbitros e dirigentes”.
“Estes prémios aqui são exemplo de que temos recursos humanos altamente qualificados. A dificuldade que tivemos em decidir quem iria ganhar é a prova que temos gente, mas esta gente tem de estar a trabalhar em ‘full time’ para os atletas. […] Se calhar, devemos pensar numa nova fase das ciências do desporto. Temos de começar a falar na inovação desportiva, na transferência do conhecimento produzido nas ciências do desporto para quem é mais importante e para que não fique entre portas”, sustentou.
Presente na cerimónia, assim como o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, a Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior destacou a importância de premiar a meritocracia, “até como forma de estimular boas práticas”, e considerou que os prémios hoje atribuídos representam “a valorização do estudo das problemáticas do desporto”.
“Reconhecemos o papel e o impacto da atividade física e desportiva no sucesso académico e no bem-estar mental dos estudantes, e reconhecemos também o esforço de muitos estudantes para conciliar a formação académica com a carreira desportiva”, indicou.
Elvira Fortunato alertou ainda para as dificuldades que vários alunos enfrentam para desenvolver a denominada “carreira dupla”, revelando que o Governo está “a preparar a criação de unidades de apoio ao alto rendimento no Ensino Superior”.
“Pretendemos que este programa se inicie ainda no decorrer deste ano letivo […], assumindo a forma de projeto-piloto que apoie de forma formal e estrutural os estudantes-atletas inscritos em ciclos de estudo do Ensino Superior com o objetivo de criar um ambiente que permita a conciliação do sucesso académico e desportivo”, adiantou.
O apoio formal, especificou, deve traduzir-se “em condições especiais de entrada”, em bolsas de estudo, “apoios estatutários protegidos por lei”, enquanto o apoio estrutural deve prever “planos de carreira apoiados por tutores”, “planos pedagógicos individualizados”, flexibilidade em exames e avaliação ou banco de horas.
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