Para evitar o calor infernal nos horários de pico, 120 crianças que vivem em acampamentos perto da cidade de Idlib reuniram-se pouco antes do pôr do sol para disputar os "Olímpicos de Tendas", organizados por uma ONG síria.
As crianças têm entre 8 e 14 anos e, com as cores do seu campo, competiram em diversas modalidades: lançamento de disco, salto em altura, artes marciais, ginástica, badminton, corridas e até mesmo uma corrida de cavalos fictícia, na qual montaram um cavalo de papelão.
Na terra ocre perto das tendas do campo de Yaman, os contornos de um campo de futebol foram desenhados com giz branco, perto de uma pista de corrida oval cheia de obstáculos.
Um dardo que gira no ar, um adolescente que toca a barra no salto em altura, outro que falha no salto mortal da ginástica e cai de costas: mais do que a performance, o importante é as crianças terem momentos felizes e de descompressão.
"Nós nos divertimos muito", disse Walid Mohamed al-Hassan, de 12 anos. “Consegui o segundo lugar no salto em distância”, continua, sem perder o sorriso, nos braços de três companheiros.
Sob o olhar da plateia atenta, dois meninos com uniformes de karaté e faixas laranjas encaram-se e saltitam, com um pé na frente do outro e lançando socos no ar.
No final das provas, os vencedores são anunciados. No meio de aplausos e gritos do público, eles recebem as medalhas no pódio, enquanto confetis deambulam no ar.
Heróis livres
A ideia do evento é "fazer com que as crianças descubram diferentes modalidades desportivas", explica à AFP um dos organizadores, Ibrahim Sarmini, que veste uma camisa polo lilás com o logo da ONG Organização Violeta.
Mas “o objetivo principal era focar-se nos moradores do campo, nas crianças e nos adultos, que vivem uma vida muito difícil”, acrescenta.
O conflito, que dividiu o país, custou quase meio milhão de vidas e já deslocou milhões desde 2011.
A província de Idlib, o último grande reduto jihadista e rebelde no noroeste do país, tem cerca de três milhões de habitantes, quase metade dos quais vive em acampamentos informais, muitas vezes em condições de extrema pobreza.
Para atender às necessidades, os habitantes desta zona dependem de ajuda humanitária e apoio de ONGs.
No domingo passado, em Tóquio decorreu a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos, em que foi possível ver os sírios em duas equipas: a delegação oficial do país, mas também na equipa olímpica de refugiados, que existe há duas edições.
"É triste ver jovens sírios a participar com esse estatuto de refugiado", disse Sarmini. "Mas, para nós, é ótimo que existam verdadeiros heróis livres que representam o povo do noroeste da Síria nos Jogos Olímpicos."
Nenhum sírio da equipa de refugiados ganhou uma medalha. Já a delegação síria levou o bronze no levantamento de peso (+109kg) com Man Asaad.
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