José Manuel Constantino considera que seria importante o próximo Governo “dar um sinal” a atletas, treinadores e federações, aumentando as verbas de financiamento olímpico, após uns Jogos que foram os melhores de sempre para Portugal.
“Naturalmente que aquilo que qualquer governante gostaria de anunciar ao país e, sobretudo, ao sistema desportivo era que os meios de apoio à preparação olímpica eram significativamente superiores àquilo que foram no passado, porque isso é a linha que está a ser seguida em termos internacionais”, defendeu o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).
Ressalvando não estar certo que o reconhecimento governativo manifestado aquando da conquista de medalhas em Tóquio2020 se traduza num aumento do financiamento do próximo ciclo olímpico, José Manuel Constantino recordou que o organismo ao qual preside apresentou “uma proposta que traduz este objetivo, esta preocupação” ao Governo de António Costa, que foi refutada.
“Percebo perfeitamente que, da parte do Governo, possa haver reservas ou entendimentos distintos relativamente a esta matéria. Mesmo havendo a vontade de aumentar o pacote financeiro, ele pode ficar aquém do que foi sugerido por nós, mas é para isso que existem conversações, interlocução, diálogo. Aquilo que espero é que o próximo Governo, qualquer que ele seja, tenha em consideração a proposta que apresentámos e possa conversar connosco para encontrarmos, se não a solução que apresentámos, uma que permita reforçar de forma significativa aquilo que são os apoios ao tecido associativo […] para a participação nos Jogos Olímpicos de Paris”, manifestou.
José Manuel Constantino detalhou que a proposta apresentada pelo COP continha “uma alteração das bolsas dos atletas e dos treinadores”, ou seja, “um aumento”, além de “uma graduação diferente e que traduziria um apoio financeiro, quando comparado com o do exercício anterior, de [mais] 36%”.
“E o Governo, na altura, tinha na proposta orçamental, que depois não foi aprovada, um aumento que ficava aquém deste montante. Explicou-nos que não tinha condições. Entendemos que podemos até aproximar-nos dos valores que são propostos pelo Governo se reduzirmos o período de incidência desse apoio. Imagine que tratamos de um pacote financeiro até aos Jogos de Paris… é uma coisa. Tratamos de um pacote financeiro até um ano após Paris2024, já tendo em atenção os Jogos de Los Angeles2028, é outra coisa”, exemplificou.
O dirigente disse ter transmitido, então, ao Governo estar disponível para “negociar sobre o prazo” da incidência do apoio, “à semelhança do que está a acontecer neste ciclo”, no qual os valores previstos para o ano pós-Tóquio2020 foram canalizados para a preparação para a competição, adiada um ano devido à pandemia de covid-19.
“Nós não gastámos um euro para além daquilo que era previsto, mesmo havendo adiamento dos Jogos, mesmo tendo uma despesa de apoio aos atletas, aos treinadores e às federações superior àquilo que nós tínhamos estimado, porque a despesa que tínhamos estimado era apenas em relação a atletas que tinham alcançado resultados em 2020 nos Jogos [e] transitavam automaticamente para Paris, o que só vai ocorrer em 2022 – está a ocorrer desde setembro até agora”, explicou.
Notando que o COP conseguiu “encaixar todos os apoios à preparação olímpica no pacote financeiro” que lhe foi atribuído, Constantino espera agora “a constituição do próximo Governo” para que as conversações possam ser reatadas e incidirem sobre o encurtamento do “período de aplicação do próximo pacote financeiro” destinado a Paris2024.
“Acho que era muito importante, qualquer que venha a ser o Governo, dar este sinal aos atletas, às federações, aos treinadores. Vamos mudar de ciclo, basicamente trabalhamos com um montante que vem do Rio2016. Trabalhámos dois ciclos com um nível de financiamento equivalente e acho que este ciclo que vamos iniciar, face aos resultados alcançados pelos nossos atletas, mereceria, por parte do Governo, um sinal de reforço”, reiterou.
Muito crítico do ‘esquecimento’ a que o Governo de António Costa votou o desporto durante a pandemia de covid-19, o presidente do COP assumiu, em entrevista à Lusa, ter ficado “satisfeito” pelo facto de os membros do executivo, assim como o Presidente da República, se terem congratulado com os feitos dos atletas portugueses em Tóquio2020.
“Fiquei satisfeito que tenham reconhecido o sucesso dos nossos atletas, como ficaria triste se não houvesse essa manifestação de reconhecimento. Creio que os nossos governantes tomaram as posições públicas que era expectável tomarem face a um sucesso que não era apenas dos atletas, era um sucesso de Portugal”, completou.
Constantino abordou ainda a prometida receção dos medalhados olímpicos no Palácio de Belém, revelando que ainda não está marcada.
“O Presidente da República encontrou-me na cerimónia de celebração dos 10 anos da presidência de Fernando Gomes [Federação Portuguesa de Futebol] e falou-me nesse assunto, gostaria de o encerrar. Está do lado dos serviços da Presidência encontrar a data mais adequada para que a vontade que o senhor Presidente da República manifestou se possa traduzir no ato que ele próprio anunciou ao país”, pontuou.
Evocando o período de Natal, um momento de “concórdia”, para evitar pronunciar-se sobre a polémica em torno da demora na receção e condecoração por parte de Marcelo Rebelo de Sousa dos medalhados em Tóquio2020, que decorreram entre 23 de julho e 08 de agosto, o presidente do COP disse não querer “acrescentar mais nada” ao que já disse – lamentou o tratamento diferente dispensado à seleção de futsal, recebida pelo Chefe de Estado dias depois de se sagrar campeã mundial.
“Quero é que este assunto seja resolvido o mais rapidamente possível. E o mais rapidamente possível não depende da nossa vontade, depende naturalmente dos compromissos da Presidência da República e da vontade do Presidente da República relativamente a este ato”, concluiu.
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