Melanie Oliveira, que sofre de esclerose múltipla, lembrou-se esta segunda-feira de todos os doentes crónicos portugueses que lutam por uma vida normal quando transportou a tocha olímpica nas ruas de Londres.
Nomeada por colegas da companhia aérea British Airways, na qual trabalha, Melanie declarou-se «eufórica» com a experiência, mas não esqueceu os muitos amigos e pessoas com quem se cruza em hospitais e associações de apoio a doentes crónicos.
«Eu estou contente porque não estou cá só por mim, estou cá porque tenho uma doença crónica e por isso estou cá a representar todos aqueles doentes crónicos que vivem uma vida diariamente diferente das pessoas que não têm nenhuma doença e estou contente por estar a representar essas pessoas», afirmou à agência Lusa.
Após saber que tinha sido escolhida para transportar a tocha dos Jogos Olímpicos Londres2012, colocou uma mensagem no Facebook e recebeu e-mails de apoio de quase uma centena de pessoas, o primeiro dos quais o amigo Tomás, que sofre de doença renal.
Os nomes foram impressos e a lista viajou no bolso de Melanie como forma de solidariedade com outros doentes crónicos que enfrentam dificuldades no quotidiano.
No caso de Melanie, a doença revela-se diariamente no cansaço, falta de equilíbrio, dormência no corpo, tendo sofrido recentemente um surto que lhe afetou visão.
«A doença pode manifestar-se de formas diferentes. O que é triste é que, quando as pessoas olham para nós, acham que somos pessoas perfeitamente normais», lamentou.
«Eu vou no metro, posso ir com uma falta de equilíbrio brutal, e ninguém me dá o lugar para eu me sentar», exemplificou.
A ideia de nomear Melanie foi de Manuela Valério, diretora de recursos humanos regional da transportadora britânica, que admira a atitude da colega perante os sintomas da doença, que incluem fadiga, dores e problemas de coordenação e equilíbrio.
Todavia, a gestora de clientes de 38 anos continua a trabalhar a um ritmo intensivo, incluindo muitas vezes horas extraordinárias e fins de semana.
«Com a doença que tem continua a ser uma pessoa extraordinária, porque durante o dia a dia não demonstra, é uma pessoa muito ativa, com um grande sentido de humor», afirmou Manuela Valério à Lusa.
Também o pai, Eduardo Oliveira e Silva, que integrou uma "claque" de familiares e amigos que correram com Melanie o trajeto de cerca de 300 metros, destacou «exemplo de coragem e de força».
«Mas não é a única, há muitos exemplos», garantiu.
Melanie foi a única portuguesa nomeada na campanha feita internamente na transportadora britânica que, enquanto patrocinadora dos Jogos Olímpicos, pôde indicar 40 portadores da tocha.
A portuguesa foi escolhida entre 470 empregados que se candidataram a nível internacional e juntou-se aos muitos portadores da tocha que os organizadores chamaram de «pessoas normais extraordinárias» pelos feitos pessoais ou em prol de causas.
Durante a manhã do 66.º dia da viagem pelo Reino Unido iniciada a 18 de maio, a chama olímpica também foi transportada pelo português Jorge Gonçalves, presidente da Associação de Imagem e Som Europeia, na zona de Bromley.
Ao todo, a tocha olímpica será transportada por oito mil pessoas ao longo de oito mil milhas (12.874 quilómetros) até à chegada a 27 de julho ao Estádio Olímpico, durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos.
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