Paris2024 acertou ao criar o ‘Parque dos Campeões’, uma inovação que reuniu hoje milhares de pessoas em Trocadéro para aclamar os medalhados destes Jogos, numa festa das nações em que o ouro foi para Novak Djokovic e Teddy Rinner.

Ainda as portas não se tinham aberto e já centenas de pessoas se acumulavam numa fila serpenteante e irregular junto à estação de metro de Iéna. Escoltados por polícias, de um lado e do outro - e com carrinhas a bloquear os acessos -, os entusiastas dos ‘JO’, a sigla usada pelos franceses para se referirem aos Jogos, tentavam esquivar o calor, debaixo das árvores frondosas da Avenue d’Iéna.

Equipados com as cores do seu país, nomeadamente a bandeira tricolor - os franceses estavam obviamente em maioria -, os adeptos aproveitaram esta inovação de Paris2024 para ver de perto os seus ídolos.

A entrada gratuita e o cartaz, com o símbolo nacional Teddy Riner e o tenista sérvio Novak Djokovic como estrelas maiores, atraíram milhares de pessoas, que não resistiram a refrescar-se nos aspersores espalhados em fila atrás das bancadas - outros eram mais ousados, molhando a cabeça debaixo das ‘fontes’ espalhadas pelo recinto para encher os cantis.

Adultos, crianças, algumas ainda bebés, famílias inteiras ‘arrefeciam’ os 30 graus do ar sem deixar de apressar o passo, para tentar garantir o melhor lugar sentado, ou, pelo menos, o mais próximo do palco onde os medalhados iam desfilar.

Fechado entre sexta-feira e domingo devido às provas de fundo do ciclismo de estrada, que aí terminaram no fim de semana, o Parque dos Campeões, por onde podem passar todos os medalhados destes Jogos, encheu-se hoje a um ritmo cada vez mais veloz à medida que os assentos se iam esgotando.

Enquanto aguardavam, os espetadores, cuja maioria, além dos símbolos identificadores dos seus países, tinha qualquer ‘equipamento’ alusivo a Paris2024, fosse uma t-shirt, um boné ou um pin, assistiam à prova de canoagem slalom, com franceses a competir.

Às 16:40 em ponto (menos uma hora em Lisboa), a ‘sessão’ foi declarada aberta, com o anúncio de que o Parque, com uma lotação para 13.800 pessoas, estava esgotado.

Britânicos, irlandeses, colombianos, argentinos com a camisola de Lionel Messi, neerlandeses, muitos alemães e sérvios, como não, além de muitas outras nações, entusiasmaram-se quando os apresentadores gritaram pelos seus países, agitando as suas bandeiras no ar, num exercício de cultura geral dos ‘cicerones’ que não esqueceu Portugal.

Nos ecrãs, passaram imagens dos medalhados dos últimos dias, com o ciclista belga Remco Evenepoel a merecer um grito especial, em nada comparado com o bruaá provocado pelo vídeo de Djokovic.

Mas o primeiro ponto alto aconteceu quando foram disparados para as bancadas bilhetes VIP que valiam uma visita aos bastidores, para conhecer os medalhados destes Jogos. Lucie, com o seu boné rosa de Paris2024, ainda tremia quando falou com a agência Lusa: procurada nas bancadas pelos voluntários, nem queria acreditar na sorte que tinha tido.

“É super, estou muito contente. Este é o meu dia de folga e pensei vir desfrutar do evento”, contou muito nervosa, preferindo mesmo falar em francês para explicar que os seus favoritos são “todos os franceses”.

Enquanto Lucie se dirigia aos bastidores, a pista de dança abriu com bailarinos nas bancadas e um DJ a convidar o público a levantar-se e a comungar numa grande festa, expressa na mais global das celebrações, a ‘ola’, que antecedeu a Trokad’heros, uma performance urbana de 30 bailarinos vestidos de branco e beije, idealizada por Mourad Merzouki.

Mas o público queria ver os medalhados e eles chegaram, já depois do lendário fundista marroquino Hicham El Guerrouj, campeão olímpico dos 1.500 e dos 5.000 metros em Atenas2004, discursar.

“Não é fácil estar aqui tanto tempo debaixo de tanto calor. Agradeço-vos pelo amor pelo desporto, pelo amor pelo olimpismo”, disse após assumir-se “emocionado” pelo acolhimento que recebeu das pessoas que aguardavam para ver os heróis de Paris2024, desejando que os atletas possam viver “momentos históricos” nuns Jogos “maravilhosamente” organizados.

Estava na hora de entrarem em cena os campeões, com o norueguês Markus Rooth, ouro no decatlo, a ser o primeiro a percorrer o palco, timidamente, limitando-se a pousar para os fotógrafos, num contraste abismal com quem se lhe seguiu: quando Djokovic foi anunciado, o público levantou-se como uma ‘mola’, gritando ‘Djoko, Dkojo’, enquanto o sérvio, envolto na sua bandeira, desfilava felicíssimo, cumprimentando o público, pulando ao som da música e beijando a sua medalha.

“É emoção mais bela da minha vida, da minha carreira”, confessou em francês, antes de mudar para o inglês para defender que o ouro olímpico é o pináculo para qualquer atleta.

Pelo palco foram passando medalhados – uns davam autógrafos, outros tiravam selfies e outros ainda limitavam-se a acenar aos milhares concentrados no Trocadéro – de modalidades tão dispares como o badminton ou a vela, mas o protagonismo do tenista sérvio só foi superado pelos judocas franceses que ganharam o ouro na competição por equipas mistas.

A entrada da equipa francesa, vencedora do ‘ouro’ para os atletas mais animados da tarde, mereceu o hino nacional cantado a plenos pulmões - até os estrangeiros trautearam a ‘Marselhesa’ -, intercalado com gritos por Teddy Riner.

Clarisse Agbegnenou pegou no microfone para cantar uma música que, aparentemente, todos os franceses conhecem, mas o público queria mais, queria ouvir o ícone do desporto francês e Riner fez-lhes a vontade, pedindo uma ronda de aplausos para os colegas.

Os judocas despediram-se com uma coreografia improvisada, mostrando os seus dotes de dançarinos – até houve quem dançasse salsa -, num pico de emoção a seguir ao qual Sébastien aproveitou para descansar.

Sentado no muro atrás da bancada, aproveitando a sombra que dela emana, o francês equipado a rigor resumiu à Lusa na perfeição a jornada que tinha acabado de viver: “Foi fantástico, éramos não sei quantos milhares. O ambiente é incrível e é agradável ver os medalhados da véspera aqui. É qualquer coisa de extraordinário”.

Paris2024 pode ter falhado em muitas coisas, mas o Parque dos Campeões é, seguramente, uma aposta ganha. “Queria vê-los mais de perto, sem ser na televisão. A proximidade, poder aclamá-los, é mesmo uma experiência diferente”, concluiu Sébastien.