Em entrevista ao SAPO Desporto, Carlos Martingo, selecionador nacional de sub-20, abordou a participação no último Campeonato da Europa que teve lugar em Matosinhos e onde a equipa das quinas acabou como vice-campeã. A jogar em casa e apesar de não ter logrado o título, o técnico acredita que estes jogadores têm tudo para trilhar um caminho de sucesso e conseguirem grandes feitos.

Portugal acabou derrotado final do Campeonato da Europa de sub-20 contra Espanha por 37-35 e esteve próximo de conquistar um inédito título no escalão e na modalidade.

SAPO Desporto: Ficou com um sabor amargo depois da equipa ter estado tão perto de conquistar o título europeu?

Carlos Martingo: Naturalmente encontrámos um balneário muito triste. Depois da campanha fantástica que fizemos, todos nós sonhávamos com a vitória... infelizmente tal não aconteceu. Os resultados e o desempenho deste grupo de jovens tem vindo a obter fala por eles. As críticas não me causam grande transtorno, pelo contrário, fazem-nos crescer.

SD: Qual era o objetivo antes desta Campeonato da Europa?

CD: As expectativas eram elevadas desde o princípio, nós tínhamos definido como objetivo ser campeões.

SD: Para os menos atentos, os resultados obtidos pelos sub-20 surpreendem, a que se deve esta evolução?

C.M: Os jogadores têm evoluído muito nos clubes, e isso foi algo que se refletiu neste europeu.
Este crescimento que tem vindo a acontecer no andebol não é de agora, é um crescimento sustentado desde há uma década para cá em que várias gerações têm conseguido bons resultados, quer nos europeus, quer nos mundiais.

SD: Há aqui trabalho por parte dos clubes naturalmente

C.M: Estes resultados são principalmente fruto do trabalho feito pelos clubes. É lá que os jogadores passam grande parte da época e naturalmente se não houver um bom trabalho nos clubes, nós nas seleções não podemos fazer milagres.

SD: Esperavam esta euforia em torno da seleção?

C.M: A maior prova de qualidade do andebol que apresentaram foi a euforia criada à volta desta seleção. Não é normal para uma seleção de andebol, muito menos de sub-20, ter criado um clima de euforia como aquele que vivemos durante este europeu.

SD: Qual tem sido o papel da Federação de andebol?

C.M: O investimento da Federação também tem sido importante; tem permitido maior número de jogos internacionais, maior número de dias de estágio. Todos estes fatores permitem ao andebol português continuar a crescer.

SD: Será preciso melhorar o nosso andebol ao nível da formação e o campo de recrutamento, para possamos repetir estes resultados?

C.M: Acho que precisamos de melhorar no que toca ao recrutamento. Dos 19 jogadores que jogaram este europeu, sete são da geração anterior. Se por um lado é bom pois prova que conseguem jogar com muita qualidade num escalão superior ao seu, por outro é revelador da falta jogadores disponíveis em cada escalão. (...) Um aumento do número de jogadores portugueses irá, por seu lado, aumentar a competitividade dos clubes e, consequentemente, do campeonato nacional. Assim serão criados alicerces mais sólidos para o desenvolvimento da modalidade.

SD: O Francisco Costa foi um dos jogadores em destaque na equipa portuguesa, a que patamar poderá chegar o lateral direito da seleção portuguesa?

C.M: O Kiko tem demonstrado uma enorme qualidade nos últimos anos. É um jovem de 18 anos com todas as condições técnicas, física e mentais para ser um jogador de topo. Ele vai continuar a crescer e a evoluir na sua carreira e assim poderá dar o salto para um clube de topo. Espero que esse "problema" lhe seja criado brevemente.

SD: Face à evolução do andebol português, poderemos vislumbrar a possibilidade de ter um jogador português entre os melhores do mundo?

C.M: Para ser o melhor jogador do mundo é preciso, como é óbvio, estar ligado a uma equipa que tenha sucesso. Se o jogador estiver numa equipa de topo, provavelmente vai ter uma visibilidade maior, e acho que há muitos jogadores portugueses com capacidade para serem, um dia, o melhor jogador do mundo.

SD: Que trabalho se poderá fazer para que o andebol feminino consiga acompanhar a evolução do andebol masculino?

C.M: Os resultados das seleções femininas têm vindo a melhorar nos últimos dois anos. Muito graças à criação dos centros de treino, a um maior investimento na qualificação dos treinadores, e maior qualidade no 'scouting'. Para além da capacidade técnica, temos também de nos focar na vertente física. Acredito que esse trabalho está a ser feito. Esta seleção que vai disputar o campeonato do mundo é uma seleção que poderá fazer um bom resultado. Tal poderá ajudar ao desenvolvimento do andebol feminino português.

SD: Onde é que vê esta equipa daqui a cinco, 10 anos?

C.M: Esta geração tem todas as condições para ser a espinha dorsal da seleção portuguesa num futuro próximo. Todavia estamos a falar de jovens atletas, portanto temos de gerir com atenção as suas expectativas. Nesta altura temos uma seleção 'A', por isso não é assim tão fácil entrar na equipa. Se tudo correr normalmente, serão estes jogadores a espinha dorsal da seleção no europeu 2028 que vai passar por Portugal.