A jogadora brasileira de voleibol de praia Carol Solberg recebeu hoje uma "advertência" por protestar numa competição contra o Presidente do país, Jair Bolsonaro, tendo sido julgada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) daquela modalidade.
O STJD absteve-se de suspender a atleta por até seis jogos.
Solberg foi submetida a um polémico julgamento no tribunal da Confederação Brasileira de Voleibol por ter gritado "Fora Bolsonaro" quando concedia uma entrevista televisiva após conquistar, em 20 de setembro, a medalha de bronze na primeira etapa do Circuito Brasileiro de voleibol de praia.
O tribunal, que julgou a jogadora por suposta conduta contra a disciplina e ética desportiva, poderia ter-lhe imposto uma multa de até 100.000 reais (cerca de 15 mil euros, no câmbio atual) e uma suspensão de até seis jogos, caso fosse considerada culpada.
No entanto, no meio de protestos de alguns líderes desportivos contra o que consideravam ser censura de uma atleta pelas suas opiniões políticas, o tribunal limitou-se a impor uma multa de 1.000 reais (152,7 euros), que acabou por ser convertida numa "advertência" pública.
A sanção simbólica foi imposta por três votos a favor e dois contra dos membros da Primeira Comissão Disciplinar do STJD do Voleibol.
Os juízes declararam Carol Solberg culpada de violação do artigo 191 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê sanções para atletas que violarem o regulamento de uma competição, mas absolveram-na das acusações de violação do artigo 258 do mesmo código, que tipifica "condutas contrárias à disciplina e à ética desportiva".
No entanto, os magistrados advertiram Carol Solberg de que não pode voltar a expressar as suas opiniões políticas nos campos.
“Foi um puxão de orelhas. Uma advertência. Se ela reincidir, pode ser punida com mais severidade”, resumiu o presidente da Primeira Comissão Disciplinar, Otacílio Araújo.
“Não se pode ir para campo para se manifestar de forma política ou religiosa. O atleta pode dizer o que quiser nas suas redes sociais, mas não numa competição oficial”, acrescentou Araújo.
A favor do direito de liberdade de expressão da atleta, manifestaram-se antes do julgamento o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e o presidente do Comité Olímpico Brasileiro (COB).
Carol Solberg, que compete em circuitos nacionais e internacionais como parceira da campeã mundial (2013) Talita Antunes da Rocha, defendeu a sua inocência numa mensagem publicada nas redes sociais antes do julgamento e na qual disse que não estava arrependida do seu posicionamento.
"Estava muito feliz de ter ganho o bronze e, na hora de dar a minha entrevista, apesar de toda alegria ali, não consegui não pensar em tudo o que está a acontecer no Brasil, todas as queimadas, a Amazónia, o Pantanal, as mortes por covid-19 e tudo mais, e saiu-me um grito totalmente espontâneo de tristeza e indignação por tudo o que está a acontecer", disse a desportista.
“Não estou arrependida, porque apenas exerci o meu direito à liberdade de expressão. Não violei nenhuma lei”, acrescentou a brasileira.
Carol Solberg relembrou os casos de outros jogadores de voleibol que fizeram manifestações a favor de Bolsonaro em competições e não foram julgados pelo seu comportamento.
A atleta acrescentou que qualquer suspensão, além de injusta, seria prejudicial para a sua carreira.
Solberg, de 33 anos, foi campeã sul-americana em 2002 ao lado da sua irmã María Clara, com quem também foi vice-campeã mundial em 2013 e vice-campeã brasileira em 2007 e 2015.
Como companheira de Maria Elisa, foi campeã brasileira em 2018, quando foi eleita a melhor jogadora do Circuito Nacional.
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