Após o ano mais duro dos seus sete à frente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino escusa-se a falar no seu futuro pós-Tóquio2020, remetendo uma decisão quanto à sua continuidade (ou não) para depois dos Jogos Olímpicos.
“Foi o ano mais duro do meu mandato, não apenas pelas questões de trabalho decorrentes do exercício destas funções [num contexto de pandemia], mas também por questões de âmbito mais pessoal e que, naturalmente, transformaram este ano num ano difícil, num ano muito duro para utilizar a sua expressão”, assumiu em declarações à agência Lusa.
O ano de 2020 marcaria o final de um ciclo olímpico, com a realização de Tóquio2020, mas a pandemia do novo coronavírus adiou a competição e, consequentemente, a decisão do presidente do COP sobre o futuro.
Embora seja pronto a contestar com um “claro” à pergunta sobre se já refletiu sobre uma eventual recandidatura à liderança do organismo após os Jogos da capital japonesa, José Manuel Constantino, que preside ao COP desde março de 2013, remete a resposta a essa questão para aquilo que chama de “momento próprio”.
“Há um tempo de trabalho, um tempo de avaliação e um tempo da decisão. Eu ainda estou na fase do trabalho. Ainda não passei à segunda fase, que é de avaliação. Não me peça para anunciar a terceira fase, que é da decisão”, contrapôs.
Antes desse momento de balanço, o presidente do COP ainda tem pela frente uns Jogos Olímpicos nos quais espera o mesmo grau de exigência da opinião pública (e, sobretudo, de alguns meios de comunicação social), que há quatro anos criticou a missão portuguesa por ter conquistado uma única medalha, o bronze da judoca Telma Monteiro, e questionou as verbas envolvidas na preparação olímpica.
“Não há na sociedade portuguesa elementos de alteração que possam fazer antever que esse tipo de críticas não venha a ocorrer. Portanto, estamos preparados para isso, faz parte do nosso caderno de encargos”, reconheceu.
Para Constantino, os portugueses não têm noção da disparidade do orçamento do COP relativamente ao de outros comités olímpicos nacionais, “nem têm a noção de quanto é que, mesmo no nosso país, outros setores recebem quando comparado com a preparação olímpica”.
“Mas eu sei que esta é uma situação tão crítica que eu até tenho algum pudor em a abordar em termos públicos, porque posso fazer passar a ideia de que ‘lá está este parceiro a arranjar desculpas para justificar não ter os resultados que tem’. Mas quando nós comparamos efetivamente o investimento que o Estado português faz na preparação olímpica com o investimento que faz em outros setores, inclusive no desporto, temos de constatar que ele é, do ponto de vista comparativo, muito pequeno”, começou por salientar.
“E quando comparamos isso com outros países com os quais nos temos de medir do ponto de vista desportivo, com os quais temos que competir… naturalmente que o dinheiro, não sendo um fator determinante, ajuda a fazer alguma diferença em todos os setores sociais. O desporto não é uma exceção relativamente a esta questão”, completou.
O líder do COP não quis, todavia, alongar-se sobre as verbas olímpicas, indicando que “houve um tempo para fazer esse tipo de avaliação e de análise” aquando da assinatura do contrato-programa com o Governo, em 2017.
“Assinámos um contrato-programa com o Estado, foram-nos atribuídos um conjunto de meios financeiros e nós assumimos, perante esses meios financeiros, um conjunto de responsabilidades do ponto de vista da obtenção de objetivos. É por isso que eu tenho de responder. Essa é uma questão. E é sobre essa questão que agora, a menos de um ano da realização dos Jogos, tenho de assegurar que os objetivos que contratualizámos com o Estado português possam ser atingidos”, reiterou.
A discussão sobre se “os meios são poucos, são muitos ou assim-assim”, é uma outra que o dirigente não quer ter agora, “sob pena de poder estar a ser acusado de estar a encontrar desculpas” para que os objetivos a que se corresponsabilizou, “juntamente com as federações desportivas, não sejam atingidos”.
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