Acima das nuvens, Jorge Paulo Pereira habituou-se a liderar em silêncio, entre check-lists e rotas intercontinentais. Mas, quando trocou o cockpit pelo mar aberto de Cascais, trouxe consigo a mesma disciplina e a mesma exigência. “Tenho uma profissão exigente, acompanha-me a postura de rigor e qualidade, tinha a mesma visão para os meus eventos — e assim fomos crescendo”, conta o comandante da TAP, que aos 40 anos descobriu no triatlo um novo rumo para a vida.

Foi a água que abriu caminho. Em 2012 lançou o Swim Challenge Cascais, que mais tarde renasceu como Swim Grand Prix. O novo nome não era mero detalhe: simbolizava ambição internacional e o salto qualitativo que a introdução das provas Ultra e Maratona permitiu. “Não fui pioneiro, mas fui o primeiro organizador privado e pioneiro a fazer provas de águas abertas com fato isotérmico”, sublinha, orgulhoso. Cascais passava a ter no mar uma montra global de resistência.

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O gosto pelo triatlo já vinha de trás. Em 2007 enfrentou o primeiro desafio pessoal e, três anos depois, concluía o mítico Ironman da Áustria. Pelo meio, fundava o Triatlo Clube TAP — colegas de profissão tornados companheiros de treino —, com o qual se sagrou campeão nacional. Depois, agarrou o projeto de uma equipa da região de Cascais (AHBE) e voltou a erguer títulos. “Foi assim que entrei na montra para o que viria a seguir”, recorda. Daí para o Triatlo do Estoril (2013 e 2014) e o Cascais Triathlon, em 2015, na distância half, foi um passo natural. Um passo que acabaria por ser o berço do Ironman 70.3 Cascais.

Quando o sonho se concretizou, em 2017, a realidade superou as melhores previsões. Mais de dois mil atletas — “mais de 80% deles estrangeiros” — nadaram na baía, pedalaram pela marginal até Algés e pela Serra de Sintra, e correram junto ao Atlântico. O impacto na economia local foi imediato e cresceu a cada edição. “Sempre imaginei Cascais como Território Ironman. Esta baía, com a moldura da serra, a história da região e percursos tão icónicos, espelham-se numa experiência única dos atletas e milhares de acompanhantes, agora atingindo um impacto nunca imaginado de 20 milhões de euros na economia local. Somos neste momento o terceiro maior evento mundial da marca e recebemos mais nações do que o campeonato do mundo”, frisa.

Mas Jorge Paulo Pereira não é homem de ficar à sombra dos êxitos. Acostumado a liderar rotas e a redesenhar percursos, procura sempre novos horizontes. Subiu com os filhos ao Everest Base Camp, numa aventura que reflete a sua filosofia de vida. “Gosto de me expor a experiências fora da minha zona de conforto. Cada objetivo alcançado tem um significado pessoal, mas é uma oportunidade de transmitir às pessoas o quão longe podemos chegar quando acreditamos. Esses momentos dão-nos uma perspetiva muito abrangente da vida e tornam-nos mais preparados para enfrentar todas as adversidades. Por isso quero aproveitar ao máximo a vida e concluir os 250 km do Marathon des Sables, no Sahara”, projeta.

Entre o rigor das cabines de pilotagem, a dureza das montanhas e a adrenalina das metas, Jorge Paulo Pereira transformou dois sonhos pessoais — o Swim Grand Prix e o Ironman Cascais — num legado coletivo. Hoje, Cascais é paragem obrigatória no mapa mundial do triatlo. E o comandante que trouxe a “prova mais dura e prestigiada do planeta” para Portugal continua a mostrar que não há limites para quem acredita — no cockpit, nas provas de resistência ou na vida.