Sete anos depois de vencer pela primeira vez, o combativo Ion Izagirre voltou hoje a levantar os braços na Volta a França em bicicleta, consolidando, na 12.ª etapa, o fim das ‘secas’ de Cofidis e Espanha na prova.
A Cofidis teve de esperar 15 anos para regressar aos triunfos no Tour, através de Victor Lafay, logo ao segundo dia, mas, hoje, a equipa francesa celebrou a segunda vitória em etapas na 110.ª edição, tal como Espanha, que há apenas dois dias tinha visto o também basco Pello Bilbao (Bahrain Victorious) interromper um interregno que durava desde 2018, mais precisamente há 100 etapas.
“Está a ser um Tour incrível para nós. Vínhamos com a intenção de ganhar uma etapa, e fazer um top 10, e já levamos duas vitórias e o Guillaume [Martin] também está a fazer uma prova excelente”, realçou Izagirre, que atacou os ciclistas que ‘restavam’ da fuga do dia a cerca de 30 quilómetros do final e chegou isolado a Belleville-en-Beaujolais.
Cinquenta e oito segundos depois do vencedor, que cumpriu a 12.ª etapa em 03:51.42 horas, cortaram a meta o francês Mathieu Burgaudeau (TotalEnergies) e o norte-americano Matteo Jorgenson (Movistar), com o português Ruben Guerreiro a ter de contentar-se com o nono posto, a 01.27 do basco da Cofidis.
Após um início de jornada frenético, o camisola amarela Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), tal como os restantes favoritos, chegou integrado no pelotão a 04.14 minutos do vencedor. O campeão em título vai, assim, encarar a difícil chegada ao Grand Colombier, na sexta-feira, com 17 segundos de vantagem sobre o esloveno Tadej Pogacar (UAE Emirates) e 02.40 minutos sobre o australiano Jai Hindley (BORA-hansgrohe), um tranquilo terceiro.
O perfil acidentado dos 168,8 quilómetros entre Roanne e Belleville-en-Beaujolais tornava atrativa a presença na fuga do dia e, por isso, durante mais de 80 quilómetros os candidatos ao triunfo na etapa de hoje atacaram e contra-atacaram, num ritmo alucinante que fez disparar a média da primeira hora de corrida – foi superior a 45 km/h – e cortou o pelotão em dois, deixando, entre outros, os gémeos Adam (UAE Emirates) e Simon Yates (Jayco AlUla), respetivamente sexto e sétimo da geral, ou o nono, David Gaudu (Groupama-FDJ), atrasados.
A demora na formação da escapada, e os sucessivos ataques, levaram, inclusive, a movimentações entre os primeiros da classificação, com Thomas Pidcock (INEOS) a tentar ‘colar-se’ a um grupo que seguia mais adiante e no qual estava, como não podia deixar de ser, Wout van Aert (Jumbo-Visma), que haveria de insistir a solo durante mais alguns quilómetros.
Apesar de o pelotão se ter reagrupado, com Sepp Kuss (Jumbo-Visma), Mikel Landa (Bahrain Victorious) e Ben O’Connor (AG2R Citroën) a serem os únicos homens da geral a continuarem atrasados – haveriam de lá chegar já dentro dos 40 quilómetros finais -, a ‘loucura’ da primeira hora arrastou-se, com a própria organização do Tour a ter dificuldade em identificar os ciclistas que se espalhavam pelos vários grupos.
Só ao quilómetro 81 a impetuosidade dos corredores ‘acalmou’, com a formação da fuga, impulsionada por Tiesj Benoot (Jumbo-Visma), Mads Pedersen (Lidl-Trek) e Dylan Teuns (Isral-Premier Tech), à qual se juntaram Ruben Guerreiro e Matteo Jorgenson, Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck), Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), Izagirre e o seu companheiro Guillaume Martin, Andrey Amador (EF Education-EasyPost), Victor Campenaerts (Lotto Dstny), Tobias Johannessen (Uno-X) e Burgaudeau.
Os 13 escapados foram, depois, alcançados por Julian Alaphilippe (Soudal Quick-Step) e Jasper Stuyven (Lidl-Trek), e construíram uma margem digna de registo para o grupo do camisola amarela, chegando a superar os quatro minutos.
O Col de la Croix Montmain, uma segunda categoria a menos de 50 quilómetros da meta, fez a seleção entre os fugitivos, numa altura em que Van der Poel já seguia isolado, depois de atacar a descer, coroando o alto – onde Guerreiro sprintou para somar pontos para a classificação da montanha - com cerca de 20 segundos de vantagem sobre os perseguidores.
A solidão de ‘MVDP’ seria apenas momentânea, com o neerlandês a receber a companhia de Jorgenson, Pinot, Benoot, Martin, Johannessen, Burgaudeau e Izagirre, que atacou no Col de la Croix Rosier, a última das cinco contagens de montanha da jornada, e ganhou 20 segundos, dilatados até um minuto com as suas qualidades de descedor.
Na zona do famoso vinho Beaujolais, o nem sempre sortudo basco, de 34 anos, viu recompensada a sua tenacidade, característica indelével na sua carreira, somando a segunda vitória na Volta a França, depois da conseguida no Tour2016, num palmarés que conta ainda com um triunfo em cada uma das outras ‘grandes’.
Atrás de si, Burgaudeau e Jorgenson discutiram o segundo lugar, com o francês a levar a melhor, e o português da Movistar chegou uns segundos depois, reentrando no top 30 da geral, ao subir a 28.º, a 35.49 de Vingegaard.
Já o seu colega luso da Movistar, Nelson Oliveira, é 63.º, a 01:24.43 horas do dinamarquês, depois de hoje ter sido 61.º na tirada, a mais de 11 minutos. Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) fecha o ranking nacional na geral, na 95.ª posição, a já duas horas do camisola amarela – hoje, perdeu 25.57.
Na sexta-feira, os 17,4 quilómetros de ascensão ao Grand Colombier, ponto final da ligação de 137,8 quilómetros desde Châtillon-sur-Chalaronne, onde a meta coincide com uma contagem de montanha de categoria especial, ‘prometem’ mexidas na geral e, presumivelmente, ataques de Pogacar, ansioso por recuperar a amarela que vestiu em Paris no final das edições de 2020 e 2021 da ‘Grande Boucle’.
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