A pandemia da COVID-19 desviou o Tour de France deste verão, mas os organizadores acreditam ter tido mãos para o desafio ao anunciarem um adiamento da prova em dois meses.
Não é a primeira vez que o grande evento do ciclismo mundial fica sob ameaça.
A organização espera que a data de partida de 29 de agosto, a partida mais tardia nos 116 anos de Tour, garanta a sobrevivência do Tour à tempestade.
A Agência France-Presse fez um levantamento das dificuldades pelas quais o 'Tour' já passou ao longo da sua centenária história.
Tiros e fraudes
Na região de Saint-Etienne, durante a segunda edição da corrida em 1904, os apoiantes do favorito local, Alfred Faure, agrediram fisicamente os seus rivais. Tiros foram disparados para restaurar a ordem no que era já um tumulto. Existiu tanta batota, que os quatro primeiros foram desclassificados. Henri Desgrange, fundador do Tour disse na altura: "O Tour foi morto pelas paixões que despertou".
O mundo em guerra
No dia em que o Tour de France de 1914 começou, o arquiduque Francisco Fernando da Áustria foi assassinado em Sarajevo. A corrida chegou a Paris a 26 de julho, apenas dois dias antes do Império Austro-Hungaro declarar guerra à Sérvia, criando o palco para o começo da I Guerra mundial.
O belga Philippe Thys venceu o Tour nesse ano, o último a realizar-se até 1919.
20 anos depois
O Tour de 1939 começou sem corredores alemães, italianos e espanhóis e evitou as regiões do norte e oeste de França. Acabou cinco semanas antes da França e do Reino Unido declararem guerra à Alemanha Nazi. O Tour só voltou a ser disputado em 1947.
Estradas cortadas
Em 1982, perto de 300 metalúrgicos, em greve devido aos despedimentos na cidade de Denain, no norte de França, bloquearam a estrada durante o contrarrelógio de equipa, levando ao cancelamento da etapa. O Tour já tinha sido alvo de vários grevistas, mas nunca tinha cancelado uma etapa nem até ai, nem desde então. Contudo, em 1978 a primeira parte de uma etapa de duas foi anulada quando os próprios ciclistas colocaram os pés no chão e recusaram-se a continuar, devido à falta de tempo de descanso, terminando já junto à linha de meta.
Doping
Enquanto a França celebrava o Mundial de 1998, o ciclismo levou um doloroso golpe devido ao Caso Festina quando os funcionários da alfândega pararam um veículo repleto de produtos de doping. Formou-se uma tempestade de média, com buscas policiais e detenções, que levaram a equipa da Festina a ser expulsa da corrida, enquanto o pelotão se encaminhava para Paris num Tour que terminou sob uma nuvem negra e que a determinada altura pareceu que não iria ser concluído.
O Pária
A paixão do mundo pelo Tour foi fortemente testado nos anos seguintes, quando o ciclismo ficou enfeitiçado por Lance Armstrong, o texano da equipa US Postal [os Correios dos Estados Unidos da América], que venceu a prova entre 1999 e 2005. Armstrong acabou por ficar sem os títulos do Tour de France depois de admitir o uso de doping. O americano passou a ser visto como um pária, não só por causa do doping, mas tambem pela forma como usou o seu poder e influência ao mais alto nível do desporto para intimidar outros enquanto escondia a sua fraude.
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