Tiago Machado viveu hoje o seu momento de glória na Volta a França em bicicleta, subindo ao terceiro lugar da geral, num dia em que consagrou Tony Martin como vencedor da etapa e Tony Gallopin como novo camisola amarela.
Na sua estreia na prova, o ciclista da NetApp-Endura escolheu a fuga certa e, depois de cerca de 150 quilómetros à frente do pelotão, cortou a meta na décima posição, para assumir um destaque inesperado na classificação geral do Tour e, muito provavelmente, festejar o momento mais emblemático da sua carreira.
Na véspera da primeira etapa de alta montanha desta Volta a França, a Astana preferiu entregar a outro a amarela de Vincenzo Nibali (Astana) e deu via verde às fugas, facto aproveitado por Tony Martin (Omega Pharma-Quickstep) para conquistar a sua primeira etapa em linha no Tour, a terceira no seu total pessoal e o quinto triunfo alemão desta edição.
“Claro que há uma grande diferença entre uma vitória no contrarrelógio e numa etapa destas, desde logo porque sabes logo que venceste a corrida e podes festejar e no crono tens de esperar. Senti-me de forma incrível, claro. Nem dor sinto”, disse um efusivo Martin, que festejou o triunfo durante quilómetros antes de chegar à meta em Mulhouse.
Antes de um dia decisivo, anunciava-se uma fuga que atravessasse isolada as seis contagens de montanha do dia e as tentativas multiplicaram-se desde início, com os dois portugueses mais discretos até ao momento, Sérgio Paulinho (Tinkoff-Saxo) e José Mendes (NetApp-Endura) a tentarem a sua sorte num gigante grupo de 17 unidades.
Não seria essa a fuga a pegar, mas sim a de Tony Martin e Alessandro De Marchi (Cannondale), que demoraram a conseguir uma margem segura, mas beneficiaram de outra iniciativa, liderada pelo terceiro classificado do Tour2013, Joaquim Rodriguez (Katusha), para aumentar a distância para o pelotão.
Enquanto a fuga composta por 28 ciclistas, entre os quais Paulinho e Machado, e grandes nomes como o campeão espanhol José Joaquin Rojas (Movistar), o holandês Lars Boom (Belkin), Tony Gallopin (Lotto-Belisol), Pierre Rolland (Europcar), Fabian Cancellara (Trek), Dani Navarro ou Sylvain Chavanel (IAM Cycling), se organizava, Martin e De Marchi colaboravam em harmonia na frente.
A grande dimensão do grupo de perseguidores em vez de beneficiar atrapalhou, uma vez que não encontraram um consenso na hora de trabalhar, um facto aproveitado pelo duo da frente para estabilizar uma distância confortável.
Tony Martin é um portento e hoje mostrou-o na sua pedalada irredutível, encarando os 59 quilómetros que faltavam entre si e a meta – depois de liderar durante largos quilómetros o esforço dos fugitivos, deu uma arrancada, à qual De Marchi não respondeu – como se de um contrarrelógio se tratasse.
Impassível, foi aumentando paulatinamente a sua vantagem para os perseguidores, indiferente à chuva que começou a cair ou às investidas de Tiago Machado, que mostrou o seu caráter habitual, atacando na subida para Le Markstein, uma contagem de primeira categoria, ou de Joaquim Rodriguez, que denunciou hoje qual é o seu objetivo nesta edição (ganhar a camisola da montanha).
Com as equipas dos principais favoritos e do camisola amarela a preferirem resguardar-se para as dificuldades que estão reservadas para segunda-feira, não havia mais nada que pudesse impedir o três vezes campeão mundial de contrarrelógio (2011-2013) e duas vezes vencedor da Volta ao Algarve (2011 e 2013) de erguer os braços em Mulhouse, depois de 170 quilómetros desde Gérardmer e de 04:09.34 horas horas de prova.
Mas o protagonismo do afável alemão teve de ser repartido, devido à estratégia elaborada pela Astana para a nona etapa - aparentemente, a formação cazaque preferiu entregar a amarela de Vincenzo Nibali para não ter a obrigação de trabalhar -, que proporcionou uma inegável alegria aos franceses, ao permitir que Tony Gallopin, se tornasse o novo líder da geral, com 01.34 minutos de diferença para o anterior amarela, agora segundo.
O ciclista da Lotto-Belisol, de 26 anos, será camisola amarela a 14 de julho, feriado nacional em França, um feito que é, sem dúvida, o mais importante da sua carreira que, até hoje, tinha como expoente máximo a vitória na Clássica de San Sebastian, em 2013.
A 02.40 minutos do francês está Tiago Machado, agora o melhor português da geral individual, que tem Rui Costa (Lampre-Merida) na 11.ª posição. O campeão do mundo chegou integrado no grupo de favoritos, a 07.46 minutos de Martin e a cinco minutos do grupo de Machado e Paulinho, que foi encabeçado pelo suíço Fabian Cancellara (Trek).
Na segunda-feira, a alta montanha chega ao Tour, na décima etapa, um sobe e desce permanente de 161,5 quilómetros entre Mulhouse e La Planche des Belles Filles, que inclui uma contagem de terceira categoria, duas de segunda e quatro de primeira, a última das quais a coincidir com a meta, a 1.035 metros de altitude.
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