
A Volta a França terminou com a vitória de Tadej Pogacar, a quarta da sua história. O ciclista esloveno voltou a superiorizar-se à demais concorrência, naquela que foi a edição mais rápida da história (média de 2,849 quilómetros/hora).
Este ano, o Tour trazia duas etapas de particular má memória para o campeão do mundo, como o Hautacam ou o Col de la Loze, onde Pogacar perdera muito tempo para Vingegaard em edições anteriores.
Mas desta feita 'Pogi' resolveu exorcizar esses fantasmas, acabando por dominar as etapas de alta montanha, terminando com mais de quatro minutos de vantagem sobre o rival da Visma.
O líder da Team Emirates conseguiu tal feito sem a ajuda do seu principal 'escudeiro', já que João Almeida, grande candidato aos lugares cimeiros, foi forçado a abandonar devido a uma queda.
Destaque ainda para Nélson Oliveira, ciclista que completou a sua 22ª grande Volta.
Primeira semana: Muita animação e a centésima de Pogacar
A edição de 2025 surgia com algumas alterações relativamente ao seu formato mais habitual. Quem esperava uma primeira semana mais tranquila e apontada exclusivamente aos 'sprinters' acabou por se enganar.
O arranque no norte do país e a chegada à Bretanha permitiram aos candidatos à vitória aquecerem as pernas com curtos mas intensos duelos nas várias dificuldades que foram surgindo.
Destaque no arranque do 'Tour' para a centésima vitória da carreira de Tadej Pogacar com o triunfo na quarta etapa em Rouen, após grande trabalho de João Almeida.
As primeiras grandes diferenças chegaram com o primeiro contra-relógio, o onde 'Pogi' ganhou mais de um minuto a Vingegaard.
Segunda semana: Corrida de campeão
Apesar de um dia menos bom, Vingegaard soube reagir e conseguiu acompanhar Pogacar nas principais dificuldades, isto é até chegarmos ao Hautacam. Numa subida de má memória para o esloveno, Pogacar deu o grande passo rumo à vitória no Tour ao chegar isolado ao alto da subida, ganhando mais de dois minutos sobre o líder da Visma.
Mesmo com nova derrota, Vingegaard soube reagir na cronoescalada do dia seguinte, tendo perdido apenas 30 segundos para o esloveno, e acabado a etapa a dobrar Remco Evenepoel.
Terceira semana: Controle e espetáculo
A desvantagem de Vingegaard para Pogacar era significativa, contudo, o dinamarquês ainda mantinha a esperança na vitória.
O bicampeão do 'Tour' passou das palavras aos atos e usou as duras etapas nos Alpes para atacar Pogacar com tudo o que tinha. Contudo, o esloveno soube sempre responder aos ataques do rival, nunca lhe dando um palmo de vantagem.
Perante o natural desgaste e tática ofensiva do seu adversário, o campeão do mundo ainda foi aproveitando para ganhar alguns segundos nos finais das etapas, nunca se escondendo da corrida e providenciando sempre muito espetáculo.
Um dos principais estava reservado para última etapa. O habitual passeio até aos Campos Elíseos foi substituído com três duras subidas a Montmartre, as quais Pogacar aproveitou para voltar a mostrar a sua classe, tendo apenas sido batido por um fantástico Wout Van Aert que, após várias tentativas, guardou o seu melhor para o fim e vencendo a etapa final.
Maiores surpresas
Oscar Onley: Depois de se ter mostrado a bom nível na Volta à Suíça, o britânico foi uma das principais surpresas da edição de 2025 da Volta a França.
Após se ter estreado no ano passado, terminando no 39 lugar, o ciclista da Pic-Nic fez-se valer das suas qualidades de trepador para estar lado a lado com os melhores nas grandes etapas de montanha e terminar o Tour no quarto lugar, a cerca de um minuto do pódio.
Kevin Vauquelin: O ciclista da Arkea chegava ao Tour como a grande esperança francesa num bom resultado final, e pode-se dizer que não desiludiu.
Vauquelin chegou mesmo a estar em posição de pódio no arranque da prova, vindo a perder posições à medida que a montanha chegou. Contudo, o jovem francês mostrou-se sempre em bom plano, podendo ambicionar a outros vôos com a chegada à INEOS.
Ben Healy: Conhecido pelas suas características de 'puncheur', o irlandês sempre mostrou apetência para dar espetáculo, com ataques ainda longe da meta que, frequentemente, terminavam com vitória.
Neste Tour, o ciclista da EF Education juntou a uma vitória na sexta etapa, camisola amarela conquistada na décima, um lugar no 'top-10' e ainda o prémio de mais combativo do Tour...dificilmente se poderia pedir mais.
Tobias Johannessen: Após boas prestações no Criterium Dauphiné e no Tirreno-Adriatico, o ciclista norueguês confirmou a sua grande época ao terminar o Tour no sexto lugar.
O corredor da Uno-X, equipa do segundo escalão da UCI, foi dos mais regulares do pelotão, revelando-se à altura das grandes montanhas como o Hautacam, onde foi quarto na etapa.
Nélson Oliveira: Não foi figura nas montanhas, em etapas, ou na classificação geral, mas o ciclista português é um dos elementos principais da Movistar, e uma das referências do pelotão internacional.
Após terminar mais uma Volta a França (74º lugar), a nona da sua carreira, o ciclista de 36 anos completou 22 grandes voltas consecutivas, sendo um dos corredores mais regulares da história da modalidade.
Maiores desilusões
Remco Evenepoel: Chegava a este Tour com altas ambições, depois do terceiro lugar da época passada. Apesar do acidente sofrido em dezembro, onde fraturou uma omoplata e a mão direita, obrigando-o a um longo período de paragem, o campeão olímpico queria dar luta à dupla de favoritos Pogacar/Vingegaard.
Mas a verdade é que o belga não começou o Tour da melhor maneira, perdendo tempo para os da frente logo na primeira etapa, vendo a diferença para os favoritos crescer devido às bonificações.
O líder da Soudal acabou por se redimir e vencer, como era expectável, o contra relógio da quinta etapa. Contudo, quando chegaram as primeiras dificuldades, Evenepoel não correspondeu, acabando mesmo por abandonar a prova na 14ª etapa
Mateo Jorgenson: Contratado à Movistar, o ciclista norte-americano era colocado por muitos como candidato ao 'top-10' e o 'braço-direito' de Vingegaard para a montanha.
Apesar de um bom início, o corredor da Visma acabou por passar por dificuldades devido a doença, acabando por cair na classificação. Nos Alpes, Jorgenson ainda tentou ajudar o seu líder a atacar a amarela, um esforço que se revelou infrutífero.
Carlos Rodriguez: Outro grande candidato à luta pelos lugares cimeiros, devido ao sétimo lugar do ano passado era o líder da INEOS.
Mas a verdade é que o ciclista espanhol esteve muito longe do seu melhor nível, realizando um Tour que foi um reflexo da sua temporada, tendo abandonado a prova antes da etapa 18.
Enric Mas: A juntar ao descalabro espanhol, onde nem uma vitória em etapa foi possível, Enric Mas voltou a desiludir. O líder da Movistar cedo ficou arredado da luta pelo 'top-10', procurando daí em diante uma vitória de etapa na alta montanha.
O espanhol esteve perto de o conseguir na etapa da subida ao mítico Mont Ventoux, mas acabou por ficar 'sem pernas' nos quilómetros finais.
Matias Skjelmose: Depois de se ter estreado no Tour em 2023, Skjelmose regressou este ano à 'Grand Boucle' como figura da Lidl-Trek para a classificação geral.
Contudo o campeão dinamarquês esteve muitos furos abaixo do esperado, quer no que à luta pelo 'top-10' diz respeito, quer na luta por uma vitória de etapa.
A 'coroar' um Tour onde praticamente não foi visto, Skjelmose foi obrigado a abandonar após a 17ª etapa devido a uma violenta queda.
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