O ciclista algarvio João Rodrigues aproveitou hoje uma oportunidade única para conquistar a ‘sua’ Volta e, magistralmente escoltado pela W52-FC Porto, roubou a amarela a Ethan Hayter (INEOS) no Malhão, ponto final da 47.ª edição.
Há muito que a W52-FC Porto era apelidada de INEOS portuguesa, mas hoje, na subida ao ponto mais alto de Loulé, os ‘dragões’ vulgarizaram a formação britânica – com um Ethan Hayter visivelmente debilitado depois da violenta queda da véspera -, numa demonstração de força e tática, consumada na vitória final de João Rodrigues, a primeira de um português na ‘Algarvia’ desde o já longínquo ano de 2006.
Cortada a meta na segunda posição, com as mesmas 4:10.10 horas do vencedor, o francês Élie Gesbert (Arkéa-Samsic), o ciclista de Faz Fato, de 26 anos, fez um compasso de espera antes de fazer a festa com os seus companheiros, celebrando entre abraços a concretização de um sonho: a 47.ª ‘Algarvia’ era sua, já que o jovem britânico, que tinha 12 segundos de vantagem à partida para a quinta etapa, perdeu 21 no Malhão.
“Estou muito contente, depois de todo o esforço da minha equipa. Para mais, é a Volta ao Algarve e, sendo eu algarvio, é especial. Sempre tive a ambição de vencer aqui. Sabia que era muito complicado com os melhores do mundo, que costumam cá vir no início de temporada. Este ano, tive uma grande oportunidade por a corrida ser disputada mais tarde, e aproveitei da melhor forma possível. Sinto-me muito contente, claro, é incrível”, resumiu, já depois de chorar, emocionado, ao vislumbrar a namorada e a irmã.
A jornada da consagração de João Rodrigues começou 171,1 quilómetros antes, em Albufeira, e decorreu a ritmo apressado, com os ciclistas a cumprirem a primeira hora de corrida a 47,8 km/h, muito por ‘culpa’ da iniciativa de 13 homens, maioritariamente ‘sprinters’, que saltaram do pelotão ao quilómetro 24.
O camisola verde Sam Bennett, acompanhado do seu fiel lançador Michael Morkov (Deceuninck-QuickStep), seguiu no encalço do ‘repescado’ Danny van Poppel (Intermarché-Wanty-Gobert), unindo-se a um grupo no qual seguiam ainda Pascal Ackermann e Michael Schwarzmann (Bora-hansgrohe), Benjamin Thomas (Groupama–FDJ), Ryan Gibbons (UAE Emirates), Oliver Naesen (AG2R), Héctor Sáez (Caja Rural), Mauro Finetto (Delko), Joan Bou (Euskaltel-Euskadi), Luís Fernandes (Rádio Popular-Boavista) e Pedro Pinto (Tavfer-Measindot-Mortágua).
Além da disputa pela camisola dos pontos, na fuga travou-se também a luta pela montanha, com Luís Fernandes (Rádio Popular-Boavista) a vencer as duas primeiras contagens de montanha do dia para garantir a conquista da classificação dos trepadores.
Na sucessão de subidas até à meta, a fuga foi perdendo elementos e acabou mesmo por ‘extinguir-se’ a sete quilómetros do alto, já depois de Kasper Asgreen ter tentado destacar-se, sem grande resultado a não ser o de encolher o pelotão, numa missão na qual foi, posteriormente, auxiliado por Bennett, irrepreensível no trabalho de equipa no dia em que foi anunciada a sua saída da Deceuninck-QuickStep no final da temporada – o dinamarquês acabaria por ver o seu esforço premiado com o terceiro lugar final, a 28 segundos do vencedor.
Mas foi apenas a quatro quilómetros da meta, quando o super-bloco da W52-FC Porto entrou ao serviço, que o desfecho da 47.ª edição começou a desenhar-se: depois de vários ataques e contra-ataques, um Rodrigues de pedalada fácil ficou na frente na companhia de Élie Gesbert, enquanto Ethan Hayter, em evidentes dificuldades, tentava não perder o rasto do português.
Inquieto, o algarvio olhava repetidamente para trás, para controlar o britânico, sempre escoltado por Sebastián Henao – o colombiano teve mesmo de ‘travar’ várias vezes para ‘rebocar’ o seu líder – e por Amaro Antunes que, quando atestou o ‘naufrágio’ do ainda camisola amarela, acelerou para juntar-se ao seu colega.
Com a ajuda do vencedor da edição especial da Volta a Portugal, Rodrigues ganhou mais um punhado de segundos, consumando o assalto bem-sucedido à amarela final, numa jornada que só não foi mais perfeita para os ‘dragões, que ainda conseguiram o terceiro lugar na tirada com Jóni Brandão e a vitória por equipas, porque Gesbert foi mais forte na luta pela quinta e última etapa.
Perante uma plateia de amigos e familiares, que fizeram o seu nome ecoar no Malhão, o algarvio voltou a vestir-se de amarelo numa grande corrida em Portugal, depois de ter conquistado a Volta a Portugal de 2019.
"Todas as camisolas amarelas têm um carinho especial, todas foram conquistadas com muito trabalho e todas elas têm um sentimento especial. A Volta ao Portugal foi algo magnífico nos Aliados, e esta aqui, no Malhão, foi incrível, não consigo escolher", confessou, sem decidir-se sobre qual dos triunfos foi mais especial.
Comentários