
A UAE Emirates brilhou hoje no alto da Fóia, com uma ‘dobradinha’ de Jan Christen e João Almeida, na segunda etapa da Volta ao Algarve em bicicleta, levando Jonas Vingegaard a provar o raro sabor da derrota.
Parecia uma jornada como tantas outras para o dinamarquês e para a sua Visma-Lease a Bike, mas a estratégia de ‘derreter’ a equipa ainda antes do encadeamento Pomba-Fóia relevou-se um erro, sobretudo porque o dinamarquês, ao contrário do que é habitual, não conseguiu fazer a diferença quando arrancou a dois quilómetros da meta.
Nessa altura, já Jan Christen seguia na frente, ainda na companhia de outros três ciclistas, nomeadamente de Laurens de Plus (INEOS), que o suíço haveria de deixar finalmente para trás com um ataque a 800 metros do alto da Fóia, onde chegou com um impressionante João Almeida na roda.
Vindo do grupo de favoritos, e sem que a transmissão televisiva captasse o momento do ataque, o português da UAE Emirates anulou com uma incrível facilidade, e já dentro do último quilómetro, os segundos de diferença para o seu colega de equipa, para cortar a meta com as mesmas 04:28.44 horas do vencedor.
O terceiro foi Laurens de Plus, a sete segundos, com o veterano Romain Bardet (Picnic PostNL) a ser quarto, a oito. Vingegaard seria apenas sexto, a 10 segundos, atrás de António Morgado (UAE Emirates), um resultado que o deixou tão insatisfeito que recusou mesmo falar com os jornalistas após o final da etapa.
Habituado a ganhar (quase) tudo – nos dois anos anteriores, abriu a temporada a vencer todas as etapas a contar d’O Gran Camiño, além da geral -, o bicampeão do Tour (2022 e 2023) até tinha os ‘rolos’ montados atrás do pódio, onde o protagonista foi um feliz Christen, líder da geral com quatro segundos de vantagem sobre Almeida e 13 sobre o belga da INEOS, que é terceiro.
“Estou a sentir-me super bem, estou muito feliz com a minha vitória de hoje e muito grato aos meus colegas de equipa, sobretudo ao António e ao João, que me protegeram nos últimos 10 quilómetros”, reconheceu o jovem corredor de apenas 20 anos.
O camisola amarela da 51.ª ‘Algarvia’ revelou que o plano da UAE Emirates para a tirada de hoje, a primeira a contar para a geral depois da anulação da etapa inaugural, era estar atenta às movimentações dos favoritos, o que o levou a responder a uma iniciativa de Laurens de Plus quando o ciclista da INEOS atacou.
A cinco quilómetros do ponto mais alto do Algarve, já os dois seguiam apenas na companhia de Luca Vergallito (Alpecin-Deceuninck) e Neilson Powless (EF Education-EasyPost), com uma vantagem superior a 30 segundos para o grupo de candidatos, onde Vingegaard seguia sem ‘escolta’, depois de a Visma-Lease a Bike ter trabalhado antes de tempo.
O ataque do dinamarquês chegou exatamente na marca dos dois quilómetros para a meta, mas, com a sua aceleração, o atual vice-campeão do Tour só conseguiu reduzir ao mínimo o lote de rivais, levando consigo Almeida, Bardet, Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek) e Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe), hoje um dececionante nono classificado, a 13 segundos de Jan Christen.
O triunfo na etapa estava ‘entregue’ aos homens da frente, dos quais emergiu o suíço, após várias tentativas, inscrevendo o seu nome na lista de vencedores na Fóia, graças à generosidade de Almeida, que teria ultrapassado facilmente o agora camisola amarela se este não fosse seu colega.
Depois da exibição de hoje e com o ‘crono’ de domingo, que termina no alto do Malhão, como único desafio para os homens da geral, o ciclista da A-dos-Francos parece ser mesmo o principal candidato ao triunfo na 51.ª edição.
Devido às bonificações, Vingegaard está a 20 segundos de Christen e Roglic a 23.
A discussão pela vitória no ponto mais alto do Algarve estava reservada aos ‘grandes’, mas até lá houve espaço para os ‘outros’ se mostrarem, com os ataques a começarem três quilómetros depois da partida de Lagoa. Entre os primeiros fugitivos estava o campeão olímpico de madison Iúri Leitão (Caja Rural), que seria mesmo o primeiro a descair da escapada.
Além do também vice-campeão olímpico de omnium integraram a fuga inicial Fábio Costa (Anicolor-Tien21), Leangel Linarez e Guilherme Lino (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), Hugo Nunes (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar), André Carvalho (Efapel), Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano-Loulé), Tobias Bayer (Alpecin-Deceuninck) e Bren van Moer (Lotto), com os cinco últimos a serem os derradeiros resistentes de uma iniciativa que foi finalmente anulada a 20 quilómetros da meta.
Os ‘animadores’ de etapas têm na sexta-feira nova oportunidade para se mostrarem nos 183,5 quilómetros entre Vila Real de Santo António e Tavira, onde os sprinters deverão, finalmente, brilhar.
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