A 82.ª Volta a Portugal convenceu Alejandro Marque a continuar mais uma temporada no pelotão, com o galego do Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel a repensar a decisão de abandonar o ciclismo após estar na discussão de uma edição “espetacular”.
“Vinha para aqui e não queria tomar essa decisão nem antes, nem depois, queria ver como me sentia, se ia acabar com vontade ou não. Realmente, está a ser uma Volta espetacular para mim. Com 39 anos, estar aí na luta e na discussão, fez-me repensar e é possível que vá estar também em 2022 no pelotão”, revelou à agência Lusa.
O vencedor da Volta de 2013 e quinto classificado na edição que hoje acaba com um contrarrelógio em Viseu gosta demasiado do ciclismo para se afastar, embora reconheça que a modalidade que tanto ama chegue a ser stressante.
“Nestes dias, já estou a desejar que isto termine. Tenho perdido muitos aspetos da família, tenho dois filhos, praticamente não sei o que é ir à praia com eles. É complicado. Isso faz-te pensar um bocado. Mas estou contente, a minha família sempre me apoiou, a minha mulher. Isto [ser ciclista], para mim, é algo que não me custa, não me custa sair para treinar todos os dias, ser profissional, ter cuidados com a alimentação no dia a dia”, confessou.
A idade pode não influenciar no desempenho na estrada, mas começa a pesar noutros aspetos, com ‘Alex’ a admitir, em jeito de brincadeira, sentir-se “deslocado” no autocarro da equipa.
“Antes, soavam músicas da nossa época, os Queen… agora, se deixas um colega pôr música, já nem sabes o que estão a dizer, põem aquele Reggaeton que parece que te tapa os ouvidos. Podiam ser meus filhos, porque há rapazinhos novos que têm 19 anos. Há mesmo um a quem digo ‘filho, anda aqui’. Digo-o na brincadeira ao Ruben Simão”, contou à Lusa.
Mas a despedida, para já sem data marcada, está cada vez mais próxima, porque “também há que deixar um lugar” para os mais novos.
“Pelo menos, que tentem ficar com notas daquilo que lhes podemos transmitir e com isso já me dou por satisfeito”, disse numa alusão ao colega e amigo Gustavo Veloso, que hoje se despede da prova rainha do calendário nacional.
Último resistente no pelotão de um grupo que inclui ainda David Blanco, o cinco vezes vencedor da Volta a Portugal, e Ezequiel Mosquera, Marque reconhece que o mais difícil é ver os amigos partirem.
“Essa é a pior parte. Ainda falo com o David de como foi quando saiu, porque é algo que me preocupa a mim. Ele diz-me que sentiu logo ali um vazio, mas com o trabalho acabas por te acostumar... mas ele está sempre atento. Mal começa a Volta, ele manda mensagens. Estamos num grupo e todos os dias está aí a meter coisas sobre a Volta. Há situações de corrida que podemos não ver e ele desde a televisão vê. Ele e o Mosquera dizem que aproveitemos o momento, que é muito bonito, e a sorte que temos em estar cá”, sublinhou.
Um dos ciclistas mais consensuais do panorama nacional, o veterano de A Estrada tem “muitos amigos no pelotão”, de “muitas gerações”, e é isso que vai levar do ciclismo quando decidir abandonar a modalidade.
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