A recente conquista do título europeu de futsal coroou o fulgurante processo de afirmação da modalidade em Portugal, que teve como momento marcante a fusão com o futebol de cinco na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em 1997.

O triunfo por 3-2 sobre a Espanha, a maior potência europeia, na final do Euro2018 - oito anos depois de ter sido finalista vencido, precisamente, frente aos espanhóis - chamou a atenção para o futsal, que num curto espaço de tempo conquistou o seu espaço entre as modalidades de pavilhão mais populares.

O acordo celebrado há 21 anos com as duas federações existentes (futebol de salão e futsal) concentrou a modalidade na FPF, colocando as equipas e seleções nacionais no caminho do sucesso internacional e fazendo disparar em 71% o número de praticantes logo na primeira época.

De um total de 6.400 jogadores dispersos por três organismos federativos distintos, o futsal português atingiu o zénite com a conquista do primeiro título europeu, numa altura em que conta com 32.224 praticantes – cinco vezes mais -, inscritos em 2.242 equipas, de 750 clubes.

“A chegada à FPF da equipa liderada por Fernando Gomes, em 2011, marca um fortíssimo compromisso do nível estratégico da organização com o crescimento sustentado da modalidade, consubstanciado na visão que foi amplamente comunicada: no espaço de quatro anos, tornar o futsal a modalidade coletiva de pavilhão mais praticada em Portugal”, explicou Pedro Dias à Lusa.

O diretor federativo com o pelouro do futsal assinalou que os indicadores de desenvolvimento da modalidade “foram amplamente superados nas últimas cinco épocas desportivas”, para o que contribuiu decisivamente a reformulação dos quadros competitivos realizada em 2012.

“Tivemos algumas prioridades no desenho dos quadros competitivos: a valorização do jogador português, o nível desportivo, a competitividade das provas em plena articulação com a sustentabilidade das mesmas, a continuidade geográfica do país (continente e regiões autónomas dos Açores e da Madeira)”, explicou o dirigente.

A contratação de estrangeiros de qualidade, maioritariamente brasileiros, também ajudou ao desenvolvimento do jogador português, sem lhe retirar espaço, uma vez que representam 16,7% do total (46 atletas) no escalão principal, cuja média etária é de 26,3 anos.

O alargamento da base competitiva, com a criação de oito novas competições (quatro femininas e quatro masculinas), traduziu-se na afirmação internacional das equipas lusas, com a conquista do título europeu pelo Benfica, em 2010, depois de já ter atingido a final, em 2004, tal como aconteceu com o Sporting no ano passado.

A monopolização do Nacional pelos rivais lisboetas, vencedores dos últimos 15 campeonatos (oito para o Sporting e sete para o Benfica), é compensada pela “valorização desportiva e o forte reconhecimento social” e encontra o reverso da medalha no desaparecimento de alguns clubes históricos.

Santos da Venda Nova (campeão em 1992), Correio da Manhã (1996 e 1998), Miramar (1997 e 2000) e Freixieiro (2002) estão extintos ou disputam os escalões secundários, mas surgiram novos atores, como Sporting de Braga, Rio Ave, Fundão e Belenenses, o que é entendido como um sinal de “regeneração do tecido associativo e desportivo”.

Por outro lado, o investimento na formação, com a criação de seleções de sub-15, sub-17, sub-19 e sub-21, mesmo não existindo competições internacionais nessas categorias, leva a que os escalões de formação congreguem 70% do total dos praticantes de futsal em Portugal.

“Antevemos uma evolução qualitativa e quantitativa nos próximos anos, consubstanciada num aumento significativo do número de praticantes, de agentes desportivos, de provas, de festivais, de encontros, de competições, de boas experiências no contacto com a modalidade”, observou Pedro Dias.

Para isso, os responsáveis pela modalidade contam também com o ‘efeito Ricardinho’, designado melhor jogador do mundo em 2010, 2014, 2015, 2016 e 2017, “um excecional embaixador do desporto português e, sem dúvida, a grande referência do futsal mundial”.