
Fernando Pimenta disse hoje ter encarado os Europeus de canoagem de velocidade de forma "tranquila e relaxada", abordagem que lhe permitiu fugir à pressão e alcançar duas medalhas de ouro em K1 1.000 e 5.000 metros.
No regresso de Racine, na República Checa, o canoísta vice-campeão olímpico em Londres2012, em K2 1.000, e medalha de bronze em Tóquio2020, em K1 1.000, recordou a desilusão vivida na edição de Paris2024, e a importância dos recentes títulos continentais para prosseguir a carreira ao mais alto nível, com vista à sua inclusão na comitiva lusa para Los Angeles.
"Estas medalhas são muito especiais, porque surgem após um momento menos bom, nos Jogos Olímpicos. Até porque este ano estive quase sem competir. O ano de 2024 foi muito desgastante, tanto em termos físicos como emocionais, e cheguei mesmo a ponderar não voltar a competir, pelo menos ao mais alto nível", expressou, em declarações à chegada ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia.
Apesar de considerar que não está no seu auge físico, com 35 anos, Pimenta trazia consigo o ímpeto dos triunfos recentes no Europeu de maratonas, disputado em Ponte de Lima, na regata curta de K1 e na longa de K2, com Fernando Ramalho.
"Sem dúvida que estas duas semanas, em Ponte de Lima e agora na República Checa, são a resposta àquilo que ainda tem de ser a minha carreira. Conquistar dois títulos europeus em casa foi, sem dúvida, muito especial. E ainda mais voltar agora, uma semana e meia depois, a ganhar novamente mais dois títulos. Revalidei nos 5.000 metros e venci a 'prova-rainha' [K1 1.000 metros] com destaque, o que sem dúvida me deixa bastante feliz", destacou.
O atleta natural de Ponte de Lima diz ter-se mantido sempre confiante em retornar aos seus melhores resultados, mesmo com o inesperado nono lugar em k1 1.000 na primeira etapa da Taça do Mundo, em junho, um resultado que admite ter causado preocupações dentro do seu círculo próximo.
"Esta é a prova de que quanto mais relaxado e feliz estiver, melhor desempenho tenho. Alguns treinadores de outras equipas até comentaram que notaram em mim um sorriso diferente. Costumo ser bastante extrovertido, mas desta vez notaram que estava ainda mais tranquilo do que o habitual", constatou, realçando que a nona posição surgiu num dia em que estava pouco predisposto para competir.
Pimenta conseguiu assim o quarto título europeu em ambas as distâncias, depois de ter vencido a prova individual curta entre 2016 e 2018 e a mais longa, na qual era já campeão em título, em 2016, 2022 e 2024.
Portugal terminou o evento com um total de quatro medalhas, três do metal mais precioso, ficando apenas atrás da Hungria, que alcançou sete de ouro (15 no total), e da Espanha, com quatro de ouro (12 no total).
"Os meus colegas do K4 e não só tiveram excelentes prestações. Com uma dúzia de atletas, fomos o terceiro país mais medalhado, à frente da Alemanha — uma superpotência —, da Polónia e da República Checa, que competia em casa. Grandes potências do desporto mundial ficaram atrás de nós. E nós, com meia dúzia de atletas e de trocos, andámos aqui a competir com o que temos", realçou.
Apesar da receção modesta a Pimenta na chegada ao aeroporto, Fernando Gomes, presidente do Comité Olímpico de Portugal, fez questão de estar presente para congratular o canoísta, uma atitude que o surpreendeu e sensibilizou.
"Se esperava um apoio diferente à chegada? Sinceramente, não. Acho que, no dia certo, o aeroporto vai estar repleto de gente. Tenho consciência de que isso vai voltar a acontecer. Os resultados do Fernando Pimenta já se banalizam um bocadinho. O meu colega João Ribeiro dizia há dias numa entrevista que o problema do Pimenta é que faz tudo parecer fácil. É um bocado isso", afirmou.
Sem confirmar perentoriamente as suas intenções, deu a entender que o "dia certo" será nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, acrescentando que não consegue deixar de competir por "gosto de ganhar por Portugal, conquistar títulos, ouvir o hino e ver a bandeira portuguesa no alto".
"Sem pressão. Se fui com alguma pressão para Paris2024, podem acreditar que, em 2028, vou aos Jogos Olímpicos apenas para desfrutar. Quero encará-los como se fossem a minha última competição. Seja qual for o resultado que conquiste até lá, quero chegar a 2028 para desfrutar, como fiz neste último Europeu — num ambiente relaxado, com uma equipa muito unida", concluiu.
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