Pedro Queirós transformou-se num humanitário durante o terramoto de 2015 em Catmandu, tornou-se atleta para angariar fundos para os nepaleses e este ano vai cometer a “loucura” de escalar o Evereste em nova missão solidária.

“Vou propor-me subir a montanha mais alta do mundo, ser o sexto português a conseguir tal façanha (…) para tentar angariar 8.840 euros para pagar bolsas de estudo a 25 miúdos em Catmandu”, anunciou o lisboeta de 40 anos, em declarações à Lusa, sobre as suas “aventuras humanitárias”.

Atingir o pico do Evereste será o terceiro de sete desafios que personificam o ‘Projeto X’(www.pedroqueiros.com) que o português criou para financiar o seu ‘Dreams of Katmandu’, que atua nas áreas social, de saúde, educação e nutrição, “sempre no Nepal”.

No primeiro repto, este empreendedor radicado em Teerão, casado e com um filho, foi para o Quénia “correr com os melhores do planeta”, passando uma temporada em Iten, numa região rural a 2.400 metros de altitude e que se destaca por ser “o lugar do mundo com mais campeões olímpicos por metro quadrado”.

“Quis ir perceber de que são feitos os grandes campeões. Como é que esta malta pensa, come. Porque são tão fortes física, mental, espiritual e intelectualmente. Como é treinar com eles. Foi uma violência. Corri milhares de quilómetros em estradas de terra. Vivi com eles em ambiente rural”, contou o exportador de pistácio e consultor de investimentos de iranianos em Portugal.

Citando Nélson Mandela, que defende que “o sentido da nossa existência encontrámo-lo através do sentido que damos à vida dos outros”, Pedro agiu novamente, agora recolhendo donativos para comprar uma vaca para uma família viver do leite da mesma, conseguindo ainda 2.400 euros para uma cadeira de rodas para um tetraplégico.

Com os laços que deixou em África, voltou nas últimas semanas ao Quénia para se preparar para a maratona de Sevilha, que cumpriu domingo, com o tempo de 02:41 horas, melhorando em quase duas horas a marca da sua primeira aventura “há uns quatro ou cinco anos”, em 04:39.

O segundo desafio superado foi subir ao cume do Ama Dablam, no Nepal, com 6.812 metros, sensivelmente o número de euros que reuniu para construir uma casa para uma família na capital nepalesa.

Para Pedro Queirós, a “transparência” dos seus projetos são “ponto de honra”, pelo que todos são apresentados “detalhadamente”, tal como o relatório das posteriores despesas.

“Todos os fundos que recolho são 100% aplicados nas causas em si. Hoje em dia existe alguma desconfiança, falta de transparência em muitas ONG’s, associações e fundações que recolhem fundos e não sabemos muito bem onde são aplicados”, critica, apesar de elogiar os “muitos projetos positivos” espalhados pelo globo.

Para que não haja dúvidas quanto às suas intenções, apresenta invariavelmente “um relatório com fotos, vídeos e faturas” de forma a garantir “os princípios da transparência, coragem e honestidade”.

“É esta a fórmula que inspira as pessoas: superarmo-nos enquanto ajudamos os outros, sempre de forma transparente e honesta”, resume o português, que em 2015 nem sequer praticava desporto com regularidade.

Este ‘globetrotter’, que tem “muitas ideias ousadas e criativas para desafios futuros”, recorda que a sua existência começou a fazer “total sentido” somente quando assumiu este desígnio de trabalhar para o bem alheio.

“Eu chegava à noite e na altura de adormecer sentia que havia algo a não bater certo. (…) Finalmente, senti a minha vida em equilibro – na saúde, família, amigos, trabalho, etc – quando comecei a ajudar os outros”, confessa, assumindo que vive em “grande paz e com o coração cheio”.

O empreendedor social quer mais compatriotas a fazer algo semelhante, pelo que os desafia a “terem as suas causas, sejam a de ajudar os animais, vizinhos, refugiados ou no IPO”.

Assegura que “qualquer causa é nobre, desde que verdadeira” e está convicto de tudo tem outro significado quando é feito “em regime de voluntariado”, sem defraudar as expectativas de quem se solidariza com as necessidades dos outros.

“Nunca é tarde para começarmos. Agora sou quase um missionário, mas continuo a ter o meu trabalho, vida, família”, ilustra Pedro, que divide o seu tempo entre Teerão, Catmandu e Lisboa.