A melhor geração portuguesa do ténis de mesa, liderada por Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Monteiro, é uma “referência de difícil alcance” para as promessas, frisou o coordenador das seleções nacionais jovens.
“Sempre achei que podem servir como referência, mas também como um fardo difícil de superar. Se o objetivo for chegar ao mesmo nível, a pressão vai ser de tal forma que os miúdos nunca vão conseguir explorar o seu potencial máximo. Agora, se trabalharem o objetivo de serem melhores todos os dias, talvez possam lá chegar”, observou à agência Lusa Ricardo Oliveira, no dia de abertura dos Mundiais jovens, em Vila Nova de Gaia.
O trio de atletas olímpicos esteve envolvido na última quinzena de anos nos principais feitos europeus e mundiais de sempre da equipa das ‘quinas’, que já garantiu na quinta-feira uma inédita medalha em eventos por equipas dos Mundiais de sub-15 e sub-19.
“Desde que assumi este cargo, todo o discurso para com os atletas nunca se foca muito nos objetivos a nível do resultado, mas muito mais na melhoria diária das condições, de forma que, eventualmente, os resultados acabem por aparecer. Se me perguntar se o ténis de mesa português pertence ao ‘top-3’ mundial, digo claramente que não”, notou.
Os sub-15 Bernardo Pinto, Rafael Silva e Tiago Abiodun, orientados por Ricardo Faria, lograram o terceiro pódio luso em Mundiais, após a ‘prata’ de Marcos Freitas e Tiago Apolónia (2003) e o ‘bronze’ de Marcos Freitas e André Silva (2006), ambos em pares.
“Nos moldes em que as provas são disputadas, as coisas podem acontecer. Graças ao trabalho efetuado diariamente, surgiu uma oportunidade e conseguimos aproveitá-la. É bom recordar que nunca conseguimos qualificar-nos para estes Mundiais e, como somos o país organizador, temos o direito a participar. Felizmente, fizemos história”, enalteceu.
Ricardo Oliveira acredita que a presença de público português no Pavilhão Municipal de Vila Nova de Gaia estimula os jovens a “sentirem-se mais confiantes e a acreditarem que é possível” dar luta à elite mundial jovem nas variantes de equipas, singulares e pares.
“É tão difícil na formação como a nível sénior. O domínio asiático vai prevalecer sempre, porque não é só a quantidade de atletas que os faz ser melhor. São diversas situações, como a questão cultural do desporto. A certa altura, começam a ganhar uma bagagem de horas de treino que normalmente os europeus não conseguem acompanhar”, ilustrou.
Patrícia Santos e Inês Matos, no escalão sub-19, e Tiago Abiodun e Matilde Pinto, em sub-15, lideram as pretensões da seleção nacional, que conta desde 2013 com um investimento crescente no Centro de Alto Rendimento (CAR) de Vila Nova de Gaia.
“Com muito orgulho, temos atletas que começam desde tenra idade a fazer uma carreira num espaço que lhes possibilita ter cerca de 15 a 20 horas de treino semanais. Ou seja, aquilo que o João Monteiro, o Tiago Apolónia e o Marcos Freitas foram à procura no estrangeiro, hoje já é possível ter em Portugal. Há que manter e elevar o nível e melhorar as condições de trabalho. Gostava de acreditar que os jovens evoluíssem cá”, afiançou.
Descartando fazer futurologia sobre os novos talentos, Ricardo Oliveira está preocupado com os efeitos que a Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM), que assume ter perdido 15% dos praticantes devido à pandemia de covid-19, sentirá “daqui a dois ou três anos”.
“A realidade é que nunca fomos uma modalidade muito procurada. Posto isto, sofremos obviamente como todas as outras quanto ao decréscimo do número de atletas e de interessados em começar a treinar e a praticar. Já para não falar que alguns praticantes também desmotivaram com o tempo de paragem, porque, para todos os efeitos, parar quase um ano é muito tempo”, lamentou o também diretor do Centro de Alto Rendimento (CAR) de Vila Nova de Gaia.
Os Mundiais de sub-15 e sub-19, a primeira grande prova jovem desta envergadura após a pandemia de covid-19, decorrem de quinta a quarta-feira, com 16 atletas lusos, sob orientação técnica de Afonso Vilela, Francisco Santos, Marco Rodrigues e Ricardo Faria.
Os espetadores têm entrada gratuita no Pavilhão Municipal de Vila Nova de Gaia, onde precisam de apresentar à entrada um teste negativo, PCR até 72 horas ou antigénio até 48 horas antes, ou o certificado digital covid-19, que ateste vacinação completa.
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