Os organizadores do torneio de ténis de Wimbledon deram a entender que podem vir a suavizar a regra das roupas interiores totalmente brancas na edição de 2023 do evento, admitindo que estão "em discussão" com várias partes interessadas do mundo do ténis com o objetivo de "colocar a saúde das mulheres em primeiro lugar e apoiar as tenistas com base em suas necessidades individuais".
Em 2014, o 'All England Club', responsável pela organização do torneio, proibiu os tenistas, quer os masculinos, quer os femininos, de usarem roupas interiores, de forma a respeitarem a política tradicional de equipamentos totalmente brancos. Porém, os organizadores do torneio viram-se nos últimos tempos debaixo de grande pressão por parte de tenistas e adeptos para considerarem uma nova mudança nesse capítulo.
Muitas vozes críticas
Entre aqueles que falaram recentemente sobre os problemas que as tenistas enfrentam está Judy Murray, mãe de Andy Maurry e ex-capitã da FedCup da Grã-Bretanha. E na última edição do torneio, no passado verão, houve até um grupo de protesto denominado 'Address the Dress Code' composto por indivíduos que se vestiram de branco com roupas interiores vermelhas.
Outra das vozes a falar sobre o assunto foi Jean King, seis vezes campeã de singulares feminino em Wimbledon, apelando para que o torneio siga as mudanças feitas noutros desportos, como o futebol feminino, onde algumas equipas mudaram os calções brancos para cores mais escuras.
"Na minha geração, sempre nos preocupámos com isso, porque vestíamos branco em todos os torneis", lembrou. "E o que se veste por baixo é importante durante o período menstrual. Estamos sempre a pensar se se estará a ver alguma coisa. As jogadoras ficam tensas com isso", apontou.
Judy Murray acrescentou: "Eu acho que é um ponto de discussão importante. Se uma jogadora estiver vestida toda de branco e tiver algum vazamento enquanto estiver jogando, não consigo pensar numa experiência muito mais traumática do que essa. Numa era em que todas as partidas são televisionadas e transmitidas via stream, é algo que precisa ser levado em consideração. E quando algo assim se torna um ponto de discussão, há que tomar decisões. Mas é muito importante que tenhamos mulheres no painel de tomada de decisão, porque elas entendem o que é ter ciclos menstruais e entendem o medo de que isso aconteça enquanto jogam".
O que dizem as regras?
A atual política de Wimbledon sobre roupas interiores totalmente brancas diz: "Qualquer roupa interior que seja ou possa ser visível durante o jogo (incluindo devido à transpiração) deve também ser completamente branca, exceto por um único recorte de cor, não superior a um centímetro. Além disso, são exigidos padrões comuns de decência em todos os momentos."
Quanto ao resto os equipamentos, até mesmo os mínimos detalhes coloridos nas roupas são proibidos, o que já deixou alguns atletas irritados. Mesmo Roger Federer sofreu consequências, em 2013, quando utilizou um par de ténis com sola laranja. O helvético foi advertido e teve de trocar de calçado na partida seguinte.
Mas, afinal, por que se usa branco em Wimbledon?
O torneio de Wimbledon tem como convenção um código que indica o uso de roupas predominantemente brancas desde o final do século XIX. Após a edição 1962, em que a brasileira Maria Esther Bueno chocou o público ao usar um saiote cor-de-rosa por baixo do seu vestido branco, o torneio definiu como regra que todo o equipamento, roupa interior incluída, deveria ser predominantemente branco.
E com o passar dos anos, em contraponto com o que se ia verificando nos restantes torneios, onde os tenistas começaram a usar equipamentos cada vez mais coloridos, a regra ficou mais rígida e não são sequer permitidas variações de tons, como a cor creme.
A regra tem então origem ainda no século XIX. Nessa época, as marcas de suor encontradas nos uniformes coloridos eram vistas como impróprias, e foi isso que impulsionou a criação do mais famoso 'dress code' do ténis mundial.
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