A participação de Maria Luís Gameiro (X-Raid Fenic) na 47.ª edição do Rali Dakar marca o regresso das mulheres portuguesas à mais mediática prova de todo-o-terreno do mundo 15 anos após Elisabete Jacinto ter competido pela última vez.

Maria Luís Gameiro, nascida há 46 anos em Vila de Rei (Castelo Branco), compete desde 2022 no Campeonato de Portugal de todo-o-terreno, alinhando, também, no campeonato espanhol desde 2023, com triunfos na Taça das Senhoras nos dois lados da fronteira. Década e meia depois, Maria Luís Albuquerque diz ser “um grande desafio e uma grande responsabilidade” suceder à professora de Geografia.

Para além dessa curiosidade, Maria Luís Gameiro, gestora profissional de empresas no dia-a-dia, decidiu dar um cariz solidário a esta primeira participação no Rali Dakar, oferecendo-se para doar um euro por quilómetro percorrido em especiais da edição deste ano à luta contra o cancro.

“Por isso, o meu objetivo é chegar ao final. E quem quiser pode doar, também, através do site www.mlgameiro.pt. Outro dos meus objetivos é ter um desempenho bom o suficiente para poder regressar no próximo ano na categoria T1+ [a categoria principal, denominada Ultimate, reservada aos automóveis]. Se conseguir, irei doar um euro por cada quilómetro percorrido, seja em especial ou em ligação”, frisou à agência Lusa.

A ligação de Maria Luís Albuquerque aos automóveis partiu de uma paixão revelada desde cedo: “O mau pai detestava conduzir e, quando tirei a carta de condução, aos 18 anos, entregou-me logo a tarefa de conduzir o carro da família”.

Mas a competição só a descobriu em 2009, por intermédio do marido, José Gameiro, piloto de todo-o-terreno. Ainda experimentou ser navegadora mas o facto de enjoar como passageira tornou a aventura muito curta.

Daí a sentar-se no lugar de condutor foi um passinho, dado na Baja de Portalegre em 2009, porém a crise financeira levou-a a dedicar-se apenas ao mundo empresarial, nas oito empresas de que é gestora.

Apenas em 2022 regressou à competição, vencendo a Taça das Senhoras em Portugal e Espanha em 2023 e 2024, ano em que terminou mesmo o campeonato espanhol na terceira posição da geral.

“Perdi o segundo posto porque não disputei a última prova. Preferi ir ao Rali de Marrocos para ter um primeiro contacto com as dunas, já a pensar no Dakar”, frisou.

O sonho do Dakar começou com a disputa do campeonato espanhol.

“Havia muitas pilotos que me diziam para participar no Dakar. Em Portugal, não temos apoios para este tipo de corridas, mas puseram-me o bichinho. Uma equipa internacional fez-me um convite já em janeiro de 2024, mas apenas para um carro com duas rodas motrizes. Sempre corri com quatro rodas motrizes e para uma primeira vez seria complicado. Só que fiquei com o bichinho. A equipa começou a mexer-se junto de alguns patrocinadores e nós prescindimos de algumas corridas para conseguir amealhar para este projeto”, explicou.

O facto de ser uma mulher “também despertou algum interesse nos patrocinadores”, apesar de não ter conseguido juntar toda a verba necessária.

O orçamento, de cerca de 300 mil euros, teve de ser completado com verbas próprias, daí que a opção passe por um veículo ligeiro (SSV), um X-Raid Fenic, com motor Yamaha, também ele em estreia na prova que se disputa na Arábia Saudita.

Licenciada em Economia, é gestora de empresas, administradora da Motivo, ligada às máquinas pesadas do setor da construção , e, além disso, criou o primeiro centro hiperbárico privado em Portugal.

“Existem as câmaras das Forças Armadas. Eu criei o primeiro centro com câmaras monolugares, que dá para mergulhos, doenças súbitas, cicatrização, recuperação muscular. Esse é o meu bebé, o Centro Hiperbárico de Cascais”, conta.

No meio de uma agenda atarefada, o todo-o-terreno é um ‘hobby’.

“Nos últimos meses, tive de me preparar muito em termos físicos. Fazia ginásio regularmente. Para o Dakar tive de me preparar de forma diferente, pelo que fui mais piloto do que empresária”, admitiu à Lusa.

Ainda assim, considera que a modalidade “é um escape”: “Obriga-me a estar focada. Consigo trazer o foco do todo o terreno para as empresas”.

A seu lado terá o experiente navegador José Marques, que também já navegou para Elisabete Jacinto.