"Estamos muito preocupados com os dias que se avizinham. Apesar de a câmara estar a cumprir o acordo assinado e de estar a melhorar as condições dos trabalhadores, os sindicatos insistem, injustamente, em dificultar a vida dos trabalhadores e das pessoas que residem em Lisboa e que visitam a cidade nesta época", indicou o gabinete do presidente do executivo municipal da capital, Carlos Moedas (PSD), em resposta à agência Lusa.
Em causa está a greve dos trabalhadores da higiene urbana em Lisboa, entre o Natal e o Ano Novo, que foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) devido à ausência de respostas do executivo municipal aos problemas que afetam o setor, em particular o cumprimento do acordo celebrado em 2023, que prevê, por exemplo, obras e intervenções nas instalações.
A greve foi geral nos dias 26 e 27 de dezembro e contou com serviços mínimos entre 26 e 28 de dezembro (realização de 71 circuitos diários de recolha de lixo, envolvendo 167 trabalhadores).
Paralelamente, houve também greve ao trabalho extraordinário, que se iniciou no dia 25 e se prolonga até terça-feira, e haverá uma paralisação no dia de Ano Novo, prevista apenas no período noturno, ao trabalho normal e suplementar, entre as 22:00 de quarta-feira e as 06:00 de quinta-feira.
Esta segunda-feira é o sexto dia de luta destes trabalhadores do município de Lisboa, ainda que agora a greve seja apenas ao trabalho suplementar, e "os serviços de higiene urbana da cidade estão ainda a recuperar do impacto negativo dos últimos dias de greve", referiu a câmara municipal.
A cidade de Lisboa recolhe diariamente cerca de 900 toneladas de lixo, sendo que o serviço de recolha de resíduos na capital está organizado de segunda a sexta-feira, funcionando ao sábado com recurso a trabalho extraordinário e, ao domingo, apenas com recolha excecional.
Para mitigar os efeitos da greve, a Câmara de Lisboa teve este domingo, excecionalmente, cerca de 70 trabalhadores a efetuar 24 serviços de recolha de lixo.
"Não podemos deixar de assinalar que houve um grande esforço por parte dos trabalhadores da câmara que têm vindo trabalhar e dos que asseguraram os serviços mínimos, por parte das juntas de freguesia e também por parte dos munícipes", apontou o gabinete de Carlos Moedas.
Mantendo a preocupação relativamente à greve dos trabalhadores da higiene urbana, por antever que os próximos dias serão ainda "muito difíceis", a Câmara de Lisboa reforçou que não desiste de melhorar a limpeza da cidade.
"Apelamos assim aos munícipes, ao comércio e à restauração para que nos ajudem a atenuar o impacto negativo, que os sindicatos estão a incutir em todos. A greve vai continuar e temos de nos preparar como nos preparámos para os dias que passaram", declarou a autarquia.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do STML, Nuno Almeida, reforçou que os trabalhadores decidiram esta greve pelo "incumprimento do acordo" celebrado em junho de 2023, referindo que a adesão à greve geral, que chegou a rondar os 80%, reflete "uma avaliação negativa do cumprimento do acordo por parte da câmara".
Relativamente aos dias de greve ao trabalho suplementar, o dirigente sindical disse que houve "baixa adesão em função também dos baixos salários".
Quanto ao impacto desta greve dos trabalhadores da higiene urbana, entre o Natal e o Ano Novo, Nuno Almeida disse que é o que se previa "dentro de um serviço que já tem as debilidades de funcionamento, de falta de investimento e de organização", reforçando que "a greve vem acrescentar alguma pressão sobre um serviço que já estava débil, apesar de o colégio arbitral ter decretado serviços mínimos desajustados e até desadequados ao livre exercício do direito à greve".
"Agora há uma lição que nós queríamos que a câmara tirasse: é que o esforço que fez em medidas de mitigação dos efeitos da greve, se calhar deveria mantê-lo para além do próprio período da greve, até que fizesse todos os investimentos e investisse nas condições de trabalho dos trabalhadores e do serviço de higiene urbana", indicou o presidente do STML.
Sobre o resultado desta greve até ao momento, o sindicalista destacou a declaração de Carlos Moedas de que "não pretende privatizar o setor", porque era algo que preocupava os trabalhadores, uma vez que houve "sinais no sentido contrário".
"A partir daqui, o que os trabalhadores vão querer é um investimento nas condições de trabalho, no respeito pelos seus direitos e pelo reforço do serviço público de higiene urbana", expôs Nuno Almeida.
O presidente do STML ressalvou ainda que, "a cada momento", os trabalhadores da higiene urbana avaliarão a necessidade de novas greves ou outras formas de luta, "também depende da política que a câmara venha a desempenhar daqui para a frente".
SSM (DA) // MCL
Lusa/fim
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