Em declarações aos jornalistas no parlamento, Rui Rocha considerou que Santos Silva demonstrou um "comportamento indigno da função de presidente da Assembleia da República", que se enquadra num conjunto de outras atitudes "que contribuem para a degradação do sistema político".

O líder da IL sublinhou que o seu partido não recebe lições de integridade nem de maturidade de quem tem "um percurso longo de vida ao lado de José Sócrates" - Santos Silva foi ministro dos Assuntos Parlamentares (2005-2009) e da Defesa (2009-2011) em governos daquele ex-primeiro-ministro socialista.

"Eu diria que para quem é uma fruta passada, uma fruta fora de prazo, todas as outras frutas parecem ainda não [estarem] suficientemente maduras", disse.

Rui Rocha acusou ainda Santos Silva de andar a utilizar as suas funções "para promover a sua própria agenda política" e frisou que o seu partido não aceita que "quem se comporta como um incendiário venha depois apresentar-se aos portugueses como um bombeiro".

À semelhança do que tinha feito na quarta-feira à noite, Rocha voltou a exigir que o presidente do parlamento apresente um "pedido de desculpas público aos portugueses" e não à IL, salientando que o seu partido não ficou ofendido pelas palavras do vídeo porque "não se deixa ofender por quem quer ofendê-la".

"Tem de dirigir-se aos portugueses e dizer, ele próprio, que [aquela] não é uma conduta aceitável de quem é a segunda figura do Estado e tem uma particular responsabilidade na condução da vida democrática", disse.

O líder da IL frisou que quem está "sistematicamente a puxar dos galões para dizer que é o garante da democracia, da urbanidade, da convivência regular entre os atores políticos", não pode agora "ficar escondido atrás de uma nota de imprensa".

"É publicamente que tem de vir dizer que este episódio não é aceitável e que o lamenta", insistiu.

O líder da IL frisou ainda que, uma vez que, até agora, Santos Silva ainda não fez nenhuma retratação pública, o partido irá confrontá-lo esta tarde, no início da sessão plenária, para que o presidente do parlamento tenha a oportunidade de o fazer.

"Eu creio que essa é a oportunidade principal, vamos ver se o presidente da Assembleia da República aproveita a oportunidade", disse.

Rui Rocha convidou ainda Augusto Santos Silva a fazer "uma reflexão profunda sobre a sucessão de episódios em que está envolvido", falando em "perda de autoridade, em que não consegue impor a condução dos trabalhos como deve acontecer", tentando depois recorrer a mecanismos "de autoridade formal".

"O senhor presidente da Assembleia da República apresenta-se como um líder de fação, mais preocupado com a sua agenda política do que propriamente com a dignidade dos trabalhos", acusou, ressalvando que não está a defender "práticas inaceitáveis de determinado grupo parlamentar" e que as condena totalmente.

Questionado se não tem nada a dizer em relação ao Presidente da República, que também aparece no vídeo e aparenta concordar com as palavras de Santos Silva, Rui Rocha salientou que, na segunda-feira, teve uma audiência "amistosa e cordial" com Marcelo Rebelo de Sousa, na qual não houve "nenhum tipo de comentário" sobre a postura que a IL iria assumir na sessão com Lula.

"Quero acreditar que, nesse caso, não se trata de uma adesão àquilo que foi dito, trata-se de um momento menos feliz. Temos a responsabilidade de ser contundentes com quem tem responsabilidades em determinadas circunstâncias, mas também não devemos tornar isto num momento incendiário da vida política", disse.

Em causa estão declarações de Augusto Santos Silva num vídeo publicado na quarta-feira à noite pelo canal Parlamento, nas quais diz que "aquilo que a Iniciativa Liberal decidiu fazer [na sessão com o Presidente brasileiro, Lula da Silva], não é nada" porque "há sempre quem faça pior".

No vídeo, Santos Silva surge sorridente a contar o incidente com o Chega na sessão de boas-vindas ao Presidente do Brasil no plenário da Assembleia da República, numa roda em que estão também o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o secretário-geral do parlamento, Albino Azevedo Soares, entre outros.

Entretanto, o presidente da Assembleia da República lamentou a divulgação de "uma conversa informal e privada" tida com o primeiro-ministro e o chefe de Estado no parlamento e nega ter atribuído à IL falta de integridade política, salientando que falou em "maturidade política" e não "integridade política" conforme tinha sido apresentado nas legendas do vídeo.

TA (JPS/PFM) // JPS

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