As provas europeias de futebol têm regulamentos pouco flexíveis quanto ao adiamento de jogos, contexto que, no limite, pode castigar os clubes portugueses com sanção de derrota em caso de carência de policiamento nos estádios.
O FC Porto receberá os ingleses do Arsenal para a primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões em 21 de fevereiro, na véspera de o Sporting enfrentar os suíços do Young Boys no segundo jogo do play-off de acesso aos ‘oitavos’ da Liga Europa, fase na qual o campeão nacional Benfica e o Sporting de Braga começam por ser anfitriões dos franceses do Toulouse e dos azeris do Qarabag já no dia 15 deste mês, respetivamente.
“Antecipo como possibilidade que os clubes possam vir a ser punidos com a sanção de derrota se não houver um jogo em Portugal a contar para qualquer competição europeia por ausência de policiamento. Isso implicaria mexer com os calendários de equipas que jogam em outros campeonatos, mas que não terão necessariamente de se reajustar. Eu acredito que seja possível que a competição pura e simplesmente siga em frente. Não é que fosse o cenário ideal, mas também não vejo solução”, admitiu à agência Lusa José Miguel Albuquerque, advogado e líder da Associação Portuguesa de Direito Desportivo.
No sábado, a receção do Famalicão ao Sporting foi o único encontro da 20.ª jornada da I Liga a ser adiado para data indeterminada, por causa da falta de elementos da PSP no estádio, que foi motivada pela súbita entrega de um elevado número de baixas médicas.
Essa posição foi tomada após protestos em Lisboa e no Porto das forças de segurança, que reivindicam a atribuição de um suplemento de missão igual ao da Polícia Judiciária.
Perante o risco de que essa escassez de policiamento se alastre aos duelos dos clubes portugueses das provas europeias, José Miguel Albuquerque ilustra a irredutibilidade da UEFA com a ‘queda’ prematura do Tottenham na Liga Conferência Europa em 2021/22.
Os ingleses tiveram um surto de covid-19 no plantel antes da receção ao Rennes, mas o organismo assumiu que o clube deu falta de comparência nesse decisivo jogo da última ronda do Grupo G e atribuiu-lhe pena de derrota por impossibilidade de reagendamento.
“A UEFA é bastante mais inflexível nestas questões de disciplina. Se não dá, não dá, os clubes são sancionados assim e seguimos em frente. É óbvio que, depois, haveria muita discussão sobre se os clubes tinham culpa e o que podiam fazer. Penso que estamos a navegar num cenário bastante improvável [em termos continentais], mas não sei se será assim tão improvável a não realização de mais jogos de várias provas no país”, admitiu.
Além do Famalicão-Sporting, as competições tuteladas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) assistiram no domingo ao adiamento dos encontros entre Leixões e Nacional e do Feirense com o Académico de Viseu, ambos para a 20.ª ronda da II Liga.
“Curiosamente, esses desafios foram disputados a norte e até relativamente perto um do outro no plano geográfico, mas houve policiamento por esse país fora [durante o fim de semana] e com vários exemplos na região norte, tais como Chaves e Vizela [onde foram realizadas partidas do escalão principal no domingo]”, apontou José Miguel Albuquerque, associado sénior da sociedade de advogados Telles.
O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, mandou abrir no sábado à noite um inquérito urgente aos acontecimentos relacionados com o escasso policiamento no embate de Vila Nova de Famalicão, após a LPFP ter feito essas exigências ao Governo.
Reivindicando respeito pelo futebol profissional nacional, o presidente da Liga de clubes, Pedro Proença, garantiu que o organismo vai até às últimas consequências para apurar responsabilidades pelo adiamento do Famalicão-Sporting, tendo repudiado os incidentes verificados no exterior do recinto, onde os ânimos se exaltaram e houve pessoas feridas.
“As forças da autoridade podem e devem fazer lutas pelos direitos que entenderem, mas poderiam ter feito isso de outra forma, nomeadamente antecipando logo que não haveria jogo nem polícias destacados, pelo que nem valeria a pena alguém se dirigir para ali. Se calhar, teríamos evitado alguns dos problemas e imagens que vimos. Não quero com isto dizer que a ausência de polícias justifica aqueles comportamentos. É óbvio que não, mas teríamos evitado toda a deslocação dessa massa de pessoas para um sítio que se torna rapidamente num contexto de risco e insegurança”, completou José Miguel Albuquerque.
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