O Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, considerou hoje que a final da Taça de Portugal em futebol de 1969, que opôs a Académica ao Benfica, “fintou a ditadura” do Estado Novo e foi “o prenúncio do 25 abril”.
“Aquela final de 1969 foi especial, fintou a ditadura e marcou muitos golos. No campo ganhou o Benfica, mas fora dele quem ganhou foi cada um de nós. Sabíamos, em Coimbra e em todo o país, que algo ali tinha começado”, disse Tiago Brandão Rodrigues durante a sessão evocativa da final da Taça de Portugal da época 1968/69 que decorreu na Tribuna do Estádio Nacional.
Antes da intervenção do Ministro, decorreu na Praça da Maratona o descerramento de uma placa evocativa da final das Taça de Portugal de 1968/69 com a presença do titular da pasta da Educação, do secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, e de muitas outras personalidades da vida politica e desportiva, como Manuel Alegre, Roberto Carneiro, Alberto Martins, Rosa Mota, António Simões, Toni, Mário Campos, Pauleta, entre outros.
Na placa que evoca o evento consta a última estrofe do poema de Manuel Alegre – “mesmo na noite mais triste/em tempo de servidão/há sempre alguém que resiste/há sempre alguém que diz não” – que seria cantado originalmente por Adriano Correia de Oliveira e musicado por António Portugal.
“Ouvi o relato do jogo no estrangeiro por estar no exílio. Há uma frase dita pelo treinador da Académica [Francisco Andrade] aos seus jogadores antes do jogo se iniciar: ‘vão jogar e falem por um país que não pode falar’”, disse Manuel Alegre à agência Lusa acerca da relevância política da final da Taça de 1969.
Para o antigo deputado socialista, a equipa da Académica, nesse dia 22 de junho, “deu expressão ao que era a luta estudantil contra a ditadura e integrou-se nela completamente, contagiando um estádio lotado com 60 mil espetadores”.
Na sua intervenção, o ministro Tiago Brandão Rodrigues considerou que a Académica foi “um símbolo da luta estudantil que contaminou o clube” e exaltou os seus “audazes jogadores, a maioria dos quais estudantes da Universidade de Coimbra, que fizeram história em 1969”.
“Nessa final, o regime temeu que os estudantes de Coimbra pudessem chegar a Lisboa e contaminar toda a população”, disse o ministro da Educação, que elogiou o então presidente da Associação Académica de Coimbra, Alberto Martins, ex-ministro da Justiça, que desafiou o então presidente da República Américo Thomaz ao pedir a palavra a 17 de abril de 1969 na inauguração do edifício de Matemáticas da Universidade de Coimbra.
A palavra foi-lhe negada e a cerimónia terminou abruptamente, com Alberto Martins a ser preso nessa mesma noite à porta da Associação de Estudantes, o que espoletaria um protesto de centenas de estudantes em frente à sede da polícia política, a PIDE, e uma carga policial sobre os manifestantes.
O discurso de Alberto Martins foi um dos pontos altos do programa de comemorações: “Essa equipa [da Académica] demonstrou um sentido de respeito e de honra nesse dia 22 de junho e foi o símbolo de revolta e da contestação dos estudantes de Coimbra. Nessa altura, Portugal era um país atrasado, com 40 por cento de analfabetos, envolvido numa guerra colonial, isolado do resto do mundo, sob uma ditadura e com polícia política”.
Segundo Alberto Martins, o regime abanou com o espoletar da luta estudantil e temeu que a final da taça de Portugal de 1969 se tornasse numa gigantesca manifestação contra o regime.
“A tensão que se vivia no estádio era grande, a GNR a cavalo cercou o estádio nacional, os agentes da PSP com cães eram visíveis por todo o recinto, as bancadas infiltradas de agentes da PIDE. Se as coisas corressem mal, o regime ia intervir, tal como o tinha feito no dia 18 abril quando reprimiu a manifestação de estudantes à porta da PIDE quando fui preso”, disse.
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