
Um novo modelo de gestão de clubes de futebol tem vindo a ganhar força no panorama desportivo mundial. Os MCOs — sigla inglesa para Multi Club Ownership, ou Propriedade Multi-Clube — traduzem-se na detenção ou controlo de vários emblemas por uma única entidade, transformando profundamente o ecossistema futebolístico.
Um dos casos mais emblemáticos desta nova realidade é o da Eagle Football Holdings, liderada pelo milionário norte-americano John Textor, e que conta com dois portugueses no centro da operação: Alexandre Costa e Hugo Ribeiro.
Em plena preparação para o último jogo da fase de grupos do Botafogo, no Mundial de Clubes, ambos conversaram com a Sportinforma e abriram as portas dos bastidores do universo que gravita em torno de John Textor.
Alexandre Costa, o papel invisível que ergue o Botafogo
O nome de Alexandre Costa pode ser desconhecido para muitos adeptos brasileiros, mas para os do Botafogo é hoje um dos sinónimo de modernização, ambição e competência. Como COO (Chief Operating Officer) da SAF Botafogo, o português tem liderado um conjunto de transformações profundas na infraestrutura, operação e posicionamento do histórico clube do Rio de Janeiro, agora sob alçada do grupo de Textor.

Com uma vasta experiência — foi diretor de operações do FC Porto durante 17 anos —, Alexandre Costa chegou ao Brasil em 2013, onde esteve envolvido na gestão de estádios icónicos como o Maracanã e o Allianz Parque, bem como em projetos internacionais em Montevideu e Buenos Aires. Desde julho de 2022 à frente da operação do Botafogo, encontrou um clube em crise, desgastado por anos de instabilidade financeira e ausência de títulos.
"O nosso foco tem sido colocar o Botafogo no lugar de onde nunca deveria ter saído: o topo do Brasil e da América do Sul. Criar condições de excelência para os atletas, melhorar a experiência dos adeptos, rentabilizar os ativos do clube e garantir uma gestão eficiente dos recursos", explicou à Sportinforma.
Entre as melhorias lideradas por Costa destacam-se a instalação de iluminação LED, a requalificação das áreas VIP e Premium, melhorias na oferta de alimentação e bebidas, implementação de conectividade 5G e wi-fi, e ainda a introdução de um relvado sintético FIFA Quality Pro, com cortiça portuguesa e sistema de irrigação dinamarquês.

O Estádio Nilton Santos, que estava subaproveitado, tornou-se uma referência para grandes concertos — mais de 20 desde 2022, com nomes como Coldplay, The Weeknd, Taylor Swift ou Bruno Mars.
"Mais do que melhorar instalações, o objetivo foi profissionalizar toda a operação. Hoje temos um modelo sustentável, moderno e adaptado às exigências do futebol global", reforçou o dirigente.
A sua atuação vai além da infraestrutura: é também responsável por toda a operação logística da equipa profissional, promovendo uma cultura de excelência reconhecida por jogadores, treinadores e staff. O resultado está à vista: em apenas três anos, o Botafogo é campeão brasileiro e sul-americano, voltando a ser um dos nomes mais respeitados do continente.
"O futebol brasileiro tem um potencial incrível, mas precisa de estrutura, planeamento e visão de longo prazo. É isso que procuramos trazer com este projeto", rematou.
Hugo Ribeiro: o arquiteto silencioso da estratégia desportiva global
Se Alexandre Costa está ligado diretamente ao sucesso visível de um clube, Hugo Ribeiro opera nos bastidores da estratégia global da Eagle Football.
Integrado na estrutura central da holding, o português coordena a ligação entre os vários clubes do universo Textor — Botafogo, Lyon, Molenbeek e Crystal Palace — na área da gestão desportiva.
Com um percurso consolidado no Benfica, onde passou por áreas como a formação e as relações internacionais, Hugo é hoje um elo fundamental na definição de políticas de scouting, recrutamento de treinadores e análise de mercado.
"O nosso papel é garantir que todos os clubes beneficiam da partilha de conhecimento, recursos e talento. Trabalhamos para criar uma rede integrada que potencie cada ativo e cada oportunidade", explica Hugo Ribeiro.
A sua influência é notória na aposta em treinadores portugueses: no Botafogo passaram Luís Castro, Bruno Lage e Artur Jorge, e atualmente é Renato Paiva quem comanda a equipa. No Lyon, está em funções Paulo Fonseca, outro rosto do futebol luso.
"Portugal tem profissionais altamente qualificados, e temos procurado levar essa competência para outros contextos. O nosso trabalho é identificar onde essas ideias podem ser aplicadas com sucesso", sublinhou.
A sua atuação é transversal e estratégica, contribuindo para a sinergia entre clubes, a partilha de modelos de jogo, a identificação de talentos com potencial para circular entre emblemas, e o reforço de uma identidade comum sem retirar a especificidade cultural e desportiva de cada clube.
Discretos, mas fundamentais
A ligação lusa ao projeto Eagle Football é mais do que simbólica. Representa o reconhecimento da competência portuguesa num setor onde a globalização exige rigor, visão estratégica e capacidade de adaptação. Alexandre Costa e Hugo Ribeiro são parte fundamental de uma nova forma de entender o futebol: mais profissional, mais global, mas também mais exigente e sustentável.

São eles os rostos discretos — mas determinantes — de uma revolução silenciosa no futebol mundial.
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