Os clubes portugueses estão a perder terreno na observação e contratação de jovens talentos nas academias de formação brasileiras, «viveiros» que alteraram a forma como funciona o mercado do «futebolista brasileiro».
«Numa conversa que tive com colegas de trabalho que estão em Portugal comentava que achava estranho os clubes portugueses não virem captar mais jogadores no Brasil, porque o Brasil continua a ter jogadores de grande qualidade», disse o português Renato Matos, coordenador de prospeção e captação do Desportivo Brasil, em entrevista à agência Lusa.
O Desportivo Brasil é uma das principais academias de formação de futebolistas no Brasil, campeão sub-17 no Estado de São Paulo, um dos mais competitivos do país, e só forma atletas sub-15, sub-17 e sub-20, que depois coloca em clubes de primeira linha, com o direito a uma percentagem dos passes.
«Temos vários jogadores a ser avaliados na Europa e curiosamente só um jogador foi em avaliação ao FC Porto. Temos jogadores em avaliação no Anderlecht, no Lille, no Manchester City, no Manchester United, na verdade Portugal está a esquecer-se de um mercado muito bom e o resto da Europa - Inglaterra, França, Bélgica - continua a acreditar nesse mercado», afirmou Renato Matos, antigo técnico da formação do Sporting, na Academia de Alcochete, e da Geração Benfica, em Alverca.
Renato Matos, que durante dois anos treinou no Sporting uma geração de jogadores como Bruma, Ricardo Esgaio, Eric Dier, Betinho ou João Mário, considera que os clubes portugueses estão desatentos face a uma nova realidade.
«Vocês estão a dormir! Há aqui jogadores com uma capacidade técnica, e neste momento com uma cultura tática, já muito avançada para aquilo que era o jogador brasileiro antigamente», referiu.
O responsável disse acreditar que as academias de formação estão a dar ferramentas táticas aos jovens talentos brasileiros para que o tempo de adaptação ao futebol europeu seja quase nulo. E os clubes europeus podem poupar milhões, apostando num jogador a quem falte um ano de formação em detrimento de um «jogador feito».
«Durante muitos anos os jogadores brasileiros que entravam em Portugal não tinham qualidade suficiente. Os clubes portugueses vêm buscar jogadores ao Brasil por um determinado preço, de qualidade mediana, e por esse preço conseguiriam vir buscar um jogador com muita qualidade, um pouco mais novo e continuar a sua formação no clube, nos juniores, transitando para o plantel sénior um ano depois», salientou Renato Matos.
O mais recente caso de sucesso da formação do Desportivo Brasil é o de Bruno Gomes, avançado de 17 anos seguido por vários clubes europeus e que está perto de ingressar no Manchester United de Inglaterra, com quem o Desportivo Brasil tem uma parceria. Outra das parcerias é com um clube de Portugal: o Estoril-Praia.
«É quase como um elo de transição dos nossos jogadores para a Europa. E certamente não é por acaso que o Estoril-Praia sobe para a I Liga, no mesmo ano em que sobe faz o quinto lugar que lhe dá acesso à Liga Europa», considerou Renato Matos.
Neste momento já há jogadores do Estoril-Praia que têm «o ADN do Desportivo Brasil», adiantou Renato Matos, citando os casos do guarda-redes Vagner, o médio Gladestony e de Carlos Eduardo - contratado esta época pelo FC Porto. «Fizeram toda a formação no Desportivo Brasil», disse.
Outro jogador que passou por Portugal com o “código genético” da academia do Desportivo Brasil foi Ismaily, que esteve uma época no Sporting de Braga e foi transferido para o Shaktar Donetsk.
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