É certo que na ilha, por estes dias, ainda faltam camisolas do avançado com o número 20 do FC Porto, algo que não desanima os amigos, muitos dos quais adeptos do rival Benfica, mas também incondicionais fãs do agora ponta de lança portista.
É o caso do seu primeiro treinador, Manuel Dinis, que a Lusa encontrou no bairro de Lém, cidade de São Filipe, a caminho de mais um treino na equipa de futebol da terra onde o vulcão, a mais de 2.000 metros de altitude, continua ativo.
“O Zé Luís era muito pequenino e andava sempre atrás de nós, pedia para jogar. Dizia-me sempre, ‘Manel, quero jogar, quero jogar’. No primeiro dia em que o coloquei a jogar tomou conta do campo e nunca mais foi para o banco, com 13/14 anos. Era um miúdo talentoso, uma maravilha”, recorda.
O então treinador da equipa de sub-17 da Associação Académica do Fogo, hoje com 51 anos, arriscou e lançou Zé Luís a jogar juntamente com o irmão, Lucas, depois de uma primeira passagem pela Europa, onde esteve em testes aos 10 anos. Treinou-o depois durante duas épocas, há mais de uma década.
Desde a primeira hora que ficou a convicção: “Toda a gente sabia que era um miúdo que não ia ficar por aqui”.
“Na terra do vulcão temos orgulho neste rapaz”, conta ainda o treinador, enquanto abre a porta da sede do clube para mostrar as fotografias de Zé Luís, hoje com 28 anos, em destaque nas paredes do edifício.
José Luís Mendes Andrade, ou simplesmente e desde criança no futebol de São Filipe apenas Zé Luís, passou pelo Gil Vicente e pelo Sporting de Braga até se transferir, esta temporada, dos russos do Spartak de Moscovo para o FC Porto, sendo, ao fim de 11 jornadas, o segundo melhor marcador da Liga portuguesa, com seis golos.
“Fico muito encantado agora. Eu sou benfiquista de coração, no dia em que ele marcou o golo [primeiro golo da vitória do FC Porto no Estádio da Luz] fiquei contente e triste, porque tive oportunidade de ver o Zé Luis a singrar no futebol português”, conta, emocionado o ainda treinador da antiga filial na ilha do Fogo da Associação Académica de Coimbra, de Portugal.
Também Joaquim Jack, de 54 anos, tio de Zé Luís e figura central no bairro de Lém, confessa-se orgulhoso pelo percurso e por o sobrinho ser “o mesmo rapaz” de sempre.
“Quando vem cá nas férias acompanha-nos. Mas bebidas não”, brinca.
Destaca que já em criança, ao dar os primeiros passos no futebol, em São Filipe, o atual goleador do FC Porto não desperdiçava oportunidades, destacando-se pela cabeça e faro para o golo: “Qualquer buraquinho que surja, já está”.
“O Zé Luís nasceu para o futebol. No meio dos outros mais velhos ele sempre se destacou”, conta o tio, enquanto a mãe, Maria José Mendes, confessa já estar habituada a ouvir os comentários no bairro.
“São bons comentários. É bom jogador, bem-educado. Continua a ser igual, tenho muito orgulho no meu filho, muito amigo da sua mãe”, conta.
Patrick Dinis, um ano mais velho que Zé Luís e benfiquista ferrenho, vibra agora com os sucessos do seu antigo vizinho no bairro de Lém. Com a camisola que o amigo lhe ofereceu quando ainda jogava na Rússia no ombro, Patrick recorda os tempos em que jogava à bola com Zé Luís.
“Toda a gente sabia do potencial que ele tinha, mas também, como tudo, era preciso ter sorte e inteligência. Mas entre nós, ele destacava-se”, admitiu.
Patrick conta que Zé Luís é hoje uma “grande influência” para os jovens da terra, por, a partir daquele pequeno bairro da remota ilha do Fogo, ter chegado a “uma equipa grande”. E por isso também um “exemplo”.
“E hoje é amigo de toda a gente nesta zona. Vem sempre ter com os amigos”, explica ainda.
Foi também no bairro de Lém que Adilson Cardoso, hoje com 41 anos, conheceu o “rapaz” Zé Luís. Chegou a ver jogar o agora internacional cabo-verdiano, que descreve como “o orgulho” da terra, pelo percurso desportivo.
“Era bom de cabeça. Quando o via jogar sabia que tinha talento para chegar a uma equipa mais forte. É um orgulho para nós”, atira Adilson, enquanto espera pela camisola 20, azul e branca, da próxima vez que Zé Luís regresse a São Filipe.
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