Várias personalidades do Vitória de Setúbal assinaram um manifesto em que defendem que “aceitar a insolvência da SAD e avaliar corretamente a viabilidade do clube” é o caminho a seguir para enfrentar a crise que assola os sadinos.
Depois de ser relegado pela I Liga para o Campeonato de Portugal, por incumprimento dos pressupostos financeiros, figuras como o histórico presidente Fernando Pedrosa e a antiga glória do clube Carlos Cardoso entendem que a refundação é a única via para voltar a haver um clube respeitável.
“Aceitar a insolvência da SAD e avaliar corretamente a viabilidade do clube – são os primeiros pressupostos da reconstrução do nosso Vitória e o único caminho para um futuro sustentável”, defende o manifesto, enviado à Lusa.
O documento refere que a dívida acumulada pela SAD, bem como o facto de a equipa estar arredada da I Liga, e das receitas inerentes a essa prova, tornam o futuro insustentável.
“O passivo da SAD, superior a 30 milhões de euros, torna-a economicamente inviável e desinteressante para investidores sérios. Temos de aceitar que a SAD está condenada à insolvência e que a vinda de um milionário salvador é pura ilusão”, consideram.
A situação do próprio clube, que é “incapaz de honrar os seus compromissos”, também é preocupante, como ilustra o facto de ter um “passivo superior a 10 milhões” de euros, refere o documento.
“A situação é de tal forma grave que, se o clube não conseguir, nos próximos meses, um encaixe de, pelo menos, cinco milhões de euros, para prover ao cumprimento das obrigações mais imediatas, corre o risco de sucumbir logo aos primeiros pedidos de insolvência que possam ser apresentados por credores”, alertam.
Expostos os números, os 16 assinantes do manifesto reforçam a ideia de que um recomeço é a melhor solução para fazer face a “duas décadas de declínio, em que o Vitória deixou de ser o emblema respeitado que era no panorama nacional”.
“Pode haver mais futuro num Vitória refundado, sem dívidas, do que na continuação do atual modelo, em que a situação apenas se agrava. Com a refundação podemos ter o clube de volta às competições profissionais em três anos, enquanto na situação atual, sem as receitas da TV e sem as certidões da AT [Autoridade Tributária] e SS [Segurança Social], que serão obrigatórias a partir da próxima época, até para o Campeonato de Portugal, em breve voltamos aos distritais, ainda mais pobres e mais atrasados”, dizem.
Em caso de refundação, os vitorianos que assinaram o manifesto acreditam que o clube pode, num futuro próximo, voltar às competições nacionais.
“Se formos competentes, mesmo num cenário de refundação, o Vitória pode contar com ativos que nos permitem acreditar numa rápida ascensão aos nacionais. Com uma história de 110 anos, quase 10 mil sócios pagantes e uma das mais pujantes místicas do país, o Vitória, limpo de passivo, voltará a ser um dos mais consistentes clubes nacionais”, vaticinam.
Os signatários do manifesto anteveem que as eleições para os órgãos sociais, que estão agendadas para 18 de outubro, não vão conseguir congregar os sócios de modo a que o clube se reerga.
“Ao contrário do que seria desejável, o processo eleitoral em curso mostra-se incapaz de gerar uma solução de unidade, ou, pelo menos, minimamente consensual e merecedora de uma sólida confiança dos sócios, de entusiasmar os adeptos e de envolver os parceiros institucionais de que o Vitória precisa para se reerguer”, vincam.
Numa altura em que o empresário Paulo Rodrigues é o único candidato assumido à presidência, o manifesto apela ao líder da Mesa da Assembleia Geral, Cândido Casimiro, para “convocar um novo processo, nos termos adequados a uma melhor solução, designadamente com mais tempo e oportunidade para que os sócios possam debater previamente o futuro do clube em Assembleia Geral”.
“Em nome do futuro, os sócios, todos nós, temos de ser mais exigentes do que nunca para, desta vez, assegurar que o Vitória FC consegue uma direção o mais consensual possível, com as pessoas mais idóneas e competentes, que assumam o compromisso de avaliar a situação económica e financeira do clube, em prazo razoável, de poucos meses, para permitir que possam ser os sócios a decidir, de forma esclarecida, sobre a viabilidade do clube”, lê-se.
Os signatários do manifesto sublinham a importância de deixar o Vitória de Setúbal, que celebra 110 anos de existência desde a data da sua fundação (20 de novembro de 1910), em condições dignas para as gerações futuras.
“Temos de ter noção de que antes da glória está a honra e que só com um projeto respeitável podemos voltar a ter um clube respeitado. Temos a obrigação de honrar o legado dos nossos antepassados e de estar à altura dos que construíram o clube, para, com o que resta – que não é pouco – saber reerguer o Vitória e deixa-lo em condições dignas para as gerações vindouras”, refere o documento assinado, entre outros, por Fernando Pedrosa, Carlos Cardoso, Mário Moura, Eugénio da Fonseca, Luís Fuzeta da Ponte e Francisco Alves Rito.
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