Sérgio Conceição está de regresso a Portugal para treinar o Olhanense e em entrevista ao SAPO Desporto acedeu a comentar o momento atual do futebol português.
Sem “papas na língua”, como é seu hábito, o antigo internacional português começa por afirmar que «o futebol português tem qualidade» e lembra que em Portugal sempre existiram «grandes jogadores e treinadores».
Ainda assim, ressalva, há problemas que tardam em ser resolvidos, e menciona o caso dos jovens valores portugueses que continuam sem espaço para atuar nos relvados nacionais.
«Em termos de organização ainda falta alguma coisa, mas isso é resultado da gestão que tem sido feita, nomeadamente na federação. O modo como geriram o futebol português não foi o melhor. Temos muito valor ao nível da formação, mas depois não aproveitamos esse trabalho.»
Também Sérgio diz sentir-se injustiçado pelo modo como foi afastado do futebol português, nomeadamente da seleção nacional, e mais uma vez aponta baterias à direção da Federação Portuguesa de Futebol, à altura liderada por Gilberto Madaíl.
«Nunca houve uma explicação para a minha saída e hoje fico surpreendido, estupefacto até, quando ouço o Sr. Madaíl dizer que fui uma das figuras das seleções durante os seus mandatos. Se se tivesse lembrado disso antes não me tinha tirado mais quatro ou cinco anos de seleção.»
Ainda assim, diz que o desacordo com as anteriores políticas estão longe de ser apenas uma questão pessoal e aponta outros «problemas».
«Não concordo com a naturalização de jogadores brasileiros, que tiram lugar a jovens portugueses de valor, assim como não posso aceitar ter-se escolhido um selecionador brasileiro quando temos tantos treinadores de qualidade. Com isto não posso estar de acordo.»
O atual treinador do Olhanense diz ainda que os casos mais recentes de Bosingwa e Ricardo Carvalho são também resultado da má gestão que era vigente na FPF e lamenta que tenha sido o selecionador a carregar esse “peso” às costas.
«Só quem está dentro da seleção pode explicar os casos Ricardo Carvalho e Bosingwa. Mas é resultado da gestão que houve na federação. Não se pode deixar tudo nas costas do selecionador. Durante os últimos anos aconteceram muitos casos na seleção e quem assumiu sempre a responsabilidade foi o selecionador. Isso não pode acontecer. O selecionador está para treinar e não é dirigente», reitera, salientando que embora Paulo Bento seja soberano na decisão, ele, Sérgio Conceição, gostava de ver Carvalho e Bosingwa de novo de quinas ao peito.
«Se me perguntar se gostava de voltar a ver Ricardo Carvalho e Bosingwa na seleção, respondo que sim, claro, pois são duas mais-valias para a equipa.»
Com ou sem os dois atletas, Sérgio acredita que Portugal vai fazer um bom Europeu e que nem o grupo com Alemanha, Holanda e Dinamarca vai impedi-lo.
«Vamos fazer uma boa campanha. O Paulo está bem identificado com o grupo, fez um bom trabalho, embora difícil. Quanto ao grupo que nos calhou, é difícil, mas por vezes é contra os chamados grandes que entramos mais concentrados e conseguimos fazer os melhores jogos», afirma, lembrando o caso do EURO2000, em que Portugal bateu Inglaterra, Roménia e Alemanha e chegou às meias-finais.
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