A Jordânia irá defrontar o Qatar este sábado na final da Taça Asiática, naquela que é a primeira presença da equipa jordaniana no jogo decisivo da competição. A campanha da Jordânia na Taça da Ásia é ainda mais notável se se tiver em conta o estado decrépito das infraestruturas do futebol e as dificuldades financeiras de equipas e jogadores naquele país
Até este ano, a melhor participação da Jordânia na Taça da Ásia foi uma presença nos quartos de final em 2004 e 2011. A seleção árabe ocupa nesta altura o 87º lugar do ranking de seleções da FIFA, e nunca esteve presente num Campeonato do Mundo.
Na Jordânia existem esperanças que, independentemente do que aconteça no sábado em Doha, o trajeto dos jordanianos na Taça da Ásia possa significar um ponto de viragem para um país com 11 milhões de habitantes, e totalmente obcecado por futebol.
Todavia, os feitos da seleção nacional mascaram problemas profundamente enraizados no seu país, com a falta de dinheiro no futebol doméstico a ser o maior obstáculo.
O principal campeonato nacional na Jordânia, a Pro League, é profissional, mas os salários são de tal forma baixos que os jogadores são obrigados a arranjar um segundo emprego no ramo da segurança ou em escritórios governamentais na capital Amã.
Dezasseis dos jogadores presentes atualmente na Taça da Ásia jogam na liga doméstica da Jordânia, já outros alinham na Arábia Saudita, Líbano, Iraque, Malásia ou Qatar. Mousa Al-Tamari é o único a jogar na Europa, nos franceses do Montpellier.
A falta de dinheiro no futebol jordaniano é de tal ordem, que o prémio para os jogadores que se sagrem campeões nacionais é de apenas 60.000 dinares (cerca de 78.000 euros).
"As finanças dos clubes não existem", disse Menem Fakhoury, secretário-geral do Al-Jazeera, clube do campeonato jordaniano.
"Os proprietários das empresas devem ser convencidos a investir nos clubes. Fora dos grandes clubes tradicionais podem-se passar vários meses sem pagamento de salários, pois esses clubes não têm os meios financeiros necessários", afirmou o dirigente, acrescentando que o dinheiro no futebol jordaniano é atualmente mais direcionado para a seleção nacional.
Samar Nassar, secretária-geral da associação de futebol de Jordânia, reconhece que o país enfrenta muitos desafios no que ao desenvolvimento do desporto diz respeito.
"Precisamos de infraestrutura e do setor privado para apoiar a seleção nacional. Mas os clubes são a base. Precisamos de apoio para o futebol doméstico como um todo e uma reavaliação de muitas questões", enfatizou Nassar.
O setor privado está a apoiar a seleção nacional, com bancos, por exemplo, a oferecer recompensas financeiras aos jogadores por chegarem à final. Mas Nassar sublinha: "Esperamos que apoiem o processo como um todo, e que o apoio não seja limitado apenas para quando a seleção nacional está a ter sucesso".
Após a sua impressionante vitória por 2-0 nas meias-finais diante a Coreia do Sul, o selecionador da Jordânia, Hussein Ammouta, fez um apelo neste mesmo sentido.
"Precisamos de investir em infraestruturas, na formação e na formação dos nossos jogadores, por forma a para alcançar níveis mais altos. Precisamos de prestar atenção às categorias etárias", disse.
Neste âmbito, uma mudança na legislação governamental é vista como uma possível forma de melhorar a situação atual do futebol jordaniano. Atualmente, os clubes operam sob o 'guarda-chuva' do Ministério da Juventude. Além dos apelos para o envolvimento do setor privado, o governo está agora sob pressão para encontrar mais dinheiro para o futebol nacional, numa economia já por si em dificuldades.
"A pressão sobre o governo relativamente à necessidade de ver esta conquista (na Taça da Ásia) e construir sobre a mesma está a aumentar", disse o jornal jordaniano Al-Ghad, que classificou a passagem da seleção nacional à final da competição como "uma conquista nascida do sofrimento"
"O governo está a prestar atenção?" perguntou ainda a publicação. Este, na véspera da final, respondeu com uma contribuição de um milhão de dinares para a federação nacional de futebol.
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