Fernando Santos vai assumir o cargo de selecionador polaco de futebol, após um legado como 'conquistador' em Portugal, vencendo o Euro2016 e a Liga das Nações, em 2019, num percurso de oito anos que não gerou consenso.

Seguindo as pisadas de Paulo Sousa, que também orientou os polacos, Fernando Santos 'herda' uma Polónia que se ficou pelos oitavos de final do Mundial2022, em que liderou os lusos até aos 'quartos', com o 'astro' Lewandowski à cabeça e a ambição de se elevar da mediocridade que tem mostrado em torneios internacionais recentes.

A Federação Polaca virou-se, assim, para o técnico de 68 anos, com vasta experiência a liderar Grécia (2011-2014) e Portugal (2014-2022) em fases finais e qualificações, com duas conquistas, Euro2016 e Liga das Nações, a abrilhantarem um currículo que é, também, o dos dois troféus da seleção portuguesa sénior, ainda que o futebol jogado tenha gerado muita discussão.

No cargo desde 2014, quando sucedeu a Paulo Bento, Fernando Santos despediu-se da equipa das ‘quinas’ em dezembro, na sequência da eliminação nos quartos de final do Mundial2022, no Qatar, perante Marrocos (1-0), uma derrota difícil de aceitar, apesar de ter sido a terceira melhor prestação de Portugal na maior prova global de seleções.

Não obstante, o técnico ficará eternizado na história do futebol português, através das conquistas que ninguém antes dele conseguiu obter, aproveitando a grande qualidade que teve ‘em mãos’ durante pouco mais de oito anos ao serviço da equipa portuguesa, com a qual totalizou 67 triunfos em 109 encontros, tornando-se recordista em ambos.

Embora nunca consensual pelos adeptos lusos, face às críticas ao estilo ‘conservador’ – que recusava ter -, Fernando Santos logrou vencer logo no seu primeiro teste de ‘fogo’, o Europeu2016, arrebatado de empate em empate, à exceção do jogo das meias-finais.

Portugal empatou todos os jogos do grupo, face a Islândia (1-1), Áustria (0-0) e Hungria (3-3), e, ‘bafejado’ pela sorte, qualificou-se como terceiro classificado – na primeira vez em que isso foi possível -, e derrotou Croácia (1-0, após prolongamento), Polónia (1-1, 5-3 nas grandes penalidades) e País de Gales (2-0), até Éder virar ‘herói’ na final, diante da França, e apontar o golo que derrotou a seleção anfitriã, aos 109 minutos do duelo.

Fernando Santos ganhou ‘crédito’ junto dos adeptos com o maior feito do futebol luso, mas as críticas voltariam à tona no Mundial2018, com a eliminação aos pés do Uruguai nos oitavos de final (2-1), ronda precoce do torneio para o campeão europeu vigente.

A mais jovem competição continental de seleções, a Liga das Nações, teve a sua edição inaugural no ano seguinte e Fernando Santos assumiu desde logo a intenção de vencer o cetro, o que conseguiu, ainda por cima numa ‘final a quatro’ disputada em Portugal, desta vez resolvido com um golo de Gonçalo Guedes, frente aos Países Baixos, por 1-0.

Visto por muitos como o melhor conjunto de jogadores de sempre, a seleção nacional voltaria a ‘fracassar’ no Euro2020, disputado em 2021 devido à pandemia de covid-19, com nova ‘queda’ nos ‘oitavos’, agora perante a Bélgica (1-0), depois de ultrapassar o grupo, mais uma vez, no terceiro posto, atrás da líder França e da Alemanha, segunda.

Este ano, no Mundial2022, para o qual teve de se apurar através do ‘play-off’, uma vez que perdeu a qualificação direta para a Sérvia, Fernando Santos assumiu o objetivo de voltar a fazer história e tornar Portugal, pela primeira vez, campeão do mundo, mas o sonho esbarrou na ‘surpresa’ Marrocos, numa edição marcada por várias polémicas à volta de Cristiano Ronaldo, que viria mesmo a perder a titularidade na fase a eliminar.

Antes de assumir o cargo em Portugal, Fernando Santos tinha-se tornado um treinador de referência na Grécia, ao comandar o AEK Atenas (onde venceu uma Taça da Grécia, em 2001/02), o Panathinaikos e o PAOK Salónica, até chegar à seleção helénica, que treinou durante quatro anos e levou, em fases finais, ao Euro2012 e ao Mundial2014.

Fernando Santos e a Grécia alcançaram os quartos de final do torneio europeu, onde ‘caíram’ frente à Alemanha (4-2), após um apuramento sem derrotas, e aos ‘oitavos’ do Mundial, disputado no Brasil, eliminados nas grandes penalidades pela Costa Rica.

Intercaladas com as aventuras em solo grego, Fernando Santos assumiu os cargos de treinador de Sporting e Benfica, fazendo com que se tenha tornado apenas o quarto a orientar os três ‘grandes’, pois já tinha assumido a alcunha de ‘engenheiro do penta’ no FC Porto, ao concluir, no último dos cinco anos (1998/99), o feito inédito dos ‘azuis e brancos’, adicionando duas Taças de Portugal e duas Supertaças Cândido de Oliveira.

Para além dos ‘grandes’ - um pleno no qual se juntou a Jesualdo Ferreira, ao brasileiro Otto Glória (que também orientou a seleção portuguesa) e ao chileno Fernando Riera -, Fernando Santos passou pelo Estrela da Amadora, tendo iniciado a carreira no Estoril Praia, onde transitou, em 1986/87, de defesa central para a equipa técnica do clube.

Com raízes familiares na localidade de Sorgaçosa, pertencente ao concelho de Arganil, Fernando Santos licenciou-se em engenharia eletrónica e telecomunicações, em 1977, durante a sua carreira de futebolista, onde conquistou a segunda divisão, pelo Estoril, e agora vai conhecer novo país na carreira, a Polónia, com 'casa' em Varsóvia, no Estádio Nacional.